DEPUTADO CRISTIANO SILVEIRA (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 10/04/2025
Página 57, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas VET 19 de 2025
VET 20 de 2025
19ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 8/4/2025
Palavras do deputado Cristiano Silveira
O deputado Cristiano Silveira – Obrigado, presidente, nobres colegas. Deputado Leleco Pimentel, vou citar V. Exa. no meu discurso. Eu queria dizer, deputado Leleco, que os indignados são indignados seletivos, não é? Eles não se indignavam na época em que o avião da comitiva presidencial tinha cocaína; eles não se indignavam na época em que o presidente Lula tomou a vacina, enquanto o outro deixou 700 mil pessoas morrerem por falta dela. Inclusive, tinha aquela história de cobrar U$1,00 por dose de vacina. O senhor se lembra disso? Os indignados de hoje não eram indignados quando negociavam verbas no MEC com barra de ouro. O senhor se lembra disso? Os indignados de hoje não ficaram indignados quando joias foram dadas de presente. Tentou-se vender joias em troca das refinarias brasileiras. Cadê os indignados? Indignação seletiva, para mim, não serve. Indignação seletiva, não! Para mim, não vale. Como se diz, tem que ser coerente em todo e qualquer momento. Então eu queria aqui fazer esse registro porque tem parlamentar que gosta de fazer um conjunto de acusações ao governo do presidente Lula e, quando era apoiador do governo passado de Jair Bolsonaro, não dava um pio – psiu! –, silêncio sepulcral. Como é que fala? Silêncio sepulcral quando essas coisas aconteciam – e ainda acontecem, não é? Bem, então esse é um ponto que eu queria dizer.
Outro ponto da minha fala de hoje é com relação a essa manifestação que aconteceu em São Paulo, na Av. Paulista, onde foram vários governadores de direita. Você sabe o que os governadores de direita estão fazendo lá, Leleco? Eles não foram lá dar apoio para quem precisa de anistia, esse negócio todo, não. Você sabe o que aquela turma estava fazendo lá? Disputando quem vai ser herdeiro do espólio político eleitoral de Jair Bolsonaro. Porque, na cabeça deles, eles torcem para Bolsonaro continuar inelegível (– Ri.) – alguns talvez até isso – e ficam ali lambendo-o e dizendo: “Você é lindo, é o grande líder” para ver se o Bolsonaro o pega no colo e ele vira sucessor dele, herdeiro do espólio político, entendeu? Você está achando que Zema, Caiado, Tarcísio, Ratinho, enfim, aquela turma toda foi lá fazer o quê? Oh, moço, nós, que somos da política e conhecemos a política, sabemos que os caras estão torcendo para ele continuar inelegível para depois falarem assim: “Olha, eu estive do seu lado. Você viu, não é? Nós fomos lá ser solidários, não é? Então, quem sabe, pinga aí alguma coisinha para mim e você lembra de mim na hora dessa discussão do aspecto nacional”. E no caso do Zema, o trem é mais patético ainda. (- Ri.) Sabe por que é patético? É por causa disso aqui. Veja bem, deputado Leleco, como são as coisas.
Vamos lá, Romeu Zema, 8/1/2023: O que aconteceu no dia 8/1/2023? A tentativa de golpe, a invasão lá do Supremo, invasão dos três poderes. E o que o Zema colocou no Twitter dele? Vejam o que Zema escreveu: “Em qualquer manifestação, deve prevalecer o respeito”. Deputado Bosco, veja bem: “É inacreditável o vandalismo ocorrido hoje em Brasília. A liberdade de expressão não pode se misturar com depredação de órgãos públicos. No final, quem pagará seremos todos nós”. Romeu Zema, em 8/1/2023. Agora, Romeu Zema vai lá para Av. Paulista falar: “Não, eu defendo a anistia. Tem que anistiar, tem que dar anistia para os pobres e os coitadinhos. Era só manifestação”. Oh, gente! É o desespero de tentar voltar para uma agenda do debate nacional. Então eu repito: ele não foi lá prestar solidariedade, empatia nem para Bolsonaro, nem para sorveteiro, nem para pipoqueiro, nem para a dona do batom, nem para nada! É só pegar a fala de Zema, em 8/1/2023, e o que ele está fazendo agora para ver se sobra uma beiradinha para ele na discussão do debate nacional. Você entende um negócio desse? (– Intervenção fora do microfone.) Ah… Não dá, não!
É claro que, em relação a isso aí, você vai falar assim: “Oh, Cristiano, mas você está surpreso por quê? Você mesmo já cansou de falar, na tribuna, que Zema falava de acabar com mordomia, e deu o benefício fiscal para amigo empresário; de acabar com privilégio, e deu 300% de aumento para ele; é contra o aumento de imposto, e aumentou o ICMS. Não vai usar a aeronave, só voo comercial. Não, usa os aviõezinhos do governo. Mas por que você está surpreso, deputado?”. É verdade, não sei nem por que eu estou surpreso, não sei nem por que eu estou surpreso… Me surpreende é o povo mineiro, a sociedade não perceber essas coisas, sabe? Eu já falei aqui, na semana passada, que o Zema fala e não fica cinco segundos de pé. Então é isso, foi para lá. Anistia e tudo mais.
Gente, estou vendo a pesquisa do Datafolha, e a maioria do povo brasileiro é contra a anistia. A maioria é contra a anistia. E a maioria acha que o Bolsonaro tem que pagar, e preso. A maioria. Está no Datafolha. Então a parte da sociedade que está tentando defender esse negócio não está conectada com o sentimento do povo brasileiro. O povo brasileiro não é trouxa, sabe o que aconteceu. Aí os puxa-sacos de Bolsonaro tentam entrar na narrativa: “Não, é o popcorn, é o ice cream”. Aquele inglês meio Joel Santana dele. Popcorn, ice cream, batom. Vocês sabem como a gente chama isso? Cortina de fumaça. Prestem atenção, não tem nada a ver com o batom. “Perdeu mané”, batom na estátua. Em que pese isso ser crime, poderia estar qualificado em outras questões se não tivesse associação criminosa, pelo contexto de tentativa de golpe. Não é porque o cara estava acampado lá e disse que estava vendendo sorvete. Isso é cortina de fumaça. Nós estamos falando de pessoas do alto escalão do governo, nós estamos falando do próprio presidente, nós estamos falando de generais, nós estamos falando de minuta de golpe que foi impressa. Na coletiva, o advogado do Bolsonaro olhou para ele assim e quase caiu para trás. “Não, porque eu vi a minuta do golpe mesmo” – não sei o quê –, “porque eu queria saber do que se tratava.” Admitiu e assumiu. É disso que nós estamos falando. Nós estamos falando de tentativa de assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin, do ministro Alexandre de Moraes. Não tentem reduzir essa questão ao fato de ter sido uma cabeleireira com batom, um pipoqueiro, um sorveteiro. Cortina de fumaça. E Bolsonaro não quer anistia para essas pessoas. O que Bolsonaro quer é anistia para si próprio, porque sabe que o que ele fez é muito grave. O que ele e o seu staff mais próximo fizeram é muito grave, é crime, é atentado contra a democracia. É crime!
E vou dizer a vocês: se isso não tivesse sido impedido, quem estava preso seríamos nós – eu inclusive, como parlamentar de esquerda, sem dúvida alguma. Eles queriam a volta do regime militar, da ditadura. Gente, você ouve a fala dos policiais do Distrito Federal que estavam naquele 8 de janeiro, acuados. Eles falam da violência que sofreram. Não eram senhorinhas com a Bíblia na mão, não era um monte de gente que estava rezando. Para com isso! É só pegar as imagens do que aconteceu naquele dia. É só pegar. É só pegar tudo isso que foi contado por Mauro Cid e por outras pessoas que já delataram o grande esquema. Então não vêm com essa cortina de fumaça, não. O povo brasileiro sabe que tem responsabilidade, e tem responsabilidade grave de quem cometeu esse tipo de crime.
Então eu quero aqui demarcar a posição clara com relação a isso. Está certo? Saudosistas da ditadura, saudosistas de Brilhante Ustra. Bolsonaro tinha que ter sido preso naquele dia, no dia do golpe contra a Dilma, naquele voto. Como você dá um voto num momento daquele, fazendo homenagem a torturador? Hã? Saudosista da ditadura. Eles querem isso. São os corpos, é a botina, é o gás, é a prisão, é o exílio, é a tortura, é a morte. Ainda bem que isso foi impedido, ainda bem.
Leleco, seria muito mais grave do que foi em 1964. Está certo? Então olha só, não vem com essa, não. Eu não vi o Bolsonaro, hora nenhuma, ir visitar a turma que estava presa. Nem ele, nem os filhos dele. Passeando nos Estados Unidos, continuando a andar no seu jet ski, fazendo os seus eventos. Gente, esse cara só se preocupa com ele. Ele só se preocupa com ele e com a família dele. Tudo o que ele faz é preocupado com ele e com a família dele. Quando o calo apertou para o Flávio Bolsonaro, o que ele fez com o próprio Sergio Moro? Pôs para fora, porque estava dizendo que a Polícia Federal não o estava obedecendo, que tinha que reportar-lhe as questões relacionadas à operação. Ou vocês já se esqueceram disso? Eu não. Eu tenho memória boa e não esqueço, não.
Então é isso. Uma parte da minha conversa é relacionada a esse papelão que Romeu Zema fez. O presidente Lula visita Minas Gerais; vem cá, junto com uma grande empresa, anunciar investimentos no nosso estado. O presidente Lula já esteve aqui em outras oportunidades. Mas ele preferiu correr para a Avenida Paulista, para puxar saco de golpista, para ver se sobra um tentozinho para ele, para tentar celebrizar qualquer coisa na eleição de 2026. Patético!
A outra parte da minha fala tem a ver com a nossa agenda aqui, com o que está na pauta, na nossa ordem do dia para esta semana. São os vetos. Olha, gente, eu estou, de maneira incansável, vindo para a tribuna, gravando vídeo, conversando nas câmaras municipais. Está aqui a vereadora Michelly. Eu quero lhe agradecer, vereadora, porque você sempre foi uma grande lutadora em defesa dos autistas, das pessoas com deficiência e porque novamente está aqui, na Assembleia, lutando. A sua luta incansável é a nossa luta. Eu preciso fazer esse reconhecimento e esse agradecimento público a esse trabalho que você vem fazendo. Para você, assim como para mim, a causa não tem cor partidária, a causa não está condicionada à ideologia, seja do campo da esquerda ou da direita, ela é muito maior, e você tem essa compreensão. É por isso que eu lhe agradeço; agradeço, do fundo do coração, por toda a sua disposição, amizade e luta junto conosco.
Graças a Deus, o povo de Belo Horizonte a colocou lá, na Câmara, para também pautar no âmbito municipal. Pode contar comigo! Nas pautas que forem importantes, você conte comigo. Eu quero fazer esse registro da vereadora Michelly Siqueira, vereadora de Belo Horizonte e lutadora da nossa causa. Aliás, vereadora e deputados, estamos nessa luta incansável, de subir à tribuna para sensibilizar os colegas deputados e para sensibilizar, quem sabe, até o próprio governo.
Gente, eu vou repetir, presidente Tadeu: nós estamos no mês de abril, mês de conscientização do autismo. Nessas datas, a gente anuncia programas, anuncia investimento, anuncia política pública. O que Romeu Zema está anunciando para o povo de Minas Gerais, da comunidade dos autistas e das famílias atípicas? Veto! Veto à criação dos centros regionais que já estão previstos na lei que nós aprovamos e que ele sancionou; veto à criação de uma política para cuidar de quem cuida, que normalmente são mulheres, são as mães solo; veto à possibilidade de criar curso de terapia ocupacional e de fono na Uemg e na Unimontes, que já têm estrutura de curso de saúde, as quais não teriam tanto trabalho de compor as equipes pedagógicas docentes.
São vetos sob qual razão? Não há uma razão técnica. A razão é extremamente política, talvez porque seja um parlamentar da esquerda. Ele não olha se é um pai atípico, que luta pela inclusão; ele olha apenas se é alguém que diverge dele do ponto de vista político. Não me interessa a disputa ideológica com relação a esses assuntos com ele. Eu farei sobre outros temas, como tenho feito, mas, quando se trata disso, esta assembleia tem feito essa demonstração.
Nós, desde o PT até o PL e os partidos de centro, sempre quando se trata de projetos que são de interesse do povo, nós votamos juntos. Já votei várias matérias de colegas parlamentares que pensam diferente de mim no campo ideológico, assim como eles também já votaram em várias matérias que nós aqui apresentamos. É isso que o governo tem que entender. Existem pautas e agendas que são muito maiores do que as nossas contingências políticas e opções do campo ideológico que fazemos.
A respeito desse assunto, a única coisa que nos interessa é derrubar essas emendas, essas emendas ao PPAG e à LOA, para que elas estejam garantidas na organização do plano de governo e também no orçamento do Estado, para que a gente possa avançar na inclusão, porque, infelizmente, no nosso estado, isso não tem acontecido.
Eu já disse que, às vezes, o governo está querendo dizer: “Mas o CER tem funcionado para o atendimento”. Os Cercis, que estão lá nas Apaes, não estão funcionando. Você não consegue montar a equipe, e, quando monta a equipe, você não consegue os tratamentos de forma adequada: a terapia é uma vez a cada 15 dias ou uma vez por mês, com 30 minutos de duração. Não estão funcionando!
Acho tão engraçado, porque, se o problema for do ponto vista orçamentário, o governo tem gasto com tanta coisa, com tanta coisa que, sinceramente, não é tão importante! Vemos o governo dobrar a verba de publicidade, de R$70.000.000,00 para R$140.000.000,00, para fazer propaganda de si mesmo. É mais importante que cuidar dos autistas? É mais importante que cuidar dos autistas o governo gastar, como já repeti aqui, mais de R$7.000.000,00 com cardápios luxuosos? O governo dar isenção bilionária para os seus amigos é mais importante que o autista? O governo aumentar o seu próprio salário em 300% é mais importante que cuidar de autista, de pessoas com transtorno de neurodesenvolvimento?
Não se trata também de questão orçamentária. Não se trata disso. Então eu quero que me digam. Quero que alguém da base do governo pegue o microfone e venha dizer o seguinte: “Cristiano, você sabe porque nós temos que manter o veto?” “É por esse, por esse e por esse motivo”. Por favor, que alguém assim o faça, e não apenas oriente o voto: “A orientação do governo é votar “sim” à manutenção”. Não, não faça isso – não faça isso. Que nos seja dada pelo menos uma razão, pela menos uma resposta, pelo menos um argumento. O mínimo de respeito que a gente merece é que nos digam porque não podem votar conosco pela derrubada desses vetos. Pelo menos isso, para nos dar a oportunidade de diálogo.
Agora, se não tiver argumento, libere os deputados, libere as bancadas, porque tem um monte de colega aqui que está dizendo que quer votar conosco, mas que está tendo muita pressão por parte do governo. Isso não é justo, não com o deputado Cristiano, e nem sequer com o meu próprio filho, porque hoje ele tem um pai que tem condição de garantir os tratamentos. O que nós estamos fazendo é para quem precisa; é para aquela mãe que vive de benefício para os filhos mais pobres; é para as pessoas mais pobres; é para os trabalhadores. Eles têm que ter direito ao atendimento mínimo que nós conseguimos oportunizar para os nossos.
Não adianta falar que somos pais atípicos, que temos pessoas com deficiência na nossa família, porque, quando é para lutar por aqueles que não têm o que nós temos, nós não lutamos, porque a vida dos nossos já está resolvida. Temos de resolver a vida dos filhos dos outros, do povo de Minas Gerais, que é quem nos colocou aqui. Então estarei aqui hoje à noite, estarei aqui amanhã, estarei aqui até o final, porque a luta pela inclusão é inegociável. Obrigado, presidente.