Pronunciamentos

DEPUTADO ANDRÉ QUINTÃO (PT)

Discurso

Critica a atitude do governador Romeu Zema de recorrer à Justiça para tentar impedir a votação de projetos da pauta, o que seria uma tentativa de pressão sobre os deputados para votar o projeto de lei que autoriza o Estado a aderir ao Regime de Recuperação Fiscal - RRF. Declara posição favorável ao projeto de lei que determina o congelamento, no âmbito do Estado, da tabela de referência dos valores dos veículos nacionais e importados, para fins de cálculo do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores - IPVA -, relativa ao ano de 2020.
Reunião 30ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 3ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/12/2021
Página 20, Coluna 1
Assunto ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL. ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS (ALMG). EXECUTIVO. FINANÇAS PÚBLICAS. IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (IPVA).
Observação Pandemia coronavírus 2020.
Proposições citadas PL 1202 de 2019
PL 3278 de 2021
PL 3409 de 2021

Normas citadas DLB nº 2776, de 2021
DCS nº 13, de 2021

30ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 15/12/2021

Palavras do deputado André Quintão

O deputado André Quintão – Boa tarde, presidente. Boa tarde, deputadas e deputados, telespectadores que acompanham a TV Assembleia.

Quando o governador Zema, no apagar das luzes do trabalho legislativo, sinalizou a intenção de beneficiar parcialmente a população mineira, ou parte dela, com uma solicitação de autorização para efetuar um desconto no reajuste do IPVA para 2022, confesso que uma dúvida pairou para mim: quer o governador de fato beneficiar aquelas pessoas que têm um veículo usado e que, por questões de mercado, teve uma supervalorização e, portanto, com a atualização do preço do veículo pelo preço médio de mercado, uma referência da tabela Fipe, poderia fazer com que esse reajuste fosse de até 22%, 25%, e o governador sinalizou sua intenção de reduzir para o IPCA? Eu me perguntei: será que o governador quer isso ou, sabendo que a pauta está travada pelo Regime de Recuperação Fiscal, está jogando para a plateia? Ele sinaliza que quer fazer isso como instrumento de pressão sobre a Assembleia, ou para a Assembleia acelerar a votação do Regime de Recuperação Fiscal? Ou, caso a Assembleia não o faço, traga o desgaste para o presidente da Assembleia e para o conjunto dos deputados e deputadas? Fiquei com essa dúvida.

Não gosto de fazer prejulgamento. Até imaginei: poxa, se o governador queria isso, poderia já ter enviado essa iniciativa há mais tempo.

O presidente da Assembleia, com o seu corpo técnico, observado o Regimento, observada a Constituição Estadual, observada a nossa prática durante a pandemia, achou o caminho de beneficiar a população mineira votando por um rito já usualmente utilizado na Assembleia, o rito Covid, com lastro na declaração nas redes sociais, nas entrevistas do governador, que justificou em função da questão da Covid. Achamos o caminho de votar. Obviamente, havendo um projeto já discutido nas comissões, pronto para ser votado em 1º turno, do deputado Bruno Engler, o projeto do governador foi apensado a ele, que, obviamente, beneficia muito mais a população.

Eu, como relator, fiz um relatório com alguns aperfeiçoamentos, mas acolhendo o conteúdo original do deputado, que é exatamente o valor de 2021 prevalecer para 2022, o congelamento, porque a inflação de alimentos é superior a 10%, porque o aumento de combustíveis foi muito superior a 10%, porque o desemprego aumentou, porque a perda na renda média durante a pandemia para os extratos beirou a 30, 40%, porque a arrecadação do Estado aumentou em função dos combustíveis. Era isso que votaríamos ou vamos, aliás, votar.

Para nossa surpresa, a minha indagação foi respondida e o foi com as ações do governo, que, depois que a Assembleia achou o caminho de votar o projeto do IPVA sem ter de votar o Regime de Recuperação Fiscal, judicializou a questão, uma vez que o quórum aqui foi obtido.

Imagino, presidente, deputado Ulysses Gomes, o diálogo do primeiro escalão do governo neste final de semana. Algum assessor iluminado disse: “Governador, vamos mandar um projeto de cunho popular, que agrade a opinião pública, para colocar a Assembleia contra a parede, por exemplo, o IPVA, a diminuição do IP... Aí esses deputados vão ver. Vão ter de votar o Regime de Recuperação Fiscal”. Aí chegou o secretário da Fazenda, preocupado com as finanças públicas: “Não, não podemos aprovar isso, porque vai significar receita congelada”. Aí, alguém falou: “Não, isso não é para valer, não! O Regime de Recuperação Fiscal está lá. Se eles votarem será muito bom para nós, mas, se não votarem, ficaremos de bonzinhos, e a Assembleia, com o desgaste”. Aí fizeram a reunião, o conluio deles lá. “Não. Então, vamos mandar.”

A Assembleia tem responsabilidade. A Assembleia tem massa pensante. A Assembleia tem funcionários, deputados, deputadas e o presidente dedicados, que pensam na população, tanto é que já havia um projeto pronto para ser colocado em Plenário. A Assembleia achou o caminho regimental. A Assembleia colocou esse projeto para ser votado, seguindo rigorosamente o rito Covid, dentro de um contexto de pandemia em que o próprio Estado está em estado de calamidade já reconhecido, dentro de uma deliberação da Mesa e do Colégio de Líderes. O presidente Agostinho Patrus mencionou: votamos 70 projetos dessa forma, inclusive o Auxílio Emergencial Mineiro. Votamos 12 projetos do próprio governador.

Olha, a resposta à minha indagação, Dr. Hely, foi dada pela ação judicial do governador. Ele não tinha intenção de beneficiar a população com o IPVA. Ele blefou, ele queria jogar o desgaste nas costas da Assembleia. Caiu o véu. A farsa agora está mostrada. Eu tenho muitos mandatos aqui. Eu não me lembro de tentativas de impedir votação do Legislativo nessas últimas legislaturas. Não me lembro. Imagine que feio, governador, o senhor tuíta que quer beneficiar o povo mineiro, e a Assembleia acha o caminho. “Não, gente, era só para pressionar a Assembleia para votar o Regime de Recuperação Fiscal, não era para valer, não.” E a população onde fica, deputado Cleitinho? Onde fica a população? Essa é a minha pergunta.

Eu acredito no Poder Judiciário, eu acredito que vai prevalecer a questão interna corporis, que vai prevalecer a autonomia do Poder Legislativo. Eu acredito, e nós vamos votar, e nós vamos aprovar, mas a população mineira vai saber: era jogo de cena do governador. Ele não queria congelar ou diminuir o valor do IPVA. Ele estava usando da necessidade daquela pessoa que tem que pagar um imposto caro, um seguro caro, um combustível caro, que às vezes tem dificuldade de manter o seu veículo, veículo às vezes usado para o trabalho. Está usando o sofrimento das pessoas para uma disputa política menor. Ele tem de ganhar o debate sobre o Regime de Recuperação Fiscal é dentro das quatro linhas, não é no tapetão, que aliás aqui é histórico, tombado, por onde passou muita gente de luta como, por exemplo, nossa querida deputada Sandra Starling, que infelizmente faleceu nessa noite.

Então, presidente, conte com o Bloco Democracia e Luta, conte com a Bancada do PT. Povo mineiro, conte conosco. Congelamento do IPVA já!