Move também é motivo de reclamação em Santa Luzia
Usuários reforçam problemas do sistema de ônibus na RMBH em mais uma audiência sobre o tema da Comissão de Transporte.
09/06/2015 - 22:30 - Atualizado em 10/06/2015 - 10:50Criado para solucionar boa parte dos gargalos do transporte público em Belo Horizonte e Região Metropolitana, o Sistema BRT Move, sigla em inglês para “Bus Rapid Transit”, ou Transporte Rápido por Ônibus, parece dar mais dor de cabeça do que satisfação aos usuários. Na noite desta terça-feira (9/6/15), a Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou mais uma audiência pública sobre o tema, desta vez em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Em pauta, os inúmeros problemas apresentados pelo sistema, conforme os vários relatos de usuários apresentados ao longo da reunião. O debate atendeu a requerimento da deputada Cristina Corrêa (PT). No dia 19 de maio, a mesma comissão realizou audiência pública sobre o assunto, mas destinada a debater o funcionamento do sistema em Matozinhos, na RMBH. O mesmo tema, o uso de ônibus em corredores exclusivos, sobretudo na Capital, também foi debatido na ALMG no dia 19 de março, pela Comissão de Participação Popular, com a presença maciça de usuários do sistema.
Durante a reunião, lideranças comunitárias da região entregaram uma carta de reivindicações aos deputados. Segundo o documento, desde outubro do ano passado, quando começou a ser instalada a infraestrutura do Move Metropolitano na Avenida Brasília, um dos principais corredores de trânsito da cidade, foram feitas várias reuniões com dirigentes da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), com pouco progresso quanto às 14 reivindicações apresentadas.
Entre a lista de demandas dos usuários do transporte público em Santa Luzia estão, por exemplo, a criação de novas linhas, alto preço das tarifas, a instalação de sanitários, de nova iluminação e ainda reforço no policiamento da estação provisória, aumento do quadro de horários das linhas alimentadoras da mesma estação até os bairros adjacentes, retorno dos agentes de bordo nos veículos, ampliação do tempo de integração tarifária e, ainda, reuniões mensais de reavaliação do sistema.
No total, 12 lideranças assinam o documento, representando os bairros São Benedito, Cristina, Conjunto Cristina, Conjunto Confisco e Palmital. Uma comissão de usuários também foi formada ao final da reunião para tentar dar um melhor encaminhamento às reivindicações, sobretudo nas iniciativas que possam ser intermediadas pela Assembleia de Minas.
Uma faixa visível no auditório do Sesc durante a audiência pública dava bem a ideia da insatisfação de quem usa o sistema na região de Santa Luzia: “Um ano de Move! Parabéns Rodap, Setop e Prefeitura pelos transtornos causados! #Amigos da Comunidade!”. Até mesmo um pequeno documentário em vídeo relatando os problemas do Move Metropolitano foi exibido para reforçar os argumentos.
Diálogo - “Os problemas enfrentados são muitos grandes. Quem está aqui sabe bem o que é essa longa jornada de Santa Luzia para Belo Horizonte. A população merece um transporte público de qualidade, rápido e confortável. Não foi discutido com a população como o Move seria implantado. Essa discussão que está acontecendo aqui hoje deveria ter acontecido há muito tempo atrás, por iniciativa dos responsáveis por implantar o sistema. Estamos tentando agora, por meio do diálogo, buscar soluções para os problemas”, resumiu a deputada Cristina Corrêa, que comandou a reunião.
“O Move, do jeito que está, é mais uma das heranças do governo anterior que estamos tentando corrigir. O fato é que o Move aumentou o tempo de deslocamento. Na minha cidade, Contagem, não foi diferente. Ninguém aguenta mais, e precisamos começar a propor e, sobretudo, implementar soluções, de preferência aquelas que podem ser rapidamente efetivadas”, destacou a deputada Marília Campos (PT).
Já o deputado Professor Neivaldo (PT), que é do Triângulo Mineiro, destacou que o transporte público é cada vez mais um desafio nos grandes centros urbanos, garantindo seu apoio na luta pela melhoria do Move Metropolitano.
Apesar de aniversário, passageiros não têm o que comemorar
Coube a Marcos Roberto de Souza, representante das Associações e dos Usuários de Transporte Coletivo de Santa Luzia, reforçar, logo na abertura da reunião, as reclamações dos usuários. “O Move já fez aniversário, pois começou a funcionar em 26 de abril de 2014, e ao longo deste primeiro ano os problemas persistem. É o caso do terminal provisório, que já está se tornando permanente. Ele recebe uma grande circulação de pessoas, mas não tem estrutura para isso, e por isso vive problemas de higiene e de segurança. Nós esperamos respostas, mas elas têm que vir mais rápido. Elas estão sendo cobradas e vão continuar a ser”, garantiu.
Na mesma linha, a vereadora por Santa Luzia, Suzane Duarte Almada, também foi enfática nas reclamações, lembrando as audiências anteriores realizadas pela ALMG. “Até agora o Move só garantiu os interesses dos donos das empresas. Precisamos inverter esse jogo. A sede do nosso município foi atendida primeiro pelo Move, e na ocasião os moradores da região do São Benedito mal sabiam ainda dos problemas que enfrentariam. Ainda assim, temos esperança que o sistema possa melhorar e dar algum alívio, pelo menos até conseguirmos a extensão do metrô, este sim uma solução definitiva”, ponderou.
Leonardo Ribeiro Gomes, também morador da região, fez coro. “Faz parte da cultura politica brasileira as coisas virem de cima para baixo. A implantação do Move foi um exemplo disso. Definitivamente, ele não atende atualmente às nossas expectativas. Ar-condicionado nos veículos não basta. A estação provisória, e essa palavra não é sinônimo de precariedade, foi instalada na calada da noite, para fazer propaganda para a Copa do Mundo”, denunciou.
Soluções - A superintendente de Transporte Metropolitano da Setop, Aneliza de Souza Braga, em resposta às inúmeras críticas ao Move Metropolitano, garantiu ser possível fazer de imediato pequenos ajustes para melhorar o sistema. Segundo ela, já estão em estudo inclusive ajustes maiores, medidas que devem começar a surtir efeito já no começo do ano que vem.
Representante do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) e do Consórcio Ótimo, Eduardo Enham Lima falou em nome da empresa Rodap, uma das responsáveis pelos ônibus que trafegam no Move Metropolitano em Santa Luzia. Ele disse que a empresa está aberta a ouvir e implementar, na medida do possível, as reivindicações apresentadas. Contudo, lembrou que o Move Metropolitano é operado na forma de um consórcio, com várias empresas, e, na maioria das vezes, é preciso primeiro discutir a infraestrutura para o funcionamento do sistema, que cabe primeiro ao poder público equacionar, antes de concentrar as críticas simplesmente nos ônibus.
Por fim, com relação ao incremento da segurança e ao apoio do poder público municipal, o major Evair dos Santos, subcomandante do 35º Batalhão da Polícia Militar, e o secretário de Trânsito e Transporte de Santa Luzia, Schneider Carvalho, também hipotecaram seu apoio aos usuários do Move Metropolitano, garantindo que está aberto o canal de diálogo.