Incertezas sobre Ballet Jovem angustiam componentes do grupo
Bailarinos e profissionais continuam atuando informalmente e não são remunerados.
07/05/2015 - 14:59Integrantes do Ballet Jovem do Palácio das Artes repudiaram o que chamam de descaso da Fundação Clóvis Salgado (FCS) com o grupo, que desde março deste ano está com suas atividades suspensas. A exclusão de profissionais renomados do projeto e o não pagamento das bolsas aos bailarinos são alguns dos problemas que foram discutidos durante audiência da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quinta-feira (7/5/15).
De acordo com a bailarina Caroline Rodrigues, em março deste ano os bolsistas foram comunicados sobre o fim do Ballet Jovem, com a justificativa de falta de verbas para manter o projeto. De acordo com ela, em abril, após uma série de tratativas para reverter a questão, os bailarinos e profissionais conseguiram voltar ao espaço destinado ao grupo no Palácio das Artes, onde eles têm se reunido para ensaios e aulas de maneira informal e voluntária, já que há três meses as bolsas de estudo não são pagas.
Ela contou que, em reunião na Cidade Administrativa no início desta semana, os bailarinos e profissionais foram informados sobre uma proposta para solucionar a questão das bolsas, que seriam pagas pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). Na avaliação da bailarina, não se sabe se essa solução abrangeria todos os alunos e profissionais do grupo. “O Ballet Jovem não é só bolsa e espaço. São os profissionais, é a excelência, a história. Pedimos a permanência de um projeto que chegou aonde chegou por causa da importância de cada membro que ali está”, afirmou.
A bailarina Bárbara Cristina de Souza Maia disse que, mesmo após a prorrogação das atividades do Ballet Jovem e a retomada do espaço destinado a eles na FCS, o projeto ainda não voltou efetivamente às suas atividades. Ela ainda disse que, na reunião realizada na Cidade Administrativa, nada foi dito sobre a manutenção de três profissionais que acompanham o grupo e que contribuem para a sua formação.
A bailarina Grécia Catarina Gonçalves da Costa Santos também reivindicou a manutenção do projeto, que, segundo ela, foi interrompido de forma brusca e desrespeitosa.
A falta de diálogo com os integrantes do Ballet Jovem por parte da FCS foi criticada pela mãe de um dos bailarinos, Sônia Denise Ferreira Rocha. “Como se constrói um projeto sem a participação dos principais envolvidos, que são aqueles que o executam?”, questionou. Na sua avaliação, o encerramento das atividades do grupo foi feito de forma repentina. Ela ainda cobrou uma proposta concreta e criticou o fato de a fundação pensar em uma solução para o grupo somente agora, o que, na sua opinião, deveria ter ocorrido antes, com a participação dos alunos e profissionais.
Concurso para contratação de professores é alvo de críticas
Um dos pontos criticados na audiência foi a exclusão de profissionais altamente qualificados que não teriam sido contemplados pelo edital de concurso publicado no fim do ano passado, para recomposição do quadro de professores do Centro de Formação Artística (Cefar), que oferece dois cursos de dança na FCS. O concurso exigiu que os candidatos tivessem licenciatura em dança, o que excluiu vários professores que já atuavam no Ballet Jovem. Segundo a bailarina Caroline Rodrigues, o edital, que se destina somente à contratação de professores, excluiu outros profissionais de “excelência incontestável” das áreas da direção, produção e ensaio.
A professora do Cefar, Paola Rittore, explicou que no fim de 2014, quando foi publicado o edital do concurso para efetivar professores na fundação, a exigência de licenciatura plena por núcleo temático excluiu mais de 80% dos atuais professores, que, dessa forma, não puderam sequer se candidatar às vagas. Ela reclamou que o edital desconsidera a experiência de profissionais que, segundo ela, têm grande qualificação e são convidados para lecionar em grupos famosos de balé no mundo.
Autor do requerimento para a audiência, o deputado Fred Costa (PEN) disse que a exigência do edital para contratação de professores fere o princípio da razoabilidade, pois, ao exigir a licenciatura, pretere os belo-horizontinos e os mineiros, na sua avaliação.
Fundação quer manter atividades de formação e extensão
A gerente de marketing da Fundação Clóvis Salgado, Adriana Barbosa, disse que, dentro da proposta pedagógica do Cefar, está sendo pensada uma maneira de manter as atividades de formação e extensão, onde se enquadraria o Ballet Jovem. A ideia, segundo ela, é incorporar o trabalho do grupo em um núcleo de pesquisa da fundação, o que, de acordo com ela, garantiria a manutenção do seu caráter artístico.
Ainda de acordo com ela, nesta sexta-feira (8) os bailarinos terão um retorno a respeito da situação dos profissionais que acompanham o grupo. Mesmo reconhecendo a importância desses profissionais, ela ponderou ser necessário considerar a possibilidade de agregar novas pessoas ao grupo. Uma nova reunião do Ballet Jovem com representantes da FCS está agendada para esta sexta (8).
Deputados querem solução para o problema
O deputado Wander Borges (PSB) considerou que as negociações para a continuidade das atividades do Ballet Jovem ainda não alcançaram um denominador comum que atenda a todos os lados da questão, apesar de alguns avanços conquistados.
Para a deputada Geisa Teixeira (PT), o significado do Ballet Jovem na vida dos alunos e professores e também da cultura do Estado é de grande importância. Já o deputado João Leite (PSDB) lamentou a falta de diálogo do Governo do Estado com as pessoas da área cultural.
A professora da UFMG Regina Helena Alves da Silva disse que o Ballet Jovem é uma iniciativa inovadora e protagonista no País. Segundo ela, muitos alunos formados pelo grupo serão profissionais de grandes companhias de dança no mundo.