O seminário tinha como objetivos discutir ações de revitalização do Rio São Francisco, redução da pobreza e proteção do patrimônio cultural nas comunidades ribeirinhas - Arquivo/ALMG
O deputado Adelmo Carneiro Leão abriu a programação do evento
Segundo o gerente Evandro Pereira da Silva, janeiro de 2015 é o prazo máximo para iniciar a visitação turística
O analista do Iepha, Rodrigo Faleiro
O Clube Recreativo de Itacarambi recebeu grande público para as palestras do Cidadania Ribeirinha

Seminário de turismo alerta para preservação do Velho Chico

Ação em Itacarambi integra Cidadania Ribeirinha, que em 2015 irá a Januária, São Romão, São Francisco e Buritizeiro.

15/05/2014 - 19:15

A urgência de reforçar as ações de revitalização do Rio São Francisco e de preparação para o maior fluxo de turistas com o início da visitação do Parque Nacional do Peruaçu ditaram o tom das discussões no Seminário de Turismo Sustentável do Projeto Cidadania Ribeirinha, que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promove nesta quinta (15/5/14) e sexta-feira (16) em Itacarambi (Norte de Minas). Na programação, estão palestras e oficinas visando ao fomento do turismo nos municípios do Vale do Peruaçu focadas, sobretudo, na geração de emprego e renda dos moradores de comunidades ribeirinhas.

Aproximadamente 500 pessoas lotaram o salão do Clube Recreativo de Itacarambi, cidade de 17 mil habitantes às margens do Velho Chico, para acompanhar ao longo de todo o dia os debates sobre as perspectivas do turismo na região. Itacarambi é um dos quatro municípios contemplados pelo Cidadania Ribeirinha, projeto que integra o Direcionamento Estratégico da ALMG e contempla populações de 12 localidades neste município e ainda em Manga, Matias Cardoso e Pedras de Maria da Cruz, todos no Norte de Minas. Essas cidades foram escolhidas justamente por apresentarem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre as banhadas pelo São Francisco em Minas Gerais.

Durante o seminário, foi confirmada, ainda, a realização da segunda edição do Cidadania Ribeirinha a partir de 2015, com o apoio de recursos federais, nas cidades ribeirinhas de Januária, São Romão, São Francisco e Buritizeiro, também situadas no Norte de Minas. Isso significará a continuidade da mobilização em torno dos objetivos do projeto, que são a revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco, a redução da pobreza e da desigualdade nas comunidades ribeirinhas e a proteção do patrimônio cultural são-franciscano.

Cidadania - A programação foi aberta pelo 3º vice-presidente da Assembleia de Minas, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), que elogiou o presidente do Legislativo estadual, Dinis Pinheiro (PP) pelo apoio ao Cidadania Ribeirinha. “Ele abriu as portas da Assembleia para este projeto que espero ver chegar à nascente do Rio São Francisco. A Assembleia de Minas merece aplausos por implementar esta iniciativa, que traduz para a realidade um sonho de cidadania que é para o Brasil inteiro”, afirmou.

Sobre a importância da revitalização do São Francisco, Carlos Pimenta (PDT) pregou a organização de uma marcha pelo desenvolvimento das cidades norte-mineiras, em especial as banhadas pelo chamado rio da integração nacional. Ele lembrou o projeto do Governo federal de transposição das águas do rio para abastecer outras áreas do Nordeste brasileiro. “Setenta por cento de volume das águas do Rio São Francisco saem daqui de Minas Gerais. É preciso cuidar do rio aqui sob o risco de não sobrar água para transpor lá em cima”, criticou, lembrando que a quatro quilômetros da sede de Itacarambi já é possível atravessar a pé toda a extensão do leito do rio. Bastante assoreado e já sofrendo os efeitos da temporada seca na região, várias “ilhas” de areia já são visíveis na orla do São Francisco ao longo da sede de Itacarambi.

Já Luiz Henrique (PSDB), ao também reforçar a importância da preservação do rio, lembrou a expedição que “descobriu” o Rio São Francisco, em 1550, classificando este fato como marco da fundação de nosso estado. “Mas de nada adianta o potencial turístico se não o transformarmos em um produto. Para isso, é preciso preservar o rio explorando de forma sustentável”, destacou, elogiando ainda a perspectiva de abertura do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. “Um em cada nove empregos no mundo inteiro é gerado pelo turismo. Já visitei outras cavernas e nunca vi nada comparável em nenhum outro lugar do mundo”, completou Luiz Henrique.

Parque - Com uma área de aproximadamente 58 mil hectares, a entrada do parque está distante apenas 15 quilômetros de Itacarambi. O parque é ainda o epicentro de um polígono com várias unidades de conservação, que tem também os parques estaduais Veredas do Peruaçu, Lagoa do Cajueiro, Verde Grande e, um pouco mais distantes, Caminho dos Gerais, Serra dos Montes Altos, Serra Nova, Montezuma e ainda, na divisa com Bahia e Goiás, o Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Todas as unidades estaduais foram criadas por meio de leis estaduais aprovadas na Assembleia de Minas.

Visitação turística do parque nacional começa até janeiro

O gerente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Evandro Pereira da Silva, anunciou o início da visitação turística na área para, no máximo, até janeiro de 2015. Classificada como unidade de preservação de conservação integral, o parque, atualmente, está recebendo as obras de infraestrutura necessárias para possibilitar a visitação com segurança e sustentabilidade. É o caso da reforma de estradas e trilhas, sinalização e o abastecimento de água e coleta de esgoto.

“O parque já é uma realidade em termos de infraestrutura de visitação. A pergunta mais frequente nesses anos todos foi quando começaria a visitação. Nossa ideia inicial era aproveitar a Copa do Mundo, mas os preparativos atrasaram. Mas com este novo prazo já definido, os municípios precisam começar a pensar nesse prazo”, pontuou. Segundo Evandro, apesar do parque ter sido criado em 1999, era impossível abrir a visitação de turistas antes, sem uma infraestrutura que garantisse a segurança do visitante e a preservação do patrimônio.

Coube a analista técnica do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para a microrregião de Januária, Aline Magalhães, alertar os participantes do seminário do Cidadania Ribeirinha sobre a importância da união dos vários segmentos envolvidos com o turismo para que os cidadãos da região possam usufruir dos benefícios da abertura da visitação do parque. “As cidades da nossa região estão apenas começando a trabalhar em conjunto. As belezas do Peruaçu, nossa porta de entrada dos turistas, falam por si só. Quem tem dúvidas de que o turismo vai mesmo se desenvolver aqui, basta visitar o Peruaçu para se convencer”, apontou.

Investimentos - O prefeito de Itacarambi, Ramon Campos, fez coro. “Esta é uma oportunidade que bate as nossas portas e não estamos dando ainda o valor que a questão merece. As cavernas do Peruaçu chamam a atenção do Brasil e do mundo inteiro”, enfatizou, cobrando mais apoio de investimentos estaduais e sobretudo federais para obras que vão dotar o município das condições necessárias para isso.

“Cabe ao poder público desenvolver políticas públicas. Seria muito triste se não nos preparássemos para receber esses turistas, que vão descer no aeroporto de Montes Claros ou Januária, embarcar em uma van, conhecer o parque e voltar para o aeroporto”, destacou Ramon Campos. Na mesma linha, o presidente da Associação de Câmaras e Vereadores da Área Mineira da Sudene (Avams), Leonardo Pinheiro, reforçou a necessidade de conscientização das comunidades ribeirinhas para garantir a preservação do patrimônio natural da região.

Especialista cobra maior valorização da cultura norte-mineira

O educador e analista de gestão, proteção e restauro do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), Rodrigo Flávio de Melo Faleiro, falou sobre a estética e poética para o desenvolvimento turístico. Em sua participação, ele comparou as características de clássicos da arte universal, como esculturas gregas e pinturas do francês Claude Monet, a manifestações contemporâneas, e exibiu até um clipe da funqueira Valesca Popozuda.

A intenção foi estimular uma reflexão sobre a valorização de itens da cultura norte-mineira, ameaçados em nome de um progresso que ameaça o legado para as futuras gerações. “Falar em sustentabilidade é falar, por exemplo, sobre como diferenciar uma arte boa de outra que não é tão boa. A boa arte vai durar gerações e gerações. Para saber diferenciar isso é preciso lidar com o diferente. Com a abertura da visitação no parque, em breve vocês vão se deparar, na porta de suas casas, com pessoas que falam, vestem e pensam diferente e vão ter que aprender a lidar com isso”, avaliou.

“Mesmo não falando a mesma língua, há uma coisa que nos une, a emoção. Por isso, somente o ser humano tem a capacidade de fazer arte”, completou. Emocionado, ele cobrou uma postura mais ativa dos presentes na preservação do patrimônio cultural e natural dos povos ribeirinhos. “Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis para a vida na ética”, arrematou.

O consultor técnico legislativo de turismo da ALMG e gestor do Circuito Serra do Cabral, também no Norte de Minas, o advogado Eduardo Henrique Oliveira, explicou a evolução das políticas de fomento ao turismo no Estado que culminaram com a instituição dos circuitos turísticos. Nessa escalada, Minas Gerais subiu do 11º para quarto lugar como estado que mais atrai turistas oriundos de dentro do Brasil. “De um modo geral, não damos o devido valor ao que temos. Vamos a outros locais turísticos e achamos tudo lindo. Eu fiquei maravilhado pelas belezas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, mas a região não se resume a isso. Ele será apenas o carro-chefe”, apontou.

Segundo o especialista, a população do Norte de Minas ainda não acordou para todo o potencial do turismo gastronômico, cultural, náutico, da biodiversidade e até do religioso. “Se cochilarmos, em breve eles vão vender lá em São Paulo pacotes para conhecer o parque e o turista vai passar somente um dia aqui, deixando para trás apenas o esgoto e o lixo. Vocês não vão ver nem a cor desse dinheiro”, alertou Eduardo Oliveira.

Hidrovia - A conexão entre o aumento do fluxo de turistas pela visitação nas cavernas do Peruaçu e uma melhor exploração turística do São Francisco foi abordada tanto nas palestras do engenheiro e superintendente da Administração da Hidrovia do São Francisco, Luís Felipe de Carvalho Gomes Ferreira, quanto do capitão-tenente Oziel José Albino, encarregado da Divisão de Segurança do Tráfego Aquaviário, órgão da Capitania dos Portos do São Francisco, com sede em Pirapora. O primeiro traçou um panorama das condições necessários para o funcionamento pleno da hidrovia, enquanto o segundo falou sobre as condições de segurança no tráfego aquaviário.

Por fim, o Circuito Velho Chico foi apresentado por sua gestora política e agente de desenvolvimento do Sebrae/MG, Clevane Moreira Tavares, e pelo monitor ambiental do Parque Estadual do Verde Grande, o turismólogo Leidson dos Reis Nunes. Clevane fez um balanço das ações de fomento do circuito., enquanto Leidson apresentou os principais atrativos do Circuito Velho Chico, que terá o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu como um de seus acervos.

Oficinas dão sequência à programação nesta sexta (16)

O Seminário de Turismo Sustentável do Projeto Cidadania Sustentável terá sequência na manhã desta sexta-feira (16), no Centro Vida e Arte de Itacarambi (Travessa João XXIII, 54). Em linhas gerais, a atividade visa a dar continuidade às discussões promovidas na véspera, proporcionando a troca de experiências e o compartilhamento de informações entre especialistas convidados para o evento e donos de pousadas, restaurantes e bares, além de guias de ecoturismo, artesãos e grupos culturais da região.

Além de Itacarambi, o Cidadania Ribeirinha realizará outro seminário, com o foco em resíduos sólidos, no Sesc de Januária, cidade vizinha a Itacarambi, nos dias 5 e 6 de junho. E até dezembro o projeto também oferece, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), 40 cursos com foco em atividades agrícolas, pastoris, agroindustriais, de promoção social e de turismo. A capacitação busca beneficiar 500 moradores dos quatro municípios contemplados nessa primeira edição do projeto, que começou ainda em 2011 e deve se encerrar no fim deste ano.

A realização do Seminário de Turismo Sustentável tem o apoio da Prefeitura de Itacarambi, Sebrae, ICMBio, Iepha, Administração da Hidrovia do Rio São Francisco, Instituto Estadual de Florestas (IEF), Capitania Fluvial do São Francisco, Circuito Serra do Cabral e Circuito Velho Chico.