Na comunidade Pau Preto, foi iniciado um trabalho para resgatar o uso da cerâmica, prática tradicional da região que há 20 anos não era realizada
Feira de artesanato

Cidadania Ribeirinha inicia ações comunitárias

Atividades, que já tiveram início nos municípios de Manga e Matias Cardoso, serão realizadas em 12 localidades.

22/05/2013 - 14:16

Para engajar as comunidades dos municípios ribeirinhos do Norte de Minas no resgate de suas tradições culturais e na preservação do meio ambiente, o projeto Cidadania Ribeirinha da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realiza as primeiras atividades em campo. As ações, que serão realizadas em 12 localidades, já tiveram início em dois municípios: Manga e Matias Cardoso. Em seguida, elas continuarão em Itacarambi e Pedras de Maria da Cruz. Todas essas cidades ficam às margens do Rio São Francisco.

A execução dessas ações, segundo o gestor do projeto, Márcio Santos, acontece após a qualificação de professores da rede pública local em um curso promovido pelo Sebrae sobre cultura empreendedora. O objetivo é que eles atuem como multiplicadores do conteúdo aos alunos do Cidadania Ribeirinha, que serão estimulados a propor e executar ações nas comunidades. Para o coordenador do projeto, o objetivo dessas ações não é apenas realizar intervenções em larga escala, com mobilização de grandes recursos. Ao contrário, elas pretendem estimular a autoestima coletiva, o espírito empreendedor e protagonista e a conduta de respeito ao meio ambiente e à cultura, por meio de miniprojetos de intervenção comunitária.

Em Manga, as atividades tiveram início com a realização de uma feira para exposição de trabalhos em tecido, bucha, semente, cerâmica, cestaria e materiais recicláveis de 13 artesãos. A feira contou ainda com uma exposição de fotografias realizadas pelos alunos do projeto, que revelaram as transformações ocorridas na cidade nos últimos 50 anos.

Essa iniciativa, para a presidente do Núcleo de Artesanato Cultural Manguense e aluna do projeto, Maria Aparecida de Bião, contribui para a maior valorização do artesanato de Manga, até então pouco valorizado. A partir da feira, segundo ela, houve mobilização dos artesãos e muitos demonstraram interesse em fazer parte da associação. Essa opinião é compartilhada pela presidente da Associação Comunitária da Ilha do Corculho e também aluna do projeto, Rosileide Pereira da Silva. “Começamos muito bem e estamos animados para continuarmos fazendo a feira”, disse, ressaltando também o grande número de visitantes.

Surpreso com os resultados e o envolvimento do participantes, o professor e multiplicador do projeto em Manga, Paulo Robério Ferreira Silva, afirma que a atividade é “uma das experiências mais interessantes em relação ao diálogo entre teoria e prática”. Para ele, as ações permitiram perceber a riqueza sócio-histórica do povo de Manga. “As pessoas querem aprender e são capazes de responder aos desafios”, opina o professor, contestando a ideia de apatia do povo que, muitas vezes, se dissemina no imaginário popular.

Rio São Francisco – Outra atividade realizada no município é o resgate da memória de atividades ligadas ao São Francisco. Foram identificadas fotografias antigas dos vários usos do rio e entrevistados moradores que participaram de torneios náuticos, a exemplo da corrida de canoa, realizada há cerca de 30 anos.

Na localidade de Brejo de São Caetano, a preservação ambiental também foi tema do trabalho coordenado pela professora Kézia Possidônio Silva. Em conjunto com os alunos, foram realizadas visitas aos moradores das margens do Rio Japuré, afluente do São Francisco. O objetivo foi esclarecê-los sobre as maneiras de auxiliar na recuperação do rio com atividades como o reflorestamento ou a proteção da mata ciliar. A turma realizou ainda a coleta de lixo nas margens do Japuré. Nesse trabalho, foram recolhidos objetos como fraldas descartáveis, garrafas pet, latas e sacolas plásticas.

Ações comunitárias também são promovidas em Matias Cardoso

Do outro lado do São Francisco, em Matias Cardoso, foram plantadas 55 mudas de árvores nativas em uma área de 50 metros ao longo da margem do rio.

A dez quilômetros dali, a professora Janaelle Neri iniciou um trabalho na comunidade vazanteira do Pau Preto com o resgate da cerâmica, prática tradicional que há 20 anos não é mais realizada. Para a professora, o incentivo ao aprendizado da produção de cerâmica pelas novas gerações, além de representar o resgate da cultura, representa ainda a possibilidade de aumentar a escassa renda local. “Essa é uma forma de desenvolvimento sustentável, pois possibilita a utilização dos recursos naturais de forma adequada”, explica Janaelle. Segundo ela, a turma produziu cerca de 20 peças.