Antes do início da reunião, alunos da instituição promoveram uma manifestação pacífica em prol da causa da transformação do Cefet em universidade
Convidados falaram sobre a carência de opções de ensino superior na região
A audiência foi realizada em uma igreja, que ficou lotada
Márcio Basílio (à dir.) apresentou o trabalho realizado pela instituição

Mobilização é fórmula para elevação do Cefet a universidade

Comissão de Educação promoveu debate em Leopoldina na terceira audiência da série nas cidades com campus da instituição.

20/06/2013 - 15:35

A reivindicação para que o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) se transforme em universidade tecnológica ganha força a cada dia, sobretudo pelo momento pelo qual passa o País, em que os estudantes estão indo às ruas para defender causas importantes para a sociedade brasileira, como uma educação de qualidade. Esta foi a principal conclusão da audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que debateu o assunto em Leopoldina (Zona da Mata) nesta quinta-feira (20/6/13).

A cidade, que sedia o Campus III da instituição, foi a terceira a ser visitada pelos deputados para discutir o tema. O requerimento para a realização da audiência foi do deputado Bosco (PTdoB), que coordenou os trabalhos. Varginha e Araxá já receberam audiências públicas para debater o assunto. Outros municípios que abrigam campi do Cefet também receberão reuniões: Belo Horizonte, Contagem e Curvelo (Região Central); Divinópolis (Centro-Oeste); Nepomuceno (Zona da Mata); e Timóteo (Vale do Aço).

Antes do início da reunião, dezenas de alunos da instituição, com os rostos pintados, promoveram uma manifestação pacífica em prol da causa da transformação do Cefet em universidade. O deputado Bosco elogiou a mobilização dos estudantes, a exemplo dos protestos democráticos que se espalham pelo País, e ressaltou que o objetivo desta série de reuniões é justamente disseminar a discussão por toda a sociedade.

“O Cefet é uma instituição séria, uma referência na educação em todo o País. Todos conhecem sua qualidade de ensino, mas ainda falta esse reconhecimento do Governo Federal. Falta apenas a vontade política para essa transformação em universidade tecnológica, uma causa que deixou de ser apenas das pessoas ligadas ao Cefet, mas de toda a sociedade, diante da importância da educação para o futuro do País", reforçou.

A abertura da reunião, na qual ficaram lotados os cerca de 500 lugares da Igreja Evangélica Maranatha, um antigo cinema da cidade, foi marcada pela apresentação de um coral, que cantou o Hino Nacional, e ainda por uma oração pelo bom encaminhamento das discussões.

Convidados - O prefeito de Leopoldina, José Roberto de Oliveira, empenhou seu apoio à mobilização. “Melhorar a educação é também melhorar a qualidade de vida da nossa população. Estamos ao lado do Cefet e de todos os estudantes”, apontou.

Já o presidente da Câmara Municipal, Otávio Arantes Xavier, lembrou o privilégio de Leopoldina em contar com uma unidade do Cefet. “Diante disso, nada mais justo do que nos mobilizarmos por uma causa tão nobre”, ressaltou. Além de Minas Gerais, há unidades do Cefet no Rio de Janeiro e Paraná.

O diretor do campus Leopoldina do Cefet, Júlio César Nogueira Gesualdo, agradeceu a mobilização da população local, primeiro pela instalação do Cefet no município e, agora, por meio dos estudantes, para a transformação em universidade tecnológica. Na mesma linha, a promotora Lúcia Helena Dantas da Costa apontou que a educação é a ferramenta ideal de evolução da sociedade.

O presidente da Câmara Municipal da cidade vizinha de Além Paraíba, Tiago Sabino, elogiou as manifestações estudantis pelo País, defendendo que ela tenha entre suas reivindicações causas importantes como mais investimentos para o Cefet. Isso, segundo ele, permitiria a instalação de novas unidades da instituição na região.

Reivindicação semelhante fez o presidente da Câmara Municipal de Cataguases, Fernando Pacheco Fialho. Em Leopoldina, o Cefet oferece o curso de graduação em Engenharia de Controle e Automação. A carência de opções de ensino superior na região foi ressaltada nesse momento pelo deputado Bosco.

Preocupação - Mila Oliveira Aguiar, representante do Grêmio Estudantil do ensino técnico do Cefet em Leopoldina, advertiu que a transformação em universidade tecnológica não pode ameaçar o perfil histórico da instituição. “Nós apoiamos a causa, mas ela não pode servir de desculpa para ameaçar o ensino técnico. Nós estamos atentos a isso e também vamos cobrar mais investimentos no ensino técnico no futuro”, apontou.

Em resposta, Bosco garantiu que a transformação do Cefet em universidade tecnológica não trará nenhum prejuízo à vocação da instituição para o ensino técnico, que, com mais recursos, poderá até ser incrementado.

Já Luiz Gustavo de Pádua Freitas, presidente do Diretório Acadêmico, defendeu que somente por meio da mobilização permanente dos estudantes causas como essa se transformarão em realidade.

Falta apenas reconhecimento formal ao trabalho da instituição

O diretor-geral do Cefet-MG, Márcio Silva Basílio, fez uma apresentação sobre o trabalho realizado pela instituição. Ele traçou um panorama histórico da sua evolução e, nesse contexto, defendeu a importância da transformação da entidade em universidade tecnológica como um passo natural desse crescimento.

“Essa é uma causa em que todos só têm a ganhar. Investir em educação é investir no futuro. Estamos vivendo um momento único em nosso país, em que o povo está mostrando claramente, em manifestações pacíficas e democráticas, o que realmente quer. Não existe poder no mundo capaz de barrar aquilo que o povo quer, e em especial os estudantes, com todas as suas forças”, apontou.

Segundo Márcio Basílio, na prática, o Cefet, fundado em 1909, já atua como uma universidade, faltando apenas o reconhecimento formal. A instituição oferece atualmente 44 cursos técnicos (que começaram a ser oferecidos em 1948) e 16 cursos de graduação (desde 1972), sete mestrados e um doutorado, com 7 mil alunos no nível técnico, 3.800 na graduação e 700 na pós-graduação e demais níveis.

São dez campi em nove municípios mineiros. Além de Leopoldina, o Cefet está presente em Belo Horizonte (dois campi), Araxá, Contagem, Curvelo, Divinópolis, Nepomuceno, Timóteo e Varginha. “Nós já somos reconhecidos como universidade pelas outras 60 universidades do País. Somos universidade de fato, mas não ainda de direito. Se isso acontecer, Minas ganhará, e também o País”, defendeu.

O Cefet congrega atualmente em Minas Gerais 971 professores, sendo 635 efetivos, 99% destes com especialização e 97% com dedicação exclusiva. Desse total, são 344 mestres, 221 doutores, 66 especialistas e apenas quatro graduados, muito acima da média das instituições de ensino superior do País. O Cefet-MG oferece ainda 175 bolsas de iniciação científica júnior, sendo a instituição com maior número desse tipo de bolsa no País.

Internacionalização - Também chama a atenção, segundo Márcio Silva Basílio, o projeto de internacionalização da entidade, com 17 convênios firmados em 11 países, sendo a quarta instituição no Estado em número de professores enviados ao exterior. No programa Ciência sem Fronteiras, são mais de 200 alunos aprovados.

Sobre a suposta ameaça ao ensino técnico, caso a transformação em universidade tecnológica se concretize, o diretor-geral foi enfático. “Isso é mito. Eu sou ex-aluno do curso técnico de Química e serei o primeiro a me levantar para defendê-lo. O ensino técnico é o alicerce do nosso modelo de ensino”, resumiu.