PL PROJETO DE LEI 1107/2019
Projeto de Lei nº 1.107/2019
Dá denominação à escola estadual situada no povoado de Candeal, no município de Cônego Marinho.
A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais decreta:
Art. 1º – A escola estadual de Candeal, localizada no povoado de Candeal, no Município de Cônego Marinho, passa a denominar-se Escola Estadual Professora Maria Almeida dos Santos.
Art. 2º – Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala das Reuniões, 11 de setembro de 2019.
Deputado Zé Reis, Vice-Presidente da Comissão de Constituição e Justiça e Vice-Líder do Bloco Liberdade e Progresso (PSD).
Justificação: O Projeto de Lei proposto, atende a pedido formulado por vários moradores do povoado de Candeal, no Município de Cônego Marinho, em homenagem a Professora Maria Almeida dos Santos, esta educadora notável, dedicada, que se tornou um modelo para novas gerações.
Oportunamente, transcrevemos sua biografia, escrita pela filha da Professora Maria Almeida dos Santos, a senhora Cláudia Rosânia Gil Santos, que revela um pouco da história desta educadora e que, por meio deste projeto de lei está sendo reconhecida.
“Maria Gil Almeida dos Santos, professora, filha de Francisco Gil de Almeida e Izabel Pereira de Jesus, nasceu em 28 de agosto de 1932, na comunidade de Lapinha, atualmente situada no município de Cônego Marinho – MG. Faleceu em 13 de junho de 2013, no Povoado de Candeal do mesmo município.
Dedicou-se aos estudos entre os anos de 1949 a 1950 cursando até a terceira série primária, sendo este o último grau de escolaridade oferecido no município na época. Teve como professora Ana Rocha, diligente em seu papel que ensinou com muito carinho e dedicação. A vida de Maria Gil não foi fácil, contudo o desejo pelo conhecimento permanecia vívido em seu coração, ninguém esperaria menos de uma mulher com tanta capacidade em contemplar as possibilidades. Mesmo com a residência distante da escola a persistência, a força de vontade e a fé em Deus serviram de estímulo para superação de todos os reveses na trajetória.
Com grande desvelo e valorização ao ensino, Maria Gil colocou em prática um dos sonhos mais sublimes. Eis que no ano subsequente ao supracitado, a sonhadora concluiu a escolaridade e com recursos próprios dispôs de uma sala, na qual, dar-se-ia início a alfabetização das crianças da comunidade de Candeal, bem como das comunidades circunvizinhas. Neste contexto vigorava somente uma instituição de ensino no município de Cônego Marinho, sobretudo devido à longa distância não havia possibilidade da presença dos alunos das comunidades na escola da cidade. Deste modo, ela tornou-se a professora, aquela que ensinava a todos sem distinção.
Em trinta de Dezembro de 1955, Maria Gil se casou com Claudemiro Ferreira dos Santos, morador da comunidade de Candeal, que na situação já era viúvo e pai de uma encantadora prole, a saber: Maria do Amparo Marinho dos Santos, Zilma Marinho dos Santos, Dermeval Marinho dos Santos e Maria da Conceição Marinho dos Santos. Assim, Maria Gil com toda autenticidade fez-se esposa e mãe, responsável que era se manteve firme cuidando daqueles que recebeu para si. Em decorrência deste matrimônio o casal teve mais sete filhos, sendo eles: Eurides Almeida Dos Santos, Jorge Almeida dos Santos, Maria Efigênia Almeida dos Santos, Ana Almeida Santos, Sofia Almeida dos Santos, Izabel Almeida dos Santos e Cláudia Rosânia Gil Santos.
Maria Gil, resiliente como sempre continuava firme na saga pelo ensino e com o propósito de ajudar as pessoas da comunidade e ainda com o anseio de se realizar como professora, pois sua aspiração como educadora continuava assente, deu início as aulas em sua própria casa. Para regozijo da visionária que sempre buscava conhecimento a procura pelas aulas foi muito satisfatória, tanto pelos moradores do Povoado de Candeal, quanto das comunidades vizinhas, tais como: Candealzinho, Brejão, Peri-Peri, Cruz dos Araújos, entre outras.
Há de convir que as dificuldades fossem muitas, no entanto não foram suficientes para matar os sonhos daqueles que nascem destinados para a docência. Ademais, o que referisse a ensino, Maria Gil dispunha de todo o vigor necessário. Na situação não havia recursos didáticos apropriados para o desenvolvimento do trabalho, assim eram usados recursos bastante improvisados, tais como: penas de aves embebidas na tinta, eram usadas, como caneta e toá, que é uma espécie de pedra vermelha, encontrada na região usada como giz, os coloridos das folhas características da vegetação local, usadas como tinta, etc. Assim, a professora já fazia uso do ensino interdisciplinar alfabetizava, ensinava história e arte.
Naquela conjuntura vigora ainda uma dificuldade ainda maior “a fome” os alunos que em sua maioria eram oriundos de família carentes, não dispunham de condições para levarem lanches, portanto, cada família ajudava com o que possuía, eram enviados: abóbora, fava, rapadura, mamão, farinha, entre outros, a fim de permanecer com o atendimento da professora, que também não dispunha de condições suficientes para sustentar tantos alunos, Vale ressaltar que durante o percurso daqueles educandos até o ambiente escolar eram colhidos paus de lenha, para que pudesse preparar a alimentação, já que moravam distantes e o trajeto era feito a pé. Diante das dificuldades financeiras das famílias às vezes a professora recebia como pagamento pelas aulas, diversos produtos criados ou produzidos pelos pais, de modo que em algumas situações “o salário” servia para alimentar os próprios alunos. Além do mais a professora recebia em casa alguns como hóspedes, os quais não tinham condições financeiras, tampouco transportes para irem e voltarem todos os dias às aulas. Os desafios ainda continuavam, pois não havia meios de transportes disponíveis para os trabalhos da escola e quando eram disponibilizados os alimentos da merenda, era necessário que a própria professora dispusesse de seus animais no percurso até a cidade de Januária, para buscá-los.
Professora polivalente, alfabetizadora, cozinheira, faxineira, mãe e às vezes enfermeira, lecionava para 150 estudantes, de idades variadas, as aulas ministradas em dois turnos: matutino e vespertino. Denota-se que o interesse dos alunos também serviu de suporte para que àquela lutasse cada vez mais em favor do ensino, desse modo à zelosa Maria Gil incansavelmente não desanimava, até mesmo porque era fervorosa na fé e sempre acreditou nos sonhos. Por conseguinte teve a ideia de procurar por governantes que de algum modo pudessem ajudá-la, sobretudo, várias vezes não obteve sucesso com os pedidos. Posposto a essas recusas de ajuda, ainda no período em que Sílvio Azevedo estava no cargo de governador do estado e Mário Lisboa prefeito de Januária, sobretudo ano político, a professora recebeu uma promessa de ajuda caso Mário Lisboa vencesse mais um mandato, de modo que destinaria investimentos para a escola, a fim de proporcionar crescimento para o trabalho da docente.
Em 1962, criou-se uma “cadeira”, isto é, a escola que outrora criada por Maria Gil Almeida dos Santos, considerada “particular”, passou a ser responsabilidade da rede municipal de ensino de Januária. Mesmo com muitas obrigações, Maria Gil sempre buscou o estudo e durante todo tempo dedicou-se a muitas capacitações, leituras e pesquisas com o reconhecimento de seu belíssimo trabalho conseguiu por meio dos governantes uma pequena remuneração, não obstante ainda passava diversos meses sem receber. No entanto as dificuldades não eram motivo de desistência a professora do povo tinha orgulho sincero de ser educadora, além disso, desenvolvia outros papéis com trabalhos voluntários na comunidade. Sempre com disposição colocou em prática os dons divinos de: Catequista, dirigente de culto dominical, conselheira, rezadeira de ladainhas, escritora e leitora de cartas para as pessoas analfabetas.
Em março de 1985, vinte e três anos depois, a escola passou a pertencer a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. A educadora em questão continuou no cargo, mas trabalhou na escola enquanto Rede Estadual por pouco tempo, pois a idade e o tempo de aposentadoria chegaram, assim, Maria Gil desliga-se do ensino na escola, mas continuou como mentora na comunidade da qual viveu até completar 81 anos e foi com esta idade que faleceu, deixando seu legado como exemplo e acima de tudo um sonho efetivamente realizado.
Por Cláudia Rosânia Gil Santos.”
Por estes motivos, contamos com o apoio dos Nobres Pares para a aprovação deste projeto.
– Publicado, vai o projeto às Comissões de Justiça, para exame preliminar, e de Educação, para deliberação, nos termos do art. 188, c/c o art. 103, inciso I, do Regimento Interno.