DEPUTADO SÁVIO SOUZA CRUZ (PMDB)
Discurso
Declaração de posição contrária ao projeto de resolução, de autoria da
Comissão de Constituição e Justiça, que delega ao Governador do Estado
atribuição para elaborar leis delegadas dispondo sobre a estrutura da
administração direta e indireta do Poder Executivo.
Reunião
83ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/12/2010
Página 75, Coluna 1
Assunto EXECUTIVO. (ALMG).
Proposições citadas PRE 4999 de 2010
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/12/2010
Página 75, Coluna 1
Assunto EXECUTIVO. (ALMG).
Proposições citadas PRE 4999 de 2010
83ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA
16ª LEGISLATURA, EM 7/12/2010
Palavras do Deputado Sávio Souza Cruz
O Deputado Sávio Souza Cruz* - Sr. Presidente, Srs. Deputados
componentes da Mesa de trabalhos, Deputadas, Deputados, estamos
nos últimos instantes que precedem a votação de mais uma resolução
que delegará ao Governador do Estado os poderes típicos,
constitucionalmente estabelecidos, para serem da competência deste
Poder. Acho que isso é um fato grave. Todos os Deputados que me
antecederam fizeram reavivar à Casa que não é a primeira vez neste
governo, que já se vão uma centena de textos legais produzidos sem
a participação, sem a contribuição efetiva dos Deputados, que,
diga-se de passagem, têm a mesma legitimidade, constituída nas
mesmas urnas, do Governador do Estado. Abro aqui um parêntese. Não
tenho nenhum juízo formado a respeito da reforma que se pretende
fazer, até por desconhecê-la. Não estou julgando o mérito do que
se quer fazer, mas é forçoso reconhecer que a Lei Delegada é um
instrumento desvalorizador do Poder Legislativo, é um instrumento
que nos apequena em um poder já apequenado, relegado a plano
secundário, pelo gigantismo, pela hipertrofia que ocorre nessa
quadra da democracia brasileira com os executivos, e, muito
especificamente, aqui em Minas Gerais, pelo Poder Executivo do
Estado. Portanto, em nome do nosso compromisso com os princípios
democráticos, em nome do nosso compromisso com nossas funções
constitucionais, em nome do nosso compromisso com os eleitores que
nos trouxeram aqui para desempenharmos nosso papel, em nome do
desejo legítimo que cada um poderia ter dentro de sua experiência
e de sua trajetória pessoal de contribuir com o esforço de
aprimorar nosso arcabouço administrativo, venho aqui encaminhar
contrariamente à votação de mais essa delegação.
Gostaria ainda de evocar dois pontos, o primeiro deles um
antecedente histórico. Saibam nossos colegas que esta Assembleia e
a do Rio Grande do Sul foram as únicas que não foram fechadas, em
momento algum durante a Ditadura Militar. Em 1964, no auge do
regime militar, no auge da hipertrofia dos poderes exercidos
àquela época - até pelas armas -, chegou aqui um pedido de Lei
Delegada para fazer uma reforma administrativa pelo então
Governador Magalhães Pinto. A primeira dificuldade que o
Governador Magalhães Pinto teve foi no seu próprio partido, a UDN,
que não considerava democrática essa delegação. Ao fim, ao cabo,
foi votada a delegação de poderes pela Assembleia de Minas, no
vigor do poder das armas, no risco em que as pessoas se viam ao
votar contra o interesse de um Executivo não democrático e
autoritário, esta Assembleia de Minas teve a dignidade e o
compromisso democrático e histórico de recusar a delegação ao
Governador Magalhães Pinto. Isso ocorreu na vigência do regime
militar e no momento em que talvez a reforma se fizesse mais
urgente, já que, àquele tempo, o Estado não tinha sequer um
inventário de seus servidores por não dispor da Secretaria de
Administração e porque as contratações dos servidores eram feitas
de forma pulverizada nas diversas Secretarias de Estado. A nos
julgar, temos a História e a nos orientar, os homens e as mulheres
que nos antecederam neste Plenário e tiveram a coragem de colocar
o próprio mandato em jogo, ao lutar pelos poderes e prerrogativas
do Poder Legislativo.
Invoco, assim, esse antecedente histórico, o compromisso daqueles
que nos antecederam e que nos é forçoso lutar para preservar.
Somos os herdeiros dessa vocação libertária e democrática de Minas
Gerais. Compete a nós estarmos à altura da nossa história. Por
fim, faço quase um apelo para que reflitamos que não compete a
quem é da base dizer sim a tudo; há mais espaço na inteligência do
que o sim à subserviência, à postura bovina e servil, como há para
a Oposição um espaço maior que a relutância, o não gratuito, a
oposição a qualquer coisa. Abramos aqui um espaço para a liberdade
e, sobretudo, para a inteligência. Vamos votar contra essa
delegação e façamos aqui, com os projetos remetidos à Casa, a
reforma de que Minas precisa. Conto com a história de Minas
Gerais.