DEPUTADO WELITON PRADO (PT)
Discurso
Comenta o projeto de lei que estima as receitas e fixa as despesas do
Orçamento Fiscal do Estado de Minas Gerais e do Orçamento de
Investimentos das Empresas Controladas pelo Estado para o exercício do
ano de 2007.
Reunião
68ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/12/2006
Página 58, Coluna 1
Assunto ORÇAMENTO.
Aparteante ROGÉRIO CORREIA.
Proposições citadas PL 3645 de 2006
Legislatura 15ª legislatura, 4ª seção legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/12/2006
Página 58, Coluna 1
Assunto ORÇAMENTO.
Aparteante ROGÉRIO CORREIA.
Proposições citadas PL 3645 de 2006
68ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA
15ª LEGISLATURA, EM 20/12/2006
Palavras do Deputado Weliton Prado
O Deputado Weliton Prado - Boa-tarde a todos. Concordo plenamente
com a Deputada Maria Tereza Lara em relação ao Orçamento. Temos de
ter um Orçamento impositivo, não autorizativo. Se observarmos a
previsão orçamentária de 2003 a 2007, vamos ver o aumento
astronômico que teve o Orçamento do Estado de Minas Gerais. Ele
subiu como um foguete. Em 2003, a previsão foi de R$
17.000.000.000,00. Para o ano que vem, a previsão é de
R$30.000.000.000,00. Aumentou muito, mas infelizmente não fez
aumentar na mesma proporção os investimentos na área social, a
valorização do servidor, a recomposição da perda salarial. Isso
realmente não aconteceu. Só para termos uma idéia, o Dr. Anastasia
disse que o Orçamento do Estado não foi contingenciado. Isso não é
realidade. Podemos comprovar isso. Esses dados são oficiais.
Pesquisamos, no dia 30 de setembro, e chegamos à conclusão de que
diversos programas sociais, que deveriam ser prioridade, programas
estruturadores, apresentaram gastos ínfimos ou não tiveram nenhum
investimento. Vou dar um exemplo: recuperação e revitalização dos
Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. A previsão
era de R$15.000.000,00, mas não recebeu nenhuma aplicação. Estudo
e implementação de água potável e saneamento. A previsão era de
mais de R$8.000.000,00. Não foi gasto nem um centavo.
Atividade de extensão rural aos irrigantes: previsão de
R$300.000,00, nem um centavo foi gasto. Capacitação de jovens
rurais: previsão de R$200.000,00, nada foi aplicado. Mutirão pela
segurança alimentar e nutricional em Minas Gerais - Pró-SAN:
R$3.500.000,00, nada foi gasto, nem um centavo. Pró-Horta, horta
pela vida: a previsão era de R$1.500.000,00, nada foi gasto. Apoio
à infra-estrutura para jovens pesquisadores: a previsão era de
R$2.420.000,00, nada foi gasto. Qualificação de professores de
educação física da rede pública: a previsão era de R$225.000,00,
nada foi gasto. E valorização do servidor para aumentar a
eficiência, pois é fundamental a capacitação do servidor: previsão
de R$340.000,00, nada foi gasto.
Lembro que esses dados são os oficiais do governo, estão no Siafi.
Aliás, ficaria aqui durante toda a tarde apresentando dados
oficiais. Outro exemplo: os programas essenciais, como o Agente
Jovem, a Polícia Comunitária e a Qualificação para o Primeiro
Emprego, tiveram execução orçamentária inferior a 3%, até agora. O
programa de extensão universitária, por exemplo, só gastou
R$504,00 dos R$500.000,00 previstos no Orçamento do Estado.
Aliás, na campanha anterior, o Governador Aécio Neves prometeu
descentralizar a Uemg, com "campi" avançados em todas as regiões
do Estado. Em Montes Claros, já há a Unimontes, mas haveria outro
"campus"; no Sul de Minas, a Uemg, a universidade estadual
gratuita; no Triângulo Mineiro, ela também seria gratuita; e
também na Zona da Mata e na região metropolitana. Infelizmente,
isso não ocorreu, e os poucos recursos colocados no Orçamento não
são aplicados. Daí a importância de termos um Orçamento que não
seja autorizativo, mas que aplique aquilo que foi aprovado. A
Uemg, por exemplo, possui uma emenda à Constituição aprovada, que
prevê a aplicação em seu favor de 2% de tudo o que é arrecadado no
Estado. Também 1% deve ser destinado à Fapemig, para pesquisa e
extensão. Infelizmente, isso não acontece.
A saúde já foi lembrada aqui por diversos Deputados, como a
Deputada Elisa Costa. Essa é uma luta antiga, principalmente dos
Deputados da área da saúde, como os Deputados Edson Rezende,
Adelmo Carneiro Leão e Ricardo Duarte. Eles querem a aplicação da
Emenda nº 29, a aplicação na saúde dos 12% de tudo o que é
arrecadado. Infelizmente, terminamos este governo com um déficit,
na área da saúde, em torno de R$4.000.000.000,00. É muito
dinheiro, e ele daria para melhorar muito a saúde no Estado.
Se observarmos também em outras áreas, houve promessas. O ensino
profissionalizante para capacitação dos nossos jovens e a
possibilidade de os jovens terem acesso ao primeiro emprego,
infelizmente, não saíram do papel. O ex-Governador Eduardo Azeredo
acabou com o ensino profissionalizante, tanto Itamar quanto Aécio
prometeram que voltariam com ele, e, até hoje, nada. Se
compararmos o tanto que aumentou de 2003 até hoje, o Orçamento era
de R$17.000.000.000,00 e passou para mais de R$30.000.000.000,00.
Vejam o percentual do aumento da conta de energia elétrica da
Cemig. Ela aumentou de forma escandalosa. O valor da água da
Copasa... Costumo dizer que a água está a preço de vinho. A carga
tributária no Estado de Minas é uma das mais pesadas da Federação.
Muitas empresas saem de Minas Gerais e vão para outros Estados,
devido à carga tributária. O aumento do IPVA foi desproporcional,
se comparado ao salário mínimo. Se observarmos o salário do
servidor, veremos que ele deveria ter a mesma progressão, e
realmente isso não ocorreu. Hoje a situação dos servidores do
Estado é lastimável, e sei que ela não vem de agora, mas de
sucessivos governos. Temos que, de alguma forma, recuperar e
garantir a valorização dos servidores de todas as áreas.
Desejo dar um exemplo da área de educação, dizendo que há um dado
lastimável. Ontem saiu o resultado da Prova Brasil, o desempenho
ideal. Foram divulgados os nomes das 33 escolas mais bem avaliadas
em todo o Brasil. Ficamos felizes por termos tido quatro escolas
bem avaliadas no Estado de Minas Gerais, mas, infelizmente, dessas
quatro escolas mais bem avaliadas, nenhuma é estadual. Nenhuma
escola é da rede estadual.
Lembremo-nos do passado, quando Minas Gerais era reconhecida no
Brasil inteiro como o Estado que tinha a educação, o ensino
público de melhor qualidade. Infelizmente, agora, de todas as
escolas mineiras nenhuma foi bem avaliada pela Prova Brasil. Esse
dado é lastimável e está relacionado aos investimentos. Alguns
professores recebem menos de um salário mínimo. Além disso,
contribuem com o Ipsemg, mas não têm direito ao atendimento à
saúde. A situação do servidor do Estado de Minas é muito difícil.
Há uma falta de estímulo muito grande.
Por isso, no próximo mandato, teremos de unir forças e aglutinar
esforços. Independentemente de ideologia partidária, devemos fazer
uma grande junção para que possamos garantir a valorização dos
servidores do Estado de Minas Gerais.
Falando em valorização, queria solicitar à próxima Mesa Diretora
que faça uma avaliação relativa à situação dos servidores desta
Casa. Somos testemunhas da capacidade e do profissionalismo dos
servidores da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais.
Talvez um novo concurso tenha de ser realizado. É muito importante
termos mais técnicos para prestar bons serviços para as Comissões
desta Casa, que funcionam muito bem graças a eles, que são muito
capacitados. O concurso deve ser para todas as áreas da
Assembléia. É necessária a valorização dos servidores desta Casa.
O Deputado Rogério Correia (em aparte)* - Deputado Weliton Prado,
quero parabenizá-lo pela análise que faz da peça orçamentária. Ao
mesmo tempo, parabenizo também a Comissão de Fiscalização
Financeira e Orçamentária desta Casa, que fez o trabalho, que é
sempre pesado, de análise detalhada dos números e procurou, por
meio das emendas dos parlamentares e da própria Comissão,
aperfeiçoar a peça orçamentária. Quero enaltecer o trabalho da
Assembléia relativamente a essa questão da análise do Orçamento
enviado pelo Governador Aécio Neves para esta Casa Legislativa.
Acho difícil que se consiga, neste caso, fazer uma modificação -
com o que concordo com V. Exa. - mais profunda da peça
orçamentária, ou seja, da sua concepção mais estratégica. Esse tem
sido o problema dos orçamentos vindos para esta Casa e oriundos do
governo Aécio Neves.
O Orçamento vem baseado em duas estratégias que o governo colocou
como sendo o aspecto principal de suas ações, o motivo da sua
existência: o choque de gestão e o déficit zero. O Orçamento vem
sob esta égide: deve haver choque de gestão e déficit zero, mas
choque de gestão de segunda geração, Deputado Weliton Prado. Não
se trata de qualquer choque de gestão. Provavelmente, haverá a
terceira geração. O servidor fica preocupado para não morrer de
indigestão ou eletrocutado, mas o choque de gestão hoje vem
recheado de segunda geração. Não sabemos ainda os efeitos desses
choques, mas temos certeza de que serão graves, e V. Exa. já tem
apresentado alguns desses efeitos.
Há ainda o déficit zero. Existem os problemas do choque de gestão
e do déficit zero. Aliás o déficit zero, é bom dizer, não passa de
um "marketing". Havia uma dívida renegociada na época do governo
Azeredo, que estava em torno de R$18.000.000.000,00,
R$20.000.000.000,00. Essa dívida foi muito mal negociada, como o
Deputado Antônio Júlio disse hoje durante um programa que gravamos
para a TV Assembléia. Essa dívida terminou, no governo Itamar
Franco, em R$34.700.000.000,00, mesmo sendo paga em dia, já que o
dinheiro era confiscado pelo governo Fernando Henrique na boca do
caixa, na época da moratória.
O Governador Aécio continuou a pagá-la. Essa dívida fechará o ano
em R$45.700.000.000,00 e, no final do governo Aécio Neves, deverá
chegar a quase R$50.000.000.000,00. Ela mostra que não existe
déficit zero, a não ser como propaganda orçamentária. O Orçamento
enviado tem uma receita, e sua despesa é igual.
Deputado Weliton Prado, em qualquer Câmara de Vereadores de Belo
Horizonte, do interior do Estado ou de qualquer parte do nosso
País - é assim em Barbacena, em Belo Horizonte, em Mutum, em
Divinópolis, em Juiz de Fora ou em qualquer cidade mineira -, o
Prefeito é obrigado a mandar o déficit orçamentário zerado.
No déficit orçamentário, não existe déficit zero; há dívida, e a
dívida é maior, sem falar em dívida precatória.
Em relação ao choque de gestão, o que é isso? Corte em gastos
públicos. O Orçamento vai detectar isso, como V. Exa. diz, sem
capacidade de reajuste para os servidores. Menor investimento nas
áreas sociais. Por isso, uma professora continuará ganhando menos
do que o salário mínimo. E a área de saúde terminará com um
déficit de, aproximadamente, 5% ao ano, como já disse a Deputada
Elisa Costa, que se refere ao que não é investido e seria
obrigatório pela Emenda à Constituição nº 29, provocando um
déficit de bilhões na saúde pública mineira, durante esse período.
Então, há uma concepção privatista, neoliberal, monetarista do
Orçamento, que não é visto como uma peça de discussão social de
implementação de políticas sociais. Essa é nossa principal crítica
em relação ao Orçamento.
Finalizo meu aparte citando alguns dados que nossa assessoria
retirou do Siaf, fornecidos pelo próprio governo. Na segurança
pública, por exemplo, em 2002, o investimento que foi
aproximadamente de R$3.682.000.000,00 baixou para
R$3.439.000.000,00. Em 2005, chegou apenas a R$3.335.000.000,00.
Na área de saúde, passou de R$2.254.000.000,00 para
R$2.303.000.000,00. E a projeção para 2006 é de
R$1.916.000.000,00, também em queda. Para a educação, de
R$5.228.000.000,00 passou para R$3.223.000.000,00. E a projeção,
de R$3.304.000.000,00, também aponta queda. Então, nas três áreas
principais, segurança pública, saúde e educação, há uma queda de
investimento nominal. Percentualmente, a queda é menor ainda,
exatamente porque tivemos um aumento de ICMS, em razão do
crescimento econômico, que ainda é pequeno, mas que o País teve e
que o Estado teve. Essa é nossa crítica ao Orçamento. Apesar
disso, é claro que não deixaremos o Estado sem Orçamento, não
cometeremos a irresponsabilidade cometida no Congresso Nacional,
na Câmara Federal, que deixou para que o Orçamento só fosse
executado em maio e junho deste ano, para tentar derrotar o
Presidente Lula nas eleições, o que não deu certo. Acho que não
devemos usar a tática irresponsável que usaram na Câmara Federal,
devemos aprovar o Orçamento. Mas queria fazer essas ressalvas e
dizer que nossas emendas foram para mostrar que o Orçamento não
pode ser choque de gestão e déficit zero. Isso é um orçamento
apenas monetarista, que não leva em conta as questões sociais do
Estado.
Muito obrigado, Deputado. Parabéns por sua abordagem.
O Deputado Weliton Prado - Parabenizo o Deputado Rogério Correia.
É muito importante que, no ano que vem, continuemos essa
fiscalização em relação ao cumprimento do Orçamento do Estado,
para que não se repita o que ocorreu nos anos anteriores.
Para exemplificar brevemente, a previsão de recursos para o Agente
Jovem era em torno de R$100.000,00, mas foram aplicados apenas
2,9%; no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, aplicaram-
se apenas 9%; na Qualificação Profissional para o Primeiro
Emprego, 1,88%; as escolas em rede do ensino médio, que seriam uma
realidade até o final deste governo, tiveram uma aplicação apenas
de 3%; a extensão universitária, 0,10%; o desenvolvimento da
educação de jovens e adultos no Ensino Fundamental, apenas 15%; o
apoio a ações de proteção e defesa do consumidor, apenas 9%; a
construção e a melhoria de unidades habitacionais, o Programa
Lares Geraes, apenas 1,46%; o Programa Fica Vivo, que é o controle
de homicídios, apenas 21%; e a Polícia Comunitária em Minas
Gerais, apenas 2%. Então, é muito importante que se fiscalize e
que haja cumprimento do Orçamento por parte do governo do Estado.
Sr. Presidente, do fundo do meu coração, parabenizo os Deputados
do Bloco PT-PCdoB por sua atuação, assim como parabenizo todos os
Deputados desta Casa.
Gostaria de dizer que ficamos muito chateados, porque,
infelizmente, a conjuntura não foi das mais positivas no contexto
geral da nossa bancada. Mas queremos fazer o reconhecimento do
brilhante trabalho desenvolvido pelos parlamentares desta Casa,
pelo nosso Líder, Deputado Ricardo Duarte, que teve uma atuação
brilhante na Comissão de Saúde. Os Deputados que aqui ficam terão
de continuar a fazer campanhas educativas no Dia Internacional de
Combate à AIDS. Temos de dar prosseguimento a essa luta do
Deputado.
O Deputado Biel Rocha deixou sua marca em todo Estado de Minas
Gerais. Todas as cidades que visitamos falam do Biel na área de
esportes, da cultura. Os skatistas sempre falam com muito orgulho
do Deputado Biel Rocha. A Deputada Maria Tereza Lara é de uma
ética inabalável com sua luta na área social. O Deputado Rogério
Correia é nosso grande Líder nesta Casa, nosso grande companheiro,
a quem muito admiro. Aprendi muito com o Deputado e teremos muita
dificuldade para fazer uma oposição de forma qualificada. O
Deputado Edson Rezende também foi o nosso companheiro de todas as
horas. Foram seis anos nesta Casa lutando contra o aumento das
tarifas públicas, contra o aumento da energia elétrica. O Deputado
Adelmo Carneiro Leão lutou muito na área da saúde. Foi um grande
companheiro. O Deputado Carlos Gomes sempre batalhando para
diminuir a carga tributária no Estado.
E de forma muito especial, não desfazendo dos outros Deputados,
quero cumprimentar e desejar um futuro brilhante ao Deputado
Laudelino Augusto. É impressionante o sentimento, a importância
que o Deputado dá ao ser humano. Não tenho palavras para falar do
brilhantismo da sua atuação como parlamentar, do seu compromisso
com a ética, com a moral, com os princípios, com o próximo. Sua
participação como Presidente da Comissão de Meio Ambiente deixará
marcas nesta Casa.
Parabenizo todos os Deputados de todos os partidos, o Deputado
Doutor Ronaldo, a Deputada Maria Olívia, recordista de mandatos
nesta Casa, a Deputada Lúcia Pacífico, que fez um brilhante
trabalho na área do consumidor. Parabéns a todos. Cumprimento
também todos os servidores, as colegas da taquigrafia, sempre que
posso passo por lá, os companheiros da segurança, os
cinegrafistas. É muito importante termos esse espírito de resgatar
o valor do Parlamento independentemente da coloração partidária,
de ajudar aqueles que precisam para que, em conjunto, possamos
fazer as mudanças de que o nosso Estado tanto precisa. Muito
obrigado.