A ausência de representantes do Executivo foi duramente criticada pelos participantes da audiência
Diego de Oliveira questionou por que o sistema de ensino da PM tem de ser feito às custas da retirada de cargos na educação básica

Governo se omite em projeto que impacta educação básica

Discussão na Comissão de Educação não contou com a presença de nenhum representante da Secretaria de Estado de Educação.

19/10/2022 - 15:03

Participantes de audiência pública na Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta quarta-feira (19/10/22) criticaram o Projeto de Lei (PL) 3.399/21, de autoria do governador do Estado, que cria cargos de profissionais de educação para atuar nas escolas militares e extingue cargos na Secretaria de Estado de Educação

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A reunião não contou com a presença de nenhum representante do Governo do Estado para debater o projeto. Haviam sido convidados os titulares das secretarias de Estado de Educação, Igor de Alvarenga Oliveira Icassati Rojas; e de Planejamento e Gestão (Seplag), Luísa Cardoso Barreto. Eles enviaram correspondências se justificando, mas não mandaram nenhum representante de suas pastas.

A presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT), esclareceu que a principal crítica ao projeto está nas extinções de cargos, que impactam a educação básica, além da retirada, no projeto, do nível cinco, de doutorado, da carreira dos professores. 

“Quando o governo pressionar pela aprovação do projeto aqui na Casa, relembrarei como não apareceu ninguém. O governo não quis dizer por ele mesmo o que pretende, nem esclarecer as nossas dúvidas. Então ficamos livres para concluirmos o que quisermos. O projeto tem sim problemas e o governo se ausenta para evitar desgastes”, afirmou a parlamentar. 

O texto do projeto prevê a extinção de 4.810 cargos da carreira de Professor de Educação Básica; 445 cargos da carreira de Especialista em Educação Básica; e 1.607 cargos da carreira de Auxiliar de Serviços de Educação Básica.

De acordo com a presidenta da comissão, é inadmissível que, numa realidade onde faltam profissionais, sejam extintos cargos. “Todos esses profissionais estão sobrecarregados e desvalorizados. Não bastasse isso, retirar o doutorado, por quê? Não pode ter doutorado e ser professor? É muito difícil avançar na carreira. O Estado tem de valorizar esse avanço. No Parlamento, precisamos cuidar da carreira dos professores”, defendeu Beatriz Cerqueira.

Saldo negativo é de 1.874 cargos

Economista e coordenador técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute/MG), Diego Severino Rossi de Oliveira ressaltou o deficit que o projeto criará na educação básica, tendo em vista que, entre os cargos criados e extintos pelo projeto, haverá um saldo negativo de 1.874 cargos. 

“Por que o custo do fortalecimento do sistema de ensino da Polícia Militar tem de ser a retirada de cargos na educação básica? Me parece uma provocação para o embate entre duas categorias fortes do serviço público, colocando professores contra policiais", questiona o economista.

"Mas a questão não é essa. A educação estadual está numa situação preocupante. As últimas nomeações foram feitas em 2017 e 2018, graças às lutas do SindUte. E em termos de valorização profissional da carreira, Minas Gerais está entre os últimos colocados no País. O governo disse prever concurso para o ano que vem, reconhecendo que há falta de profissionais, mas, ao mesmo tempo, extingue cargos? A lógica não fecha”, ressaltou Diego Oliveira.

Regime de Recuperação Fiscal

O economista afirmou, ainda, que esse projeto é mais uma iniciativa do Governo de Minas para reduzir o tamanho da educação mineira, precarizar e colocar tudo nas mãos do serviço privado.

“Querem forçar demissões e preparar o terreno para o Regime de Recuperação Fiscal, que se aprovado impedirá por nove anos o aumento de gastos. E esse regime tem sido extremamente prejudicial para o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Não salvará as dívidas dos estados com a União, só adia e piora muito a situação”, avalia o especialista. 

Em vez de concursos, contratações

Coordenadora-geral do Sind-Ute/MG, Denise de Paula Romano afirmou que o governador prioriza as relações de trabalho precárias no Estado, conforme constatado em duas declarações de inconstitucionalidade, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

“É inconstitucional como o governo trata o processo de contratação em detrimento dos concursados. Tanto que recebeu 24 meses para regularização da situação, para a realização de concursos públicos, de provas e títulos. Esse projeto inoportuno vai na contramão do que a Constituição prevê, com a retirada de cargos que já existem", critica a sindicalista.

"Quem garante que os efetivos que já perderam sua lotação por causa do “Mãos Dadas” não serão ainda mais prejudicados? Os projetos já implantados, como o Mãos Dadas e ainda o Somar, já trouxeram inúmeros prejuízos à educação do Estado”, acrescentou Denise Romano.

O projeto Mãos Dadas visa à municipalização do ensino fundamental das escolas estaduais. Já o Somar visa à gestão compartilhada de escolas estaduais que ofertam o ensino médio, em parceria com organizações da sociedade civil sem fins lucrativos.

Educação militar

Denise Romano também reforçou o que já havia sido dito na audiência, que a questão central em debate não é a educação militar, mas sim os impactos negativos que o texto em discussão terá sobre a educação básica.

“Inclusive foi o Sind-Ute que ingressou com ação pedindo a inclusão dos professores do Colégio Tiradentes no rateio do Fundeb no ano passado. E fomos bem-sucedidos. Não temos nada contra a criação dos cargos, são nossos colegas”, pontuou.