Unidades de saúde no Barreiro têm sobrecarga no atendimento
Em visita, comissão constata que governo não ampliou capacidade do Hospital Júlia Kubitschek; na UPA, faltam pediatras.
25/05/2022 - 16:40Falta de médicos e abandono de equipamentos novos no Hospital Júlia Kubitschek, com uma consequente sobrecarga de atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Barreiro. Este foi o quadro encontrado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher nesta quarta-feira (25/5/22), em visita a esses dois locais, ambos situados na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Participaram da visita a presidenta da comissão, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), e o deputado Betão (PT).
Em audiência pública realizada no fim de abril, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), subordinada ao governo estadual, anunciou, para a primeira quinzena de maio, a abertura de 30 leitos no Júlia Kubitschek. A ideia é que eles funcionassem como retaguarda para desafogar o atendimento de urgência e emergência em UPAs da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), sobretudo a do Barreiro.
Entretanto, na visita desta quarta, os parlamentares constataram que havia apenas três pacientes nos novos leitos, recém-transferidos para o local. “A ala é bonita, está arrumada, mas ficou claro para nós o esvaziamento e o não cumprimento por parte do Governo do Estado do que foi acordado. E o fato de não haver o atendimento de urgência e emergência aqui sobrecarrega as outras unidades da região”, afirmou a deputada Ana Paula Siqueira.
O presidente do Conselho de Saúde do Barreiro, Victor Campos Ferreira, e a diretora-executiva do sindicato dos servidores da saúde (Sind-saúde), Neuza Freitas, acompanharam as visitas e fizeram diversas denúncias.
Ao ser questionada, a diretora Assistencial do Centro de Complexidades (composto pelos Hospitais Júlia Kubitschek e Alberto Cavalcanti), Viviane Cunha, afirmou que o atendimento de emergência não havia sido retomado por completo por causa da falta de profissionais. “De uma vez, perdemos 40 médicos de UTI e estamos buscando profissionais para reabrir. Mas estamos funcionando sim”, disse.
Equipamentos mal armazenados
No Hospital Júlia Kubitschek, além do atendimento de urgência não ter sido retomado, chamaram a atenção dos deputados outros problemas, como a falta de profissionais, incubadoras colocadas nos corredores, ausência de elevador para transporte dos pacientes dentro do hospital e o armazenamento inadequado de equipamentos hospitalares caros.
“Os próprios médicos se reorganizaram para manter o plantão estratégico na CTI Neonatal, porque eles ficaram revoltados com a atitude do hospital de querer fechar. E isso gera mais gastos para o Estado porque, em vez de fazer concurso, os profissionais têm de estender suas jornadas, o que sai mais caro”, denunciou Neuza Freitas, do Sind-Saúde.
Ela disse haver, ainda, uma estratégia de redução do atendimento, para que a comunidade deixe de buscar a unidade e o governo possa fechá-la. O deputado Betão afirmou que a estratégia é a mesma que foi usada em hospitais em Patos de Minas e Juiz de Fora.
"Desestimulam as pessoas de buscar os serviços para esvaziar, e depois entregam as estruturas para organizações sociais administrarem. É uma privatização ilegal, com a desculpa de trazer melhoras, mas que só provoca o fechamento de serviços", denunciou o parlamentar.
Atendimento pediátrico é problema na UPA
Na UPA Barreiro, o maior problema, segundo o gerente da unidade, Paulo Henrique Franco Lopes, está no atendimento pediátrico. Quando os parlamentares chegaram à UPA, mães com bebês recém-nascidos relataram grande tempo de espera na porta e até mesmo falta de espaço para trocar fraldas nos banheiros. A unidade conta, atualmente, com apenas um pediatra.
“Eu tenho autorização para contratar profissionais via RPA (recibo de pagamento autônomo), mas não conseguimos encontrar. Mobilizamos em sites de vagas, em grupos de whatsapp e simplesmente não conseguimos encontrar pediatras para atender aqui. Hoje, esse é o nosso maior gargalo”, afirmou o gerente.
O presidente do Conselho de Saúde do Barreiro disse que os profissionais da UPA se esforçam para atender a demanda, que chega a 8 mil pacientes por mês, e tem aumentado nesta época do ano, em que mais pessoas com sintomas respiratórios chegam ao local.
“Mas nenhum pediatra vai vir aqui para ganhar pouco e, ainda por cima, demorar a receber via RPA. A Prefeitura de Belo Horizonte precisa melhorar a remuneração e fazer concurso público. Todo ano, nessa época, a demanda aumenta, a Secretária Municipal de Saúde sabe disso. As instalações daqui são boas e até há a previsão de uma reforma na unidade começar em 30 de maio. Mas sem médicos não tem como”, argumentou Victor Campos Ferreira.
O presidente do Conselho afirmou que, caso a urgência no Hospital Júlia Kubitschek não reabra logo, a tendência é que o atendimento em toda a região seja ainda mais afetado. “O que as pessoas não percebem é que o Barreiro é uma região muito impactada pelo entorno. Na UPA, chegam muitas pessoas de Sarzedo, Esmeraldas, Mário Campos. Sem o hospital para dividir essa demanda, fica muito complicado. E, como verificamos aqui, atualmente a UPA não está enviando ninguém para o hospital, só pacientes gravíssimos, em último caso”, disse Ferreira.