Participantes destacaram o potencial de Minas, em contraposição à capacidade instalada praticamente inexistente
As demandas dos empreendimentos seriam maiores que a capacidade de resposta da Cemig, diz Paulo Márcio
Energia eólica não tem incentivo no Estado

Entraves técnicos deixam Minas longe da energia eólica

Participantes de audiência defendem esforço conjunto para destravar o setor e garantir investimentos no Estado.

20/11/2019 - 20:10

Dificuldades técnicas de conexão à rede de distribuição podem estar inviabilizando a implantação de empreendimentos de energia eólica em Minas Gerais. Embora o Estado tenha boas condições de vento, semelhantes às da Bahia e com a vantagem de não ter maresia, sua capacidade instalada é praticamente zero. A Cemig confirma o gargalo e, mesmo anunciando investimentos, admite que a solução não será imediata.

Como resultado, a energia eólica responde por apenas 0,001% da matriz energética em Minas, com uma única usina em operação, em Iturama (Triângulo). Seis empreendimentos mineiros habilitados no último leilão do Ministério das Minas e Energia (MME) não receberam nenhuma oferta. E a Minas de Ventos, que tem usina em fase de implantação em Santo Antônio do Retiro (Norte), já está direcionando recursos para outros Estados.

Esses desafios pautaram audiência pública realizada nesta quarta-feira (20/11/19) pela Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento do deputado Osvaldo Lopes (PSD). “Precisamos desburocratizar a energia eólica no Estado. É uma fonte limpa, com uma das mais baixas pegadas de carbono e, por isso, muito conectada com o futuro”, defendeu o parlamentar.

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“Não podemos ter a energia eólica tão acanhada em Minas, um Estado continental e com uma das maiores demandas por energia no País”, alertou também o diretor do Departamento de Informações e Estudos Energéticos do MME, André Luiz Osório. No Brasil, segundo ele, essa fonte renovável já responde por 9,3% da matriz elétrica e deve chegar a 18% até 2029, segundo projeções do Ministério.

André citou também o Atlas Eólico de Minas Gerais, feito pela Cemig em 2010, que comprova as condições favoráveis de geração do Estado, sobretudo no Norte e no Triângulo, com potencial para mais de 40 gigawatts. “O Estado tem capacidade e tem investidores” acrescentou. Minas tem também consumidores interessados na energia eólica, conforme destacou a assessora da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Tânia Mara Santos.

Segundo ela, são clientes que hoje usam energia solar mas que, à noite, entre 17 e 20 horas, apelam para o diesel para evitar as altas tarifas desse horário de ponta. “A eólica, que tem produção maior à noite, seria um complemento. Temos, pelo menos, 1,5 gigawatts atrasado de investimentos no Estado”, afirmou. Ela também defendeu a atualização do Atlas Eólico, com a medição e certificação dos ventos.

Investimentos da Cemig vão até 2022

A Cemig vai investir R$ 6,2 bilhões na distribuição de energia em Minas. A Região Norte, que concentra os investimentos em fontes renováveis, sobretudo de energia solar, será priorizada. Ainda assim, o gerente da Gestão de Ativos da Distribuição da companhia, Paulo Márcio de Sousa, admitiu que “a velocidade dos empreendimentos é maior que a da resposta da concessionária”, criando um gargalo.

“Hoje há vários empreendimentos solicitando acesso, e os prazos estão elevados. A Cemig precisa de tempo para se preparar”, afirmou. O programa da companhia prevê 78 novas subestações, quase 3 mil quilômetros de linhas de alta tensão e 4.500 religadores automáticos, com benefícios para 6,4 milhões de clientes em 400 municípios.

Mário Pires Coelho, diretor da Minas de Vento Energias Renováveis, afirma que está imerso nessa dificuldade desde 2016, quando começou a prospectar o mercado. Ele aponta a conexão como o maior desafio do setor em Minas e como motivação para investir em outros estados. Usando mapas, o empreendedor mostrou como as usinas descem desde o Rio Grande Norte e Piauí, passando pela Bahia e parando na divisa com Minas.

“Eu vejo como a eólica mudou a realidade de regiões pobres do sertão do Piauí e da Bahia”, acrescentou, salientando que os mesmos benefícios poderiam mudar o Norte de Minas. Ele listou, ainda, outras dificuldades enfrentadas, como a qualidade ruim das estradas, uma vez que as máquinas de geração são grandes e pesadas, e os altos custos de manutenção, menores nos outros estados, já que são diluídos pelo grande número de empreendimentos.

Licenças – As licenças ambientais também já foram entrave à geração de energia eólica. Mas a gestora ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Carolina Melo, salientou que, desde março de 2018, essas usinas estão submetidas ao processo mais simplificado existente na legislação. Ainda assim, segundo ela, há um passivo de projetos a serem analisados, em função dos estudos necessários sobre as áreas de vegetação a serem suprimidas.

Para Daniel Rennó, superintendente de Política Minerária, Energética e Logística da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Minas “perdeu o bonde da energia eólica” no primeiro momento, em função do licenciamento ambiental mais simples na Bahia. Agora, porém, o Estado acaba de criar um grupo de trabalho para orientar investidores, antes mesmo do início do projeto.

Daniel também destacou que os benefícios fiscais hoje concedidos à cadeia da energia social serão estendidos às demais energias renováveis. Essa mudança consta do Projeto de Lei 1.014/19, que foi alterado durante a tramitação na ALMG e aprovado em primeiro turno pelo Plenário, também nesta quarta-feira (20). Mário Coelho salientou que Minas se destaca na geração de energia solar justamente pelos incentivos concedidos em 2017.