O programa Zás oferece espetáculos de música, teatro, dança e humor, entre outros. Muitos artistas renomados já participaram do programa, como Telo Borges e Cláudio Venturini
A ideia inicial era que o programa fosse curto, apenas para a hora do almoço, por isso o nome escolhido
Com a gravação das músicas apresentadas no Zás, o grupo Faca Amolada pretende produzir um DVD
Sideral gravou para o CD do Zás a música
Os primeiros anos do Zás foram marcados pelo improviso
Heloísa Duarte (à esquerda) foi uma das primeiras produtoras dos espetáculos do Zás. Carla Godoy é a atual

Assembleia de Minas de mãos dadas com a cultura

O Zás, programa da ALMG que se consagrou no cenário cultural de Belo Horizonte, completa 20 anos.

Por Natália Martino
19/02/2016 - 10:35

“Devo muito da minha carreira ao Zás”. É assim que o humorista Carlos Nunes resume a importância do programa cultural realizado no Teatro da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Nome frequente entre os que entretêm uma plateia diversa durante o horário de almoço das sextas-feiras no Teatro da ALMG, o humorista conta que as oportunidades oferecidas pelo programa, que completa agora 20 anos, foram fundamentais para ele, principalmente no início de sua carreira.

Criar oportunidades para novos talentos apresentarem seus shows autorais é uma das propostas do Zás, que também oferece um espaço para apreciação de espetáculos culturais. “Outra coisa genial do programa é a gravação da TV Assembleia, que transmite as peças para o interior do Estado. Muita gente dessas cidades me contratou depois de me assistir na televisão”, afirma Carlos Nunes.

“No início, o público-alvo era principalmente os trabalhadores mirins e funcionários de serviços gerais da ALMG, que, na maioria das vezes, nunca tinham nem entrado em um teatro”, conta Carla Godoy, produtora dos espetáculos. Com o passar do tempo, as apresentações conseguiram ampliar o alcance. Segundo Carlos Nunes, enquanto se apresentava no aniversário de um importante advogado da Capital mineira, o aniversariante pegou o microfone para dizer que entrou pela primeira vez em um teatro, quando chegava a Belo Horizonte para estudar, em uma performance do humorista no Zás.

O presidente da ALMG, deputado Adalclever Lopes (PMDB), destaca que o Poder Legislativo apoia a cultura desde a promoção de iniciativas como o Zás, passando pela manutenção de espaços como o Teatro e a Galeria de Arte do Espaço Político-Cultural Gustavo Capanema, até os debates em torno do Plano Estadual de Cultura.

“É muito oportuno, ao comemorarmos esses 20 anos do Zás, enfatizar a nossa intenção de revitalizar o apoio do Legislativo à cultura, com uma série de iniciativas que, em breve, serão conhecidas, sempre no sentido de dar oportunidade aos nossos artistas. Por meio dessa iniciativa, a ALMG mostra seu compromisso com as artes, nas suas mais variadas expressões", completa Adalclever Lopes.

Por um espaço na televisão

A história desse palco para talentos diversos começou em 1996. O servidor aposentado da ALMG Silas Veloso foi um dos precursores do programa. “A ideia era que fosse alguma coisa curta, rápida, apenas para a hora do almoço, e essas características ficaram até no nome: Zás”, conta. Foi o primeiro programa cultural capitaneado pela Casa Legislativa que, até aquele momento, apenas cedia o espaço do teatro para espetáculos externos.

No início, as dificuldades começavam na contratação dos artistas, que precisava ser feita sem nenhuma verba. Silas Veloso conta que foram usadas algumas estratégias para compensar a falta de cachê. Primeiro, buscou-se oferecer relatórios críticos sobre a apresentação para que os artistas pudessem melhorar suas performances. Segundo ele, a ideia não funcionou muito bem, diante das dificuldades de muitas pessoas em receber críticas. Em seguida, passou-se a oferecer tíquetes para almoços.

E, assim, as propostas foram melhorando até que se pudesse oferecer um cachê. Houve um tempo, ainda nos primeiros anos, em que a TV Globo fazia comerciais de 15 segundos das apresentações e isso se tornou um grande chamativo para os artistas. “A Lô era pidona, por isso conseguia essas coisas”, diz a produtora Carla Godoy, referindo-se à servidora da ALMG aposentada que foi uma das primeiras produtoras do Zás, Heloísa Duarte.

A gravação e transmissão do show na TV Assembleia também passou a ser uma moeda de troca. “Produzir um material em audiovisual de qualidade ainda é uma coisa cara. Então, ganhar isso para depois apresentar o trabalho em outros lugares é sempre muito importante”, diz o músico Flávio Henrique, do quarteto Cobra Coral. Ele se apresentou pela primeira vez no Zás em 2001, quando iniciava a carreira musical. “O Teatro da ALMG em si é pequeno, mas pode levar o artista longe”, afirma.

Essa é a esperança de músicos como Francisco José Rocha, do grupo Faca Amolada, formado por ele e seus dois filhos. Com um projeto batizado de “Pelas cidades... no olho da rua”, eles se apresentavam em espaços públicos da Capital mineira quando foram vistos por um produtor da TV Assembleia. Gravaram um programa e, em seguida, apresentaram-se no Zás no segundo semestre de 2015.

O convite chegou em um bom momento, já que, segundo Francisco Rocha, eles têm encontrado dificuldades com a fiscalização da Prefeitura de Belo Horizonte para se apresentar na rua. Com a gravação das quatro músicas apresentadas no Zás, Francisco pretende produzir um DVD e conquistar, assim, novas apresentações.

Portas para o sucesso

Artistas hoje consagrados passaram pelo palco do Zás, como Paula Fernandes e Toninho Horta. É o caso, ainda, de Wilson Sideral. “Na época eu estava começando, tocava em bares. Foi a primeira vez que me apresentei em um teatro”, conta. “É diferente. As pessoas vão ao teatro não para paquerar ou para beber, vão para assistir a um espetáculo. Todas as luzes são para o artista, ele está em primeiro plano”, completa.

O cantor recorda-se do primeiro show, no fim da década de 1990, quando apresentou, por exemplo, a música “Fácil”, que tinha acabado de compor. “O Jota Quest só foi gravar a música meses depois e ela se tornou a mais tocada nas rádios em 1998", conta.

Enquanto Sideral ainda iniciava a carreira, ele gravou para o CD do Zás a música “Eu estarei com você”, que acabou se tornando o primeiro registro profissional da sua empreitada solo. “Até então eu só tinha um demo caseiro”, lembra-se. Ele destaca, ainda, que a mesma música foi gravada posteriormente para o seu primeiro CD, mas a letra foi bastante modificada, com a manutenção apenas do refrão. “Aquela primeira versão foi quase exclusiva para o Zás”, destaca.

Improvisação marca início do programa

A estrutura do programa Zás melhorou muito nas últimas duas décadas. No início, a iluminação, o som, o cenário, tudo era feito de improviso. “Tinha o Tarcísio, que fazia o cenário com material reciclado, e o Emerson, que alugava o som para nós por um preço irrisório. Teve muita gente ajudando”, lembra Heloísa Duarte. Até o espaço era disputado com os organizadores de eventos políticos da ALMG, o que levou ao adiamento de uma das primeiras apresentações, que seria de dança flamenca. Demorou um pouco para que o espaço cultural do Zás se consagrasse na cena cultural de BH.

Com o passar dos anos, os equipamentos necessários para os espetáculos foram sendo adquiridos. Assim como as verbas para os cachês, essas melhorias só foram possíveis graças aos patrocinadores que começaram a investir na ideia.

Nos últimos anos, estiveram ao lado do programa a Associação dos Servidores do Legislativo do Estado de Minas Gerais (Aslemg), a Associação dos Aposentados da ALMG (Aplemg) e a Cooperativa de Crédito dos Servidores dos Poderes Legislativos do Estado de Minas Gerais e do seu Órgão Auxiliar Ltda (Sicoob Cofal). “Se não apoiássemos ações como essa, apenas aqueles que têm dinheiro para investir seriam beneficiados, o que contraria os princípios do cooperativismo, que pregam o respeito e o retorno das ações à toda a comunidade”, explica José Ramos dos Santos, diretor-geral da Cofal, que apoia o Zás desde 2003.

Que o fim de semana comece!

Guilherme Niffinegger Chartone é servidor da ALMG e um dos mais assíduos frequentadores do Zás. “Já planejo minha sexta-feira pensando nisso, faço um almoço mais rápido e, às vezes, nem almoço”, conta o servidor, que elogia a curadoria do programa.

Mas nem sempre o público foi fiel assim. Heloísa Duarte conta que, no início, como ninguém conhecia o programa, era preciso “laçar as pessoas” pelos corredores. “Como instituição pública, acho natural e importante que a Assembleia trabalhe pela democratização da cultura e abra espaço para artistas iniciantes”, afirma. Assim, ela relembra algumas exibições de alta qualidade que assistiu durante o programa e destaca uma apresentação de dança só com pessoas com deficiência. “Todo mundo que estava lá chorou e se emocionou”, disse Heloísa.

Uma das preocupações da curadoria é com a diversidade da programação. Dança, música, teatro, tudo cabe nos minutos do Zás. “Há alguns anos atrás, só se conseguia ouvir música sertaneja em Belo Horizonte. Nosso palco acabou virando espaço para outros estilos”, recorda-se a produtora Carla Godoy. Assim, a equipe não apenas recebe as propostas dos artistas e as avalia, como também se mantém atenta ao quem tem acontecido no cenário cultural da cidade para convidar nomes que estão se consagrando. Sem dúvida, há sempre uma boa opção para um “happy hour adiantado”.

Comemorações - Para celebrar os 20 anos do programa Zás, o Espaço Político Cultural Gustavo Capanema, no andar térreo do Palácio da Inconfidência (Rua Rodrigues Caldas, 30, Santo Agostinho - Belo Horizonte), recebe uma exposição aberta ao público. As visitas podem ser feitas entre 23 de fevereiro e 11 de março, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas.

A TV Assembleia também preparou um programa especial, que irá ao ar pela primeira vez na segunda-feira (29/2/16), às 19h30.