Reunião em Sabará foi marcada pela necessidade da mobilização de todos no combate ao uso de crack na cidade
Parlamentares concordam que o combate às drogas é um problema de todos

Sabará cobra mobilização para combate ao crack

Falta de local de acautelamento de menores apreendidos e de um centro de recuperação foram alguns dos problemas citados.

20/05/2014 - 14:00

A falta de um local de acautelamento do menor de idade apreendido e a inexistência de um centro de recuperação para dependentes químicos. Esses são alguns dos problemas apresentados pelo capitão Wellington Alves, da 15ª Companhia Independente de Sabará, nesta terça-feira (20/5/14), em audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao uso de Crack e outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião, solicitada pelo deputado Wander Borges (PSB) e pela deputada Rosângela Reis (Pros) aconteceu na Câmara Municipal de Sabará (Região Metropolitana de Belo Horizonte), e foi marcada pela necessidade da mobilização de todos no combate ao uso de crack na cidade.

O capitão Wellington Alves apresentou números que confirmam a demanda. Segundo ele, no primeiro trimestre deste ano, 38 menores foram apreendidos em Sabará, todos envolvidos com o tráfico de drogas, e não ficaram sequer 12 horas recolhidos. De acordo com o capitão, esse é um problema recorrente, já que o acautelamento em Sabará tem sido apenas domiciliar, sem efeito punitivo. “Ficamos enxugando gelo”, disse.

Wellington Alves Informou, também, que, no primeiro trimestre de 2013, foram feitas 52 ocorrências de apreensão de drogas, sendo que, no mesmo período de 2014, esse número saltou para 77 casos, totalizando 120 kg de drogas. Também nesse período foram recolhidas 78 armas.

Outra demanda apresentada pelo capitão Wellington diz respeito à falta de uma clínica de reabilitação na cidade. Presente na reunião, o secretário de governo da Prefeitura de Sabará, Moacir Barbosa de Figueiredo, havia dito que o Executivo municipal tem um projeto de uma casa para recuperação dos dependentes químicos e que o combate às drogas é uma preocupação da atual gestão municipal. Neste sentido, a deputada Rosângela Reis informou que vai apresentar requerimento para instalar um centro de recuperação socioeducativo na cidade.

Já o presidente da Federação de Comunidades Terapêuticas Evangélicas do Brasil (Feteb), Wellington Antônio Vieira, afirmou que instalou a primeira comunidade terapêutica na cidade há 14 anos, que é reconhecida pelos governos federal e estadual. Há dez anos, no entanto, não recebe recursos da prefeitura e não tem sequer coleta de lixo na porta. “Temos quatro comunidades terapêuticas na cidade. Antes de abrir algo aqui é preciso procurar saber quem está fazendo algo e fortalecer essas comunidades”, cobrou Wellington Antônio Vieira.

Outra demanda apresentada pelo capitão Wellington Alves foi de uma atuação mais efetiva da legislação e do judiciário e, como exemplo, informou que os cinco maiores traficantes da região de Sabará já foram presos, ficaram menos de seis meses retidos, e hoje estão todos na rua. “Fazemos um trabalho de repressão de qualidade”, afirmou ao destacar que sua companhia conta com 250 homens e mulheres para atender Sabará, Caeté, Nova União e Taquaraçu de Minas.

O delegado titular de Sabará, Guilherme Guimarães Catão, cobrou, também, o envolvimento da sociedade no combate às drogas. Segundo ele, o tráfico de drogas na cidade é “familiar”, uma vez que o traficante mora na comunidade, é amigo de infância de muitos menores que o veem vendendo drogas e comprando bens que não tem. De acordo com Guilherme, o traficante se torna uma referência para um menino de 14 anos. “Precisamos sair da zona de conforto em Sabará. O combate ao tráfico de drogas começa com vocês, na sua comunidade, mostrando que traficante não tem futuro”, cobrou Guilherme.

Subsecretário reivindica repressão eficiente

O subsecretário de Políticas Sobre Drogas da Secretaria de Estado de Defesa Social, Cloves Eduardo Benevides, disse que, com os avanços na legislação, a partir de 2006, o número de prisões por tráfico de drogas subiu mais de 500%. No entanto, a desassistência em torno da lei e a fragilidade para acolher os usuários também estão aumentando.

Para Cloves Benevides, é impossível ter a reversão do quadro de aumento das drogas sem a repressão eficiente. Como exemplo, informou que apenas mil homens são responsáveis pelos 16 mil km de fronteira seca do Brasil. Outro dado apresentado por Benevides foi relativo ao Aeroporto de Confins, que tem apenas quatro agentes da Polícia Federal.

Na opinião de Benevides, as reuniões da ALMG são importantes para ouvir as comunidades e preparar as alianças locais, mas que ele não deixa de se indignar com a falta de política de prevenção de drogas no Brasil. O subsecretário disse que escuta as críticas e reconhece os avanços, mas cobra e busca ações para enfrentar o combate ao crack, que já tem 30 anos de consumo. Como exemplo disse que o Programa Crack, do governo federal, destinou R$ 4 bilhões no período de quatro anos, de 2011 a 2014. “No entanto, só as despesas com trauma, acidentes e mutilações, vinculados ao uso do álcool e outras drogas, consomem R$ 5 bilhões por ano. Essa conta não fecha”, afirmou Benevides.

Deputados querem ajuda da sociedade no combate ao crack

O presidente da comissão, deputado Vanderlei Miranda (PMDB), destacou que a comissão tem percorrido todas as regiões do Estado para debater o assunto e que o crack “tem sido o flagelo de nossas famílias em todos os lugares onde temos passado”. Ponderou que são as mesmas situações e preocupações e que em Sabará não é diferente. “O crack já chegou, inclusive, a trabalhadores da zona rural e a tribos indígenas. A pergunta é: onde mais resta chegar?”, refletiu ao destacar que o uso da droga é um problema de todos e que abraçando a causa pode ser possível dar uma grande contribuição para diminuir esse flagelo.

A tentativa de minimizar o problema, que deve ser encarado como de todos, também foi ressaltada pela autora do requerimento, deputada Rosângela Reis. Segundo ela, essa ação de mobilização da ALMG, trazendo a discussão do crack para as cidades, é importante porque “a cada discussão que trazemos é um passo que avançamos”. Ela convidou, ainda, todos a participarem da 3ª Marcha contra o Crack e Outras Drogas, que acontece neste sábado (24), na Capital e em Betim.

Também autor do requerimento para o debate, o deputado Wander Borges, concordou que o combate às drogas é um problema de todos, principalmente porque a droga está sendo disseminada por todo o País. Segundo ele, o Brasil está vivenciando um momento dramático para a sociedade, que demanda melhorias em diversos setores como saúde, educação e assistência social. “Precisamos redesenhar o modelo de atuação para que esse gráfico ascendente venha diminuir”, disse Wander Borges. 

Consulte o resultado da reunião.