O deputado Dinis Pinheiro e a deputada Luzia Ferreira entregaram o diploma e um bóton de uso exclusivo dos deputados ao filho de Armando, Arnaldo Ziller
O ex-deputado Antônio de Faria Lopes era amigo de Ziller

ALMG oficializa restituição do mandato de Armando Ziller

Ao devolver simbolicamente o título ao deputado cassado em 1948, Legislativo mineiro reescreve sua própria história.

18/09/2013 - 19:16

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reescreveu a sua própria história na tarde desta quarta-feira (18/9/13), ao oficializar, em ato solene, a restituição simbólica do mandato de deputado estadual a Armando Ziller, parlamentar cassado em janeiro de 1948. Eleito pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1947, perdeu o cargo devido ao cancelamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do registro da legenda. O diploma e um bóton de uso exclusivo dos deputados foram entregues ao filho, Arnaldo Ziller, que afirmou que a cerimônia tem importância ímpar para toda a família e para a memória política do Estado.

Com a aprovação do Projeto de Resolução (PRE) 4.163/13, que determinou a devolução do mandato a Ziller, transformado posteriormente na Resolução 5.437, a Assembleia permitiu a reparação de erro histórico motivado por pressão do então presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, que se alinhou à política de combate ao comunismo no período da guerra fria. A proposição foi apresentada pela deputada Luzia Ferreira (PPS). O texto foi promulgado pelo presidente da Assembleia, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), no dia 13 de julho deste ano.

Após a exibição de vídeo produzido pela TV Assembleia, resgatando a trajetória de Ziller, a deputada abriu os pronunciamentos, lembrando que o ato de cassação do único representante do PCB na ALMG foi imposto à Casa. “A decisão de cassá-lo não foi do Parlamento mineiro, mas é com muita alegria que reparamos hoje essa injustiça. Devolvemos ao povo de Minas o exercício de sua vontade. Nossa jovem democracia é resultado da luta de homens como Armando Ziller”, ressaltou.

Arnaldo Ziller, que recebeu das mãos de Luiza Ferreira e Dinis Pinheiro o diploma alusivo ao mandato de deputado de Armando Ziller e bóton utilizado pelos parlamentares, agradeceu a iniciativa e traçou um panorama da vida pública e pessoal do sindicalista e comunista. Ele destacou o ingresso do pai no sindicato dos bancários e a coerência do leitor assíduo dos filósofos Karl Marx e Georg Hegel e também da Bíblia.

O filho do dirigente sindical recordou também a cassação do mandato, nove meses depois de o pai ter sido eleito com expressiva votação, a demissão do Banco do Brasil, um atentado contra a vida sofrido em Nova Lima (Região Metropolitana de Belo Horizonte) e até mesmo ordens de prisão, “sem saber do que era suspeito”, atos motivados, segundo Arnaldo, apenas por perseguição ideológica. “Mas seu legado continua vivo e sua vida se equivale às suas convicções”, concluiu.

O deputado Ivair Nogueira (PMDB), representando o presidente Dinis Pinheiro, leu pronunciamento em que afirmou que a ALMG finalmente reconduziu Ziller ao lugar de relevância na memória da política mineira. Ele ainda salientou a lealdade do militante de esquerda a seus princípios. Perguntado se poderia trocar umas ideias, ele lhe respondeu: "Podemos conversar, mas trocar ideias, não. Gosto das minhas”.

Amigos lembram atuação de Ziller

Para o ex-deputado Antônio de Faria Lopes, a devolução do mandato a Ziller “não muda o passado, mas lembra que a liberdade é uma conquista que exige vigilância". Lopes, que militou no movimento sindicalista ao lado de Ziller, disse que o amigo não deve estar satisfeito com as atuais centrais sindicais, “todas atreladas a partidos políticos”, o que ele considerava um erro. “O sindicato é de todos, e não do partido. Aprendi isso com Ziller e levei para toda a vida”.

Já o presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), Paulo Elisiário Nunes, também companheiro de partido, lembrou os anos de exílio em que conviveu com Ziller. Ele contou que, ao voltar para o Brasil após a anistia em 1980, eles se reencontraram e passaram a militar com a “missão” de resgatar a legalidade do Partido Comunista Brasileiro. “Legalidade ou cadeia, jamais a ilegalidade”, bradava Ziller, conforme anunciou Nunes.

Deputados – O deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB) também lembrou a história de Ziller, que segundo ele, foi um dos homens que enfrentaram “de peito aberto a ditadura”. O deputado João Leite (PSDB) ressaltou a iniciativa da ALMG e disse que a memória de Ziller não pode ser esquecida e que teve hoje o seu merecido reconhecimento. O deputado Pompílio Canavez (PT) também se manifestou, e ressaltou que Ziller sempre colocou seu ideal acima da própria vida.

Também compuseram a mesa o secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Cássio Soares; o presidente municipal do PCB, José Neles; e o presidente da Federação dos Bancários de Minas Gerais, Alfredo Brandão.