O Fórum Técnico Mobilidade Urbana - Construindo Cidades Inteligentes reuniu sugestões para melhorar o uso do espaço urbano. Veja as contribuições da Consulta Pública. Conheça os eventos do fórum técnico.

Saiba mais sobre os temas. Conheça pontos de vista de especialistas, do governo e da sociedade. Tire suas dúvidas sobre o significado de termos e expressões.

Os Quatro Temas do Evento
  • Tema 1 - Mobilidade Urbana e Desenvolvimento das Cidades: Governança Política, Planejamento Integrado e Articulação das Políticas Públicas
    1. Marco legal e as competências dos entes federados. 2. Planejamento urbano integrado (instrumentos e órgãos executores), planos diretores, usos e ocupação do solo. 3. Política Nacional de Mobilidade Urbana. 4. Participação e gestão democrática. 5. Direitos fundamentais e a mobilidade urbana (desapropriações; direito à cidade e a superação da segregação sócio-espacial; questão da moradia). 6. Regime de trabalho e condições ocupacionais dos trabalhadores nos sistemas de transporte. 7. Mobilidade e a questão das deseconomias urbanas (externalidades).
     
  • Tema 2 - Cidades e Infraestrutura de Mobilidade Urbana: Desafios e Estratégias
    1. Transporte coletivo (expansão do sistema, integração de diversos modais, prioridades e qualidade do serviço). 2. Transporte por automóveis (dilemas do modelo e as políticas de estímulo versus as políticas de desestímulo). 3. Transporte não motorizado. 4. Logística de abastecimento nas cidades e regiões (transporte de cargas, mercadorias e valores). 5. Rotas de pedestre, travessias, resgate da mobilidade nas calçadas. 6. Planos e intervenções emergenciais e mapeamento dos gargalos que impedem a fluidez do trânsito.
     
  • Tema 3 - Desafios da Efetividade do Planejamento em Mobilidade Urbana: Financiamento, Fiscalização e Controle Social
    1. Papel dos entes federados: cofinanciamento e fiscalização. 2. Diversas formas de custeio da implementação e da manutenção: recursos orçamentários, investimento privado, subsídios, empréstimos e financiamentos, instrumentos de cooperação: concessões e parceiras público-privadas, política tarifária: equidade e compensações. 3. Fiscalização: aplicação de recursos, implementação dos projetos, operacionalização dos sistemas. 4. Controle social e participação.
     
  • Tema 4 – Mobilidade Urbana e Cidades Inteligentes e Sustentáveis: Educação, Acessibilidade, Meio Ambiente e Novas Tecnologias
    1. Educação para a mobilidade sustentável (educação de trânsito; comunicação adequada dos serviços; cidades educadoras; inclusão digital; etc.). 2. Meio ambiente e mobilidade urbana (poluição; efeito estufa; saúde e qualidade de vida; energia limpa; etc.). 3. Saúde e Violência no Trânsito. 4. Pesquisa e agregação de novos conhecimentos e de novas tecnologias para a mobilidade urbana (inovação; conectividade; cidades digitais). 5. Desenho universal (pesquisa, tecnologia e acessibilidade).
Contexto - O Caos Urbano e a Mobilidade

A mobilidade urbana é um tema que desafia sucessivos governos no Brasil e compromete a qualidade de vida nos centros urbanos.

Entre 1950 e 2000, a população urbana brasileira saltou de 19 milhões para 138 milhões, um salto de 633,4%. A taxa de urbanização, que era de 36,1%, saltou para 81,2%. No Sudeste, região onde a urbanização é mais intensa, houve aumento relativo de 510% em sua população urbana entre 1950 e 2000, o que em dados absolutos perfaz mais de 54 milhões de pessoas. Em 2010, com 190.732.694 habitantes, a taxa de urbanização chegou a 84%.

Esse salto traz impactos na questão da mobilidade urbana, tornando ainda mais urgente um planejamento que considere o uso e ocupação do solo e a logística de abastecimento nas cidades e regiões.

Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC), feita em 2011, mostra que cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte ficarão intransitáveis em no máximo 12 anos. Pesquisa da FDC aponta que, sem investimentos, São Paulo vai praticamente parar daqui a quatro anos, avenidas do Rio de Janeiro ficarão intransitáveis em oito, Belo Horizonte e Porto Alegre terão lentidão permanente em suas vias daqui a 12 anos, se nada for feito.

O problema ganha nova dimensão por causa da proximidade da Copa das Confederações, em 2013, da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Esses eventos esportivos justificaram o anúncio de diversas obras de mobilidade urbana em Minas, muitas das quais não deverão sair do papel.

Pontos de Vista

Luciano Medrado
Economista, consultor de desenvolvimento e logística do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Minas Gerais (Setcemg)
"A integração do plano logístico urbano com o plano diretor das cidades confere organização sistêmica da mobilidade, das pessoas e veículos pela estrutura dos municípios. A falta da logística favorece o caos urbano. É necessária a elaboração de um plano de desenvolvimento urbano sustentável integrado, composto pelo plano diretor de uso e ocupação do solo, do plano de preservação do meio ambiente, do plano de logística de abastecimento urbano, do plano econômico e social e do plano de mobilidade urbana." Veja a entrevista completa »

José Aparecido Ribeiro
Presidente do conselho empresarial de Política Urbana da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas)
“Nosso modelo de cidade espelha-se no americano, enquanto pensadores da mobilidade desejam o modelo europeu. A Rede Globo replica em 98% das pessoas o modelo americano, não é o europeu. São cidades como Detroit, Los Angeles, Miami, Nova York, Dallas. O carro está no inconsciente do brasileiro. Rico e pobre têm o mesmo sonho de consumo: carro. Somos uma sociedade individualista. Os xiitas da mobilidade vão continuar quebrando cabeça, mas a cidade precisa de vias expressas." Veja a entrevista completa »

Guilherme Lara Camargos Tampieri
Voluntário da Associação de Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo) e do Movimento Nossa BH
"A principal dificuldade para a massificação do uso da bicicleta em Belo Horizonte é a falta de educação dos motoristas, sejam eles profissionais ou não. Além disso, se faz necessário que existam mecanismos institucionalizados e legitimados pelos governos de desestímulo ao uso do automóvel particular. Concomitantemente, é preciso que haja alternativas atrativas à locomoção automotora individual, como, por exemplo, calçadas acessíveis e bem estruturadas, sinais menos demorados para pedestres e ciclistas, ciclovias onde há necessidade, de fato, de tê-las, além de transportes coletivos variados (BRT, ônibus, VLT, metrô, monotrilho etc.)." Veja a entrevista completa »

Geraldo Spagno
Mestre em Direito Administrativo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autor do livro Comentários à Lei de Mobilidade Urbana
O maior entrave ainda é a falta de educação para a mobilidade entre os brasileiros, que, em sua maioria, até sabem se conduzir adequadamente quando em viagem ao exterior e se espelham na cultura local quando lá estão, mas não repetem essa postura quando se deslocam em transporte, motorizado ou não, em nossas vias públicas. Outro entrave é que ainda está sendo travada uma guerra entre modais, contaminando um pouco a escolha para cada local, a qual deve considerar, preferencialmente, componentes técnicos, econômicos e geográficos, nessa ordem de importância. Veja a entrevista completa »

Milton Nogueira da Silva
Engenheiro, consultor internacional para mudanças climáticas, energia e negociações multilaterais Belo Horizonte (Brasil) e Viena (Áustria)
Cidade inteligente, chamada smart city em inglês, faz intenso uso das Tecnologias da Informação (TI) para o bem-estar das pessoas e para a democracia. A vida das pessoas depende de coisas básicas que podem ser melhoradas com as TIs: mobilidade urbana rápida, confortável e segura; meio ambiente saudável, bonito e em sintonia com a natureza; menos emissões de poluentes; economia frugal, sem consumismo ou desperdícios, com menos resíduos; governança democrática, em favor dos vários setores, galeras, tribos e épocas; e, o mais importante, pessoas capazes de exercer efetivamente a cidadania, através do controle social e democrático da coisa pública. Veja a entrevista completa »

Sônia da Costa
Secretária interina da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis), do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

"A tecnologia pode incorporar maior qualidade e eficiência a um sistema de transporte urbano, em particular no que diz respeito à disponibilidade de transporte público de qualidade por todo o território, redução do tempo de viagem que um passageiro requer entre sua residência e o local de trabalho, redução das distâncias percorridas utilizando-se de sistemas de gestão mais inteligentes. O custo referente às diversas viagens que faz um trabalhador para se deslocar ao centro pode ser reduzido, gerando economia. E a universalização do transporte de qualidade pode criar oportunidades de trabalho, considerando-se que a maior parte da população de baixa renda reside em regiões distantes dos principais centros comerciais e que as dificuldades de deslocamento são fatores de exclusão social na cidade." Veja a entrevista completa »

Caralampo Focas
Pesquisador da Unidade de Estudos de Transportes da Universidade de Oxford
"Algumas medidas implantadas em Londres que contribuíram para a mobilidade urbana. Há a cobrança pelo uso de determinadas áreas. São 10 libras para entrar em certos locais e há multa de 120 libras para quem não respeita. Há um sistema de reconhecimento das placas que é bastante preciso. O valor é direcionado para melhorias no trânsito. Esse é o maior sistema nesse sentido já construído, considerando outros países. Ainda assim afeta apenas 1% do trânsito. Houve diminuição comprovada de 16% de pessoas circulando de carro pelos locais e de 20% na emissão de poluentes."

Francesc X. Ventura i Teixedor
Arquiteto e professor da Universidade Politécnica da Catalunha, Espanha
"É importante reconhecer os bons exemplos na área, mas o Brasil tem que encontrar suas próprias soluções em seu próprio tempo. Em alguns países, o transporte é um serviço público; em outros, o serviço público é um negócio. Gasta-se muito em medidas estruturantes, mas se deve gastar também para integrar tecnologias e tirar proveito disso. A mobilidade urbana é como o corpo humano: para funcionar bem, cada parte integrada deve cumprir seu papel”.

Marcelo Perrupato
Secretário de Política de Transportes do Ministério dos Transportes
“É preciso considerar que as soluções que funcionaram na Europa podem não funcionar aqui. Lá, não vivem o momento econômico e o crescimento demográfico vistos no Brasil. Então, é necessário tropicalizar essas boas práticas”, diz ele.

Victor Monfort
Representante da Delegação da União Europeia no Brasil
“Na União Europeia, 60% da população vivem em áreas urbanas e a mobilidade urbana é responsável pela emissão de 40% de CO2 na atmosfera. As cidades europeias têm problemas comuns ao Brasil quanto à mobilidade. Os congestionamentos custam 1% do nosso PIB anualmente, porque trazem prejuízos econômicos”, disse.

 Manuel Alsaverri Ferrer
Consultor estratégico da Indra, companhia global de tecnologia com sede da Espanha
As cidades inteligentes fazem uso pleno das capacidades tecnológicas para ampliar a qualidade de vida da sua população. Esses locais requerem uma mobilidade inteligente, que segue um modelo interconectado, dinâmico, em rede, no qual as informações circulam. Tenho um telefone celular e não o uso o dia inteiro, mas apenas nos momentos adequados. Com o carro deve ser a mesma coisa”.

Cézar Taurion
Economista e gerente de Novas Tecnologias da IBM
"Cidade inteligente é a que otimiza a capacidade da infraestrutura já existente. Com o uso inteligente de tecnologias, o mesmo número de ruas suporta muito mais automóveis, ônibus ou VLTs, além de veículos limpos, como as bicicletas e outras opções leves de transporte. Muitas vezes, os investimentos em tecnologia tendem a ser bem menores do que os investimentos em obras físicas. A tecnologia pode ser usada a favor da mobilidade urbana, com a construção de sistemas de controle que previnam congestionamentos ou que disciplinem o acesso a regiões centrais, por meio de sistemas automáticos de pedágios urbanos, por exemplo."

André Luis Paraense
Engenheiro e especialista em soluções para mobilidade urbana
"Somente as cidades inteligentes serão capazes de lidar com os congestionamentos cada vez mais frequentes e de promover um estilo de vida que não seja o dependente dos automóveis. Uma cidade onde os diversos modais de transporte público se encontrarão de forma transparente, segura e confortável para as pessoas, que não mais trocarão viagens curtas a pé e de bicicleta por locomoções de carro. São consideradas a instrumentação, na qual o funcionamento dos sistemas é captado e transformado em dados; a interconexão, quando diferentes sistemas conversam, entregando dados uns ao outros e transformando-os em informação; e inteligência, que é a habilidade de utilizar a informação, modelando padrões e comportamentos que possibilitem ações informadas."

Luciano Medrado
Consultor do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg)
“Temos que reconhecer humildemente que o tema Mobilidade Urbana é um conhecimento que não está acumulado no Brasil. Isso está claro no caos das grandes cidades e na desorganização de cidades de menor porte, reflexo da falta de conhecimento de um tema especializado no País. As universidades brasileiras não têm nenhuma cadeira que trata de mobilidade urbana. Estamos aqui convocados para pensar o futuro. Estamos fazendo aqui formação de massas críticas. Temos que evitar preconceitos, corporativismos, nacionalismos, que não vão gerar o resultado que se é esperado pela sociedade com esse evento que está sendo criado aqui.” (15/4/2013)

Alexandre Cordeiro
Secretário-executivo do Ministério das Cidades
“O transporte coletivo de qualidade gera inclusão social e democratização do espaço. A sustentabilidade gera humanização.” (8/4/2013)

Enrique Peñalosa
Consultor em estratégias urbanas e ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia
“Uma boa cidade não é aquela onde os pobres andam de carro, mas sim aquela onde até os mais ricos usam o transporte público. Ao pensar sobre qualidade de vida nas grandes cidades e sobre mobilidade urbana, deve-se refletir sobre em qual cidade as pessoas desejam viver. As melhorias dependem das medidas que deem menos espaço para o carro, o que passa, prioritariamente, por decisões políticas." (8/42013)

Geraldo Spagno Guimarães
Professor da Fundação João Pinheiro (FJP) e autor do livro Comentários à Lei de Mobilidade Urbana - Lei nº 12.587/12 - Essencialidade, sustentabilidade, princípios e condicionantes do direito à mobilidade
"Há no Brasil, atualmente, uma grande disputa entre os diversos modais. Cada um defende aquele que corresponde ao seu interesse. Mas é preciso considerar que cada um é adequado a uma realidade social, econômica e topográfica.” (11/4/2013)

Oswaldo Dehon
Coordenador da Câmara Temática Mobilidade Urbana do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG)
"A opção pelos modos de transporte público leva em consideração questões técnicas. É preciso verificar os deslocamentos urbanos e o custo-benefício e efetividade dos modos. Considerar apenas a questão da capacidade de um modo de transporte coletivo é insuficiente. Tem que levar em conta também a operação. Mas é preciso ver a questão do custo. E isso tem a ver com as desapropriações necessárias para a implantação de determinado transporte e também com questões ambientais. Não se pode considerar apenas o custo do quilômetro do meio de transporte, por exemplo." (12/4/2013)

Deputado Célio Moreira
Presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG
"No Brasil, de modo geral, falta uma maior identificação entre a população e a bicicleta, como acontece em outros países, onde o modal está no centro de importantes eventos. Aqui, além da falta de incentivo, a violência do trânsito acaba sendo um desestímulo ao seu uso. O ideal é que o poder público privilegie o ciclismo construindo ciclovias e promova também eventos esportivos aproximando a população da prática do ciclismo, num contexto ecológico.”

Otávio Vieira da Cunha Filho
Presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)
"A tarifa pública dos serviços de transporte urbano coletivo de passageiros deve ser um instrumento de política social. Deve ser compatível com o poder aquisitivo daqueles que dependem do transporte público. A diferença entre o custo do serviço e a tarifa pública deve ser subsidiada pelo Estado. Esse custo deve ser repartido proporcionalmente com toda a sociedade. “Obviamente, quanto maior for o nível desejado, maior serão os custos da operação dos serviços. " (13/5/2013)

Francisco de Assis Maciel
Presidente da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo de Belo Horizonte (AUTC)
“Infelizmente, não temos um Plano de Mobilidade, mas sim um Plano de Mercado da Mobilidade. É um mercado extremamente promissor do ponto de vista financeiro, pois supera até os limites de um modelo capitalista selvagem, onde prevalece a demanda cativa e compulsória, sem venda a prazo, portanto, sem inadimplência, em que todos os custos do sistema são cobertos pela receita desse mesmo sistema. O custo é igual à receita. Isso significa que qualquer oscilação positiva no custo da operação do 'negócio' será reembolsada no cálculo da passagem que aumenta, e qualquer oscilação negativa no custo dessa operação será apropriada como lucro para as empresas, a título de economia operacional, sem redução da tarifa. Seja qual for o resultado do desempenho do negócio, a receita é garantida para cobrir o custo. Essa lógica perversa onde custo é igual a receita impossibilita uma política tarifária e impõe uma abusiva política de reajuste tarifário."

Deputado Ivair Nogueira (PMDB)
"Considerando a Lei 12.587, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, a política tarifária tem como diretriz a melhoria da eficiência e da eficácia na prestação dos serviços e deve ser instrumento da política de ocupação equilibrada da cidade, de acordo com os Planos Diretores Municipal, Regional e Metropolitano. É preciso transparência na estrutura tarifária para o usuário, que deve saber o quanto custa exatamente o serviço prestado, considerando aí gastos na manutenção de um serviço seguro e de qualidade."

Sérgio Luís Ribeiro de Carvalho
Gerente de Controle e Estudos Tarifários da BHTrans
"Para implantar uma boa política tarifária, além do atendimento às necessidades de deslocamento dos usuários e da viabilidade econômica do sistema, deve-se avaliar a tecnologia disponível, a diretriz de governo, a rede viária e de transportes existentes, dentre outros aspectos socioculturais da região a ser atendida. A utilização de sistemas de bilhetagem eletrônica, por exemplo, traz a possibilidade de realização de integrações tarifárias com a aplicação de diversas regras de validação. Outro fator a ser levado em conta é a condição sociocultural da população a ser atendida. O costume da população pode interferir em diversas questões, como, por exemplo, a definição do embarque pela porta dianteira ou traseira, a maior ou menor facilidade de absorção da tecnologia de bilhetagem e de entendimento da política tarifária mais ou menos complexa”.

Kátia Ferraz
Presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Centro de Vida Independente de Belo Horizonte (CVI-BH)
“A cidade é para os cidadãos. Cidade inteligente é um exercício de democracia, pois é contemplar todos os cenários que compõem o local de forma a atender todas as pessoas. As pessoas com deficiência estão em todos os lugares. Mesmo assim, grande parte das cidades brasileiras padecem com a falta de políticas de planejamento urbano adequadas. E a somatória dessas duas situações traz reflexos para a rotina dessas pessoas. E a cidade que deveria ser para todos, de certa forma, se torna excludente, como relata Kátia. Isso decorre de uma visão estagnada sobre as pessoas com deficiência, que não são vistas como cidadãs. É como se não fossem consumidoras e não se deslocassem para lugar nenhum."

Deputada Liza Prado
Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da ALMG
“Cabe ao Estado cumprir este dever dando condições de acessibilidade para todos, ainda que para isso sejam necessárias adaptações de modo a contemplar as pessoas com algum tipo de restrição de mobilidade ou deficiência. O primeiro passo é estimular governos municipais e estaduais a desenvolverem medidas que garantam a acessibilidade para todos, indistintamente. O segundo desafio é promover a discussão e ampliar a conscientização sobre os direitos da pessoa com deficiência”, explica."

Ana Lúcia de Oliveira
Coordenadora especial de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese)
"O desenho universal (que garante o uso equitativo dos equipamentos públicos) é o desenho para todos e inclui, além das pessoas com deficiência, idosos e pessoas que estejam temporariamente com mobilidade reduzida, como por exemplo pessoas que quebraram a perna. Visa a objetos, equipamentos e estruturas para serem utilizados por todos. Com o direito à acessibilidade, será possível conquistar com mais facilidade os direitos à saúde, à educação, ao trabalho e ao lazer”. Para ela, o maior desafio ainda é a conscientização do direito da acessibilidade por parte de todos."

Boas Práticas

Tókio
tem um dos sistemas de transporte mais complexos do planeta, integrando ônibus, metrô, balsas, VLTs (veículos leves sobre trilhos) e BRTs (transporte rápido por ônibus). São variadas formas de transporte que somam mais de 10,6 bilhões de viagens por dia.

Nova York
oferece à população diversos meios de transporte, como ônibus, trens, metrô, ciclovias, balsas e faixas exclusivas para pedestres.

Londres
tem o mais antigo metrô do mundo, uma vasta rede de ônibus, trens de superfície e bondes suburbanos. A capital da Inglaterra é pioneira na criação do pedágio urbano. Desde 2003, os carros particulares precisam pagar para circular pelo centro, medida que diminuiu em 30% o número de veículos na região. O sistema público de aluguel de bicicletas foi lançado, em 2010, com quase 600 estações e mais de 8 mil bicicletas.

Paris
tem uma estação de metrô a cada 500 metros. Além disso, a cidade oferece aluguel de bicicletas para o usuário completar seu trajeto.

Moscou
tem um sistema ferroviário que transporta mais de 8 milhões de passageiros diariamente, nos seus 305 km de extensão.

Bogotá, capital da Colômbia,
é exemplo de mobilidade na América Latina.  O ex-prefeito de Bogotá, Henrique Peñalosa (1998-2002), deflagrou à época inúmeras mudanças quanto à mobilidade urbana na cidade, inspirado no modelo de Curitiba. Ele implantou o Sistema Transmilênio de transporte público, baseado na integração de ônibus tipo BRT. Com isso, teve de introduzir outras medidas, como corredores exclusivos para ônibus, uso do solo radicalmente controlado, calçadas acessíveis, rebaixamentos padronizados e passarelas democráticas, restrição de estacionamentos, construção de espaços bucólicos de convivência e valorização de praças. Além disso, integrou 420 quilômetros de ciclovias estruturadas.
São 84 quilômetros de corredores exclusivos e 633 quilômetros alimentadores distribuídos por 1.290 ônibus articulados, 518 alimentadores e 114 estações localizadas em nove zonas urbanas. Pesquisas publicadas no jornal bogotano El Espectador identificaram que um entre cinco proprietários de automóveis migrou para o Transmilênio por ser a opção mais rápida, segura e barata de ida e volta ao trabalho. Números confirmam que, em Bogotá, deixaram de circular cerca de 7 mil veículos por dia.

Curitiba, capital do Paraná,
é considerada destaque em mobilidade urbana no Brasil, com integração multimodal, criação participativa de um plano diretor metropolitano de transporte e mobilidade, implementação de anéis tarifários no transporte público e promoção de transporte limpo e sustentável. Foi a primeira capital, no País, a adotar o BRT como opção de transporte público.

Em Belo Horizonte,
a BHTrans criou o programa Pedala BH, que atualmente faz parte do Plano de Mobilidade da Capital, com o objetivo de promover o uso da bicicleta. Para isso, o programa implanta rotas cicloviárias e estacionamentos para bicicletas, além de campanhas de educação e de segurança no trânsito. O programa identificou 380 quilômetros de rotas possíveis de se implantar ciclovias em Belo Horizonte, e a meta é chegar a esse número até 2020. Com isso, a empresa espera que 6% de todos os deslocamentos da Capital se deem por meio do uso da bicicleta. Atualmente, são 51,3 quilômetros de áreas para ciclistas, contando com projeto de sinalização cicloviária compartilhada no interior do Parque Ecológico da Pampulha. De acordo com a BHTrans, em 2013, há previsão de implantação de mais 26 rotas, incluindo as das avenidas Clóvis Salgado, Olegário Maciel, Barbacena, Carandaí, Teresa Cristina, Olinto Meireles, Dom João VI, Saramenha, além da MG-020, que irão totalizar outros 20,5 quilômetros de ciclovias.

Glossário

Bicicletário - um espaço delimitado exclusivamente para o estacionamento de bicicletas, sinalizado, coberto ou não, em local visível, contendo quantidade suficiente de estruturas de fixação - chamadas "paraciclo" - tal que permita a acomodação de todos os tipos de bicicletas, sem danificá-las e possibilitando a sua fixação com cadeado e/ou corrente fixada pelo quadro.

BRT - o transporte rápido por ônibus é um modelo de transporte coletivo de média capacidade. Nasceu de uma concepção brasileira do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, que o implantou, primeiramente, na capital paranaense e também em Goiânia. São veículos articulados que trafegam em canaletas específicas ou em vias elevadas. Sua implantação também é mais barata do que o metrô.

Cidades inteligentes - fazem uso pleno das capacidades tecnológicas para ampliar a qualidade de vida da sua população. Um dos aspectos em que a tecnologia pode ser usada é a favor da mobilidade urbana com, por exemplo, a construção de sistemas de controle que previnam congestionamentos ou que disciplinem o acesso a regiões centrais, por meio de sistemas automáticos de pedágios urbanos.

Monotrilho - consiste em uma ferrovia de um único trilho, em oposição às ferrovias tradicionais que têm dois trilhos paralelos. Um dos mais antigos monotrilhos do mundo, o de Wuppertal na Alemanha, foi construído em 1901 e ainda se encontra em funcionamento. São mais baratos quando comparados com os sistemas de metrô, mas têm menos capacidade.

Metrô - é um meio de transporte urbano que circula sobre trilho. Tem como características ser um sistema de transporte urbano elétrico, ser independente do restante do tráfego (geralmente subterrâneo), ser frequente, ou seja, com tempo de espera do próximo comboio reduzido. Atualmente, a maior rede de metrô do mundo é a do Metropolitano de Pequim, com 442 quilômetros de extensão.

Mobilidade urbana - é definida como a capacidade de deslocamento de bens e de pessoas no espaço urbano para a realização de suas atividades cotidianas. O engenheiro e especialista em soluções para mobilidade urbana, André Luís Paraense, no artigo "A Harmonia Triádica das Soluções de Mobilidade Urbana para Cidades Inteligentes", afirma que, se a mobilidade é adequada, as pessoas conseguem trabalhar, fazer compras, estudar, cuidar da saúde, se dedicar à cultura e o lazer em um tempo considerado ideal, de modo confortável e seguro.

Mobilidade urbana sustentável - o conceito é amplo e envolve a implantação de sistemas sobre trilhos, ônibus "limpos", com integração a ciclovias, esteiras rolantes, elevadores de grande capacidade. Além disso, contempla soluções inovadoras, como os sistemas de bicicletas públicas implantados em Copenhague, Paris, Barcelona, Bogotá, Boston e várias outras cidades. E, também, calçadas confortáveis, niveladas, sem buracos e obstáculos.

VLT - o Veículo Leve sobre Trilhos é um transporte sobre trilhos de média capacidade, movido a eletricidade e que não tem a via totalmente segregada. Seu tamanho permite que sua estrutura de trilhos se encaixe no meio urbano existente. Tem custo mais alto do que o BRT e implantação mais demorada. Quando o assunto é a emissão de poluentes e o uso de energia limpa, o VLT leva vantagem. Além disso, sua capacidade em transportar passageiros é superior ao do BRT.

 

Etapas do Fórum Técnico