PASTOR MÁRCIO VALADÃO, Presidente da Igreja Batista da Lagoinha
Discurso
Legislatura 18ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 21/12/2017
Página 96, Coluna 1
Assunto HOMENAGEM. RELIGIÃO.
Proposições citadas RQO 3074 de 2017
46ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 18ª LEGISLATURA, EM 15/12/2017
Palavras do Pastor Márcio Valadão
Não sei fazer discurso. Jesus Cristo disse: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Também lemos, na Palavra, uma expressão do Senhor dizendo que o homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dado.
Nesses 60 anos de história da Igreja Batista da Lagoinha, não conseguimos traduzir, em palavras, todo o propósito de Deus. Sei que a igreja nasceu dentro do coração do Senhor. Nasceu do propósito daqueles que passaram por ali pelo pastorado, no caso o pastor Rego, o pastor Joel, que está aqui, o pastor Aírton, que foi quem me batizou, e o pastor Renê. Todos esses homens tão preciosos de Deus deixaram um legado muito grande. Aliás, posso apenas dizer que hoje estou aqui só pela bondade do Pai. Deus faz as coisas tão diferentes dentro dos propósitos dele! A pessoa menos provável para estar aqui seria eu. Nem consigo explicar porque Deus me trouxe até aqui.
Quando me converti à Igreja da Lagoinha, era pouco mais que um adolescente, em 1966. Em 1967, eu já estava no seminário. Quando terminei o curso, foi muito fácil saber para qual lugar eu deveria ir. Na verdade, eu queria ir para o lugar em que pudesse ser mais necessário, então fui para Ponta Grossa, no Paraná. Em 1972, voltei para Belo Horizonte, e, naquele tempo, a igreja estava procurando um pastor. Ninguém me conhecia na igreja, como Márcio, já que lá me chamavam de Marcinho. Eu era o Marcinho. Não existe uma explicação. É coisa de Deus. Aliás, também não conseguimos traduzir, em palavras, a história da Lagoinha. Essa igreja nasceu no coração de Deus, como uma vocação. Uma vocação tão delicada porque nasceu para ser uma inspiração.
Em seguida, veio para Belo Horizonte um casal dos Estados Unidos, a D. Rosalee Appleby e seu esposo. A história é tão interessante que quando a D. Rosalee deu à luz seu filho, o esposo dela estava sendo sepultado. Logo, a junta de missões teve o propósito de levá-la de volta aos Estados Unidos, mas o coração dela dizia que o chamado que recebera era para ficar no Brasil, e ela ficou. Não tive o privilégio de conhecê-la, mas li os livros dela, a sua história. Ela orava por um avivamento no Brasil. Orava para que Deus pudesse levantar uma igreja e orava por Belo Horizonte porque amava esta cidade. Foi aí que nasceu a Igreja Batista da Lagoinha. Uma igreja não é aberta, uma igreja é algo que nasce, e a Lagoinha nasceu no coração de Deus, do Pai. O galpão em que a igreja se reunia existe até hoje, mas a igreja precisava de um pastor.
O pastor Vanderlei gosta muito de futebol, ainda que eu não tenha um time de futebol, mas ele sempre se veste mostrando o seu time de futebol. Qual é o time mais fuleirinho de Minas Gerais? Fuleiro quer dizer o menor de todos. É o Tabajara Futebol Clube. Imaginem vocês se o Tabajara Futebol Clube convidasse o Neymar para jogar no time. O Neymar no Tabajara! Mas Deus havia levantado um nome, o nome do pastor José Rego do Nascimento, em Vitória da Conquista, um homem de uma cultura, de uma unção e uma graça muito grandes, que fazia um ministério tão aprovado e tão lindo! Na verdade, esse pequeno grupo de pouco mais de 20 irmãos convidou o pastor José Rego do Nascimento para sair de Vitória da Conquista para pastorear a Igreja Batista da Lagoinha. Eram 30 pessoas. Era o Neymar vindo para o Tabajara, mas ele tinha a convicção de que era um chamado de Deus em reposta às orações da D. Rosalee. Então ele veio e assumiu o pastorado da igreja e fez isso por Deus.
Naquele momento, o mundo começou a experimentar o Espírito Santo. Em todo o planeta, foi uma obra divina. Era o chamado movimento carismático. Contudo, aqui no Brasil, não existia o movimento carismático, e o pastor Rego iniciou o seu ministério com a convicção de levar a mensagem que ardia no coração dele. Ele iniciou um programa de rádio e o nome do programa foi uma sugestão da D. Rosalee: Renovação Espiritual. A graça, a unção e o modo de ele pregar eram diferentes. Havia algo diferente que cativava as pessoas. Havia poder, havia graça e havia algo tão celestial! No mundo todo, esse derramar do Espírito Santo foi conhecido como movimento carismático, só no Brasil que não. Aqui foi chamado de renovação espiritual, que era o nome do programa da Igreja Batista da Lagoinha. Aquilo foi chamado de movimento carismático, renovação espiritual, e levava as pessoas a conhecerem o Espírito Santo, a terem uma comunhão com Ele. Uma diferença é que o batismo com o Espírito Santo seria um revestimento de poder, de graça e os dons espirituais não terminaram quando nosso pensamento ficou pronto. Os “batistas”, essa denominação foi porque a Igreja da Lagoinha fazia parte da Convenção Batista Brasileira. A convenção aqui de Minas disse: “Essa igreja não é batista”. E tiraram a igreja da convenção, mas ela continuava ligada à convenção brasileira.
Durante um período de anos, um grupo de 13 pastores estudaram sobre a renovação espiritual. Em 1964, a Igreja Batista da Lagoinha foi expulsa da Convenção Batista Brasileira. Nesse tempo a glória de Deus, a realidade da fé já tinha alcançado as denominações de muitos lugares. Tantos lugares, tantos, tantos. A Igreja da Lagoinha teve um novo recomeço. Foi um recomeço sob a responsabilidade tão grande dessa inspiração. Logo em seguida, depois de 1964, o pastor Rego, de uma forma inexplicável até hoje, adoece. Junta-se um pastor. Aí entra o pastor Aírton dos Santos Sales, que foi quem me batizou, e assume então oficialmente o pastorado da igreja.
Nesse período, em 1966, eu já havia sido salvo. Eu já estava na Lagoinha. Era o Marcinho amando o Senhor. Em 1967, fui para o seminário. O pastor Rego voltou e assumiu o pastorado da igreja. Em 1968, já fui para um campo missionário. Eu estava longe de Belo Horizonte. O pastor Aírton saiu. O pastor Rego saiu primeiro, depois o Aírton. De uma maneira tão linda, veio o pastor Reuel e assumiu o pastorado da igreja. No meu último ano de seminário, tive o privilégio de ter o pastor Reuel. Eu era seminarista dele. Como aprendi com ele, homem de uma cultura tão grande, de uma grande formação! O pai dele, o pastor Renê, teve, na minha vida e na vida de uma geração, uma influência muito grande de amor pela Palavra, de garra, de paixão. Não havia uma aula que o pastor Renê dava que não apontasse o caminho. “Se você não tem um chamado, vá embora.” Era assim que ele falava. Apontava o dedo e dizia: “Vai embora”. A gente tremia nas bases. Mas o que me mantinha era aquela convicção.
No final, na década de 1970, fui para Ponta Grossa. Em 1972, voltei. O pastor Reuel foi chamado naquela época. Era o tempo dos hippies. Queimou no coração dele uma paixão muito grande. O chamado do Senhor veio para cuidar daqueles que chegaram à igreja, mas de um modo diferente. A roupa era diferente, o cabelo era diferente, o modo de louvar era diferente. Mas esse diferente era só do lado de fora; dentro, ardia a própria vida de Deus. Deus levantou o pastor Reuel como pioneiro para cuidar desse povo, para levar a eles a mensagem do Evangelho.
Eu vim para a igreja. Nesse período, a Igreja da Lagoinha estava buscando pastor. Buscava um pastor. O pastor Hilton Quadros era o pastor interino da igreja. É aquele pastor que fica na igreja até a igreja ter um pastor definitivo. Os batistas faziam assim. Traziam vários pastores, que pregavam. Não era bem um concurso. Vamos dizer que era uma eleição. A pergunta era qual escolher. Mas o pastor Hilton Quadros foi a Brasília a fim de trazer um pastor, que era candidato a pastorar na igreja. Era uma pessoa lindíssima, tão preciosa!
Mas, no caminho, o pastor Hilton Quadros sofreu um acidente. Ele ficou muito quebrado, todo engessado. Fui visitá-lo. Ele disse: “Marcinho, vou ficar uns dias fora. Será que você pode ficar lá na igreja, pregando no meu lugar?”. Respondi: “Posso, posso sim”. E fiquei. O que estava quebrado nele depois foi consertado. Tirou o gesso. Ele chamou a comissão da igreja que estava encarregada de buscar um novo pastor e disse: “Vamos começar agora a busca do pastor para a igreja da Lagoinha”. O presidente da comissão disse: “O Marcinho está lá, o povo está gostando dele. Vamos deixar ele lá”. E foi assim, de forma que, só por Deus, eu fiquei.
Vejo, até ouço, depois desses 45 anos aqui como pastor da igreja, o que acontece. O que acontece na Lagoinha não tem palavras para traduzir. É só a bondade do Senhor. O pastor Márcio é a pessoa mais limitada que podem imaginar. Muito, muito. Vejo só a graça do Pai. Um versículo da Palavra diz que o homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dado. A igreja da Lagoinha, na sua vocação, durante esses 60 anos, continua sendo a mesma. É inexplicável, por ser uma inspiração. Sei que não vamos ter mais 60 anos, não é, pastor Vanderlei? Vamos estar do outro lado, se Jesus não voltar antes. Vamos caminhar! Que Deus nos ajude como igreja. Temos de caminhar humildemente diante dele, buscando a glória dele acima de todas as coisas. Querendo realizar a vontade dele.
A convicção que temos é do nosso chamado, como é o chamado para todas as igrejas, de Jerusalém, de Judeia, de Samaria, até os confins da terra. Para nós, Jerusalém chama-se Belo Horizonte; Judeia chama-se Minas Gerais; e Samaria chama-se Brasil e os confins da terra. O nosso aeroporto é o ponto de partida para chegarmos até os confins da terra. Ele se chama Confins exatamente porque é dali que queremos chegar até os confins da terra.
Louvo muito a Deus. Não sei fazer discurso, Vanderlei. Não sei ler esse papelzinho como você leu, tão bonito. Só queria expressar a minha gratidão a Deus por sua vida também, por este momento. A Igreja da Lagoinha não é o pastor Márcio. A Igreja da Lagoinha não são seus pastores. São as ovelhas, é o povo, somos nós, igreja do Senhor. Qual o único desejo que temos? Alguém me pergunta algumas coisas muitas vezes. As pessoas vêm e querem me conhecer. Algumas vão ao meu gabinete e ficam conversando comigo. Elas dizem: “Se Deus pode fazer alguma coisa com um sujeito como esse aí, quanto mais comigo!”. Essa é a verdade. É só a bondade do Senhor. Esse derramar da graça do Pai não tem explicação. Nesses últimos dias, de dois anos para cá, algo celestial está acontecendo. O Senhor disse: “Comece, comece, vamos”. E estamos indo. Estamos indo pelas cidades, pelos estados, pelos países. Praticamente toda semana, é difícil uma semana que não esteja nascendo uma Igreja da Lagoinha. Em questão de poucos meses, já quebramos a barreira de mais de 200 igrejas. (– Palmas.) Não tem explicação para isso. Não existe uma explicação. Somos levados a viver de uma forma tão diferente. É uma igreja que não tem orçamento. É uma igreja que não tem um centavo de reserva. Nenhum, todo dia ocorre um milagre de Deus. Todo dia há um milagre de Deus e uma confirmação do Senhor.
Então, hoje, afirmo minha gratidão a Deus, ao Pai, pelo privilégio que tem me dado. Tem me dado colegas, pastores tão preciosos, além de ovelhas, compradas pelo sangue do Senhor. Um dia, nós, pastores, daremos conta a Deus pelo modo como pastoreamos, cuidamos e zelamos. Nossa igreja tem um slogan: “Grande para poder servir, mas tão pequena para se importar com cada ovelha e com cada necessidade; mas grande para termos tantos ministérios, para levarmos a graça e o amor do Senhor”. Que ele nos conceda graça para vivermos um dia de cada vez, intensamente para glória dele, nos próximos 60 anos. Acho que eu e você, Vanderlei, estaremos do outro lado contemplando Aquele que nos amou; Aquele que é o Senhor da igreja; Aquele que disse e continua dizendo: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Amém.