MAGNO JOSÉ DOS SANTOS DE SOUZA, Editor do Boletim "Novidades Lotéricas".
Discurso
Comenta o tema: "Legalizar é preciso - da clandestinidade para a
economia formal".
Reunião
200ª reunião ESPECIAL
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/09/2002
Página 21, Coluna 1
Evento Ciclo de Debates: "Jogo: Realidade e Legalidade".
Assunto LAZER.
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/09/2002
Página 21, Coluna 1
Evento Ciclo de Debates: "Jogo: Realidade e Legalidade".
Assunto LAZER.
200ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 21/8/2002
Palavras do Sr. Magno José dos Santos de Souza
Bom dia. Quero saudar o Presidente da Mesa, Deputado Alencar da
Silveira Júnior; o Dr. Daniel, o representante da GERPLAN e todos
vocês, por estarem aqui. Pretendo fazer uma breve análise do que é
o mercado lotérico brasileiro hoje. Procurarei ser ao máximo
informativo, não perdendo a oportunidade de emitir alguns
comentários.
Edito um jornal diário há um ano, pela Internet, o qual trata do
mercado lotérico, e participo da revista “Games Magazine”, em cuja
equipe trabalha o Gildo, que está aqui, fotografando. São as duas
únicas publicações brasileiras do setor. A revistas “Games” é
bimestral, e o boletim “Novidades Lotéricas” é um jornal diário
distribuído pela Internet. Acho que passei para algumas pessoas o
endereço eletrônico, para que vocês possam solicitar o recebimento
gratuito desse boletim durante um período.
Quero dizer a vocês que a culpa é de Minas, já que foi Minas que
começou a operação de loterias aqui, no Brasil. A discussão sobre
jogos de azar é muito curiosa, principalmente quando se tenta
definir jogo de azar. Não seria jogo de azar, mas jogo de sorte,
como outro dia me definiu o Oswald de Souza. Jogo de azar é aquele
em que a sorte decide o resultado, como acontece na Mega Sena, na
Quina, na Loto, na Raspadinha, no bilhete de loteria, no bingo,
nas máquinas caça-níqueis e nas máquinas eletrônicas programadas,
que chamamos de videobingo.
Para não ser considerado de azar, ou jogo de sorte, os jogadores
têm de ter conhecimento e habilidade sobre a modalidade em
disputa, como é o caso do black jack, do pôquer, da biriba, do pif-
paf, da tranca, do jóquei e da Loteria Esportiva.
Outra coisa que não posso deixar de comentar é que o Código Penal
Brasileiro, no art. 45, que trata das contravenções, estabelece
expressamente que é crime “extrair loteria sem concessão regular
do poder competente ou sem a ratificação de que cogita o art. 3º,
com penas de 1 a 4 anos, ou seja, é necessário que o poder público
autorize a loteria.
Tentarei dividir em partes e falarei de loterias, lotéricas,
bingos, videoloterias, jogo do bicho, caça-níqueis, jóquei clube e
cassino. E vou trazer alguns números para vocês, porque, como
jornalista e editor de um boletim sobre o mercado, o mais
importante é que traga informação sobre números, até para vocês
poderem estabelecer alguns parâmetros.
Atualmente, a Loteria Federal está nas mãos da Caixa Econômica
Federal. A Caixa atua de forma conservadora. Tem seus jogos
tradicionais, como a loteria instantânea, que é a Raspadinha, como
Loteria Federal, Dupla Sena, Quina, Lotomania, Lotogol, Loteca e a
Mega Sena. A CEF hoje investe muito pouco em publicidade e em
lançamento de novos jogos. Atualmente, tem investido muito mais na
operação financeira nas lotéricas - pagamento de contas e tributos
- do que propriamente na questão da loteria, porque tem sido mais
rentável para ela. Acredito que, com o início do funcionamento das
loterias “on-line” e “real time” das lotéricas estaduais, a CEF
terá um sério problema de concorrência. Por quê? Porque todo
Deputado, quando faz um projeto em Brasília, tenta buscar nas
loterias da Caixa a fonte de receita para esse projeto. Cada vez
mais, os planos de premiação das loterias da Caixa ficam menores.
O apostador sabe - não gosto de usar a palavra “jogador”, prefiro
usar “apostador”, e também não gosto de falar “jogo”, prefiro
utilizar a palavra “loteria” - qual a loteria que lhe dá mais
chance de ganhar. Só para vocês terem noção, hoje a Caixa destina,
de suas loterias, 44% para premiação, 1% para o Fundo Nacional de
Cultura, 22,4% para o INSS, 9,6% para o Programa de Crédito
Educativo do Governo Federal e 3% para o Fundo Penitenciário
Nacional.
A Caixa anunciou, no final do ano passado, um recorde de vendas
de R$2.800.000.000,00. Isso não é motivo de comemoração. Por quê?
Se considerarmos que a população brasileira conta 170 milhões de
habitantes e que a cotação média do dólar americano, em 2001, foi
de R$2,36, teremos uma aposta de US$7,00 por pessoa. No Congo,
aposta-se isso. Na África do Sul, apostam-se US$7,00; na Tunísia,
US$8,00; na Tailândia, US$12,00; na Argentina, US$40,00; no Japão,
US$61,00; na Austrália, US$95,00; na França, US$101,00. Só para
vocês terem uma idéia, no Estado campeão, o Rhode Island, nos
Estados Unidos, a média de aposta é de US$879,00 por pessoa. Dos
25 primeiros colocados nesse ranking, o 25º, a loteria Columbia
Britânica, no Canadá, tem uma aposta por pessoa de US$152,00, ou
seja, o Brasil é um grande mercado, ainda muito mal explorado.
Falando um pouquinho sobre as loterias estaduais, não são todas
que têm uma atuação forte. Devo destacar algumas. Considero a do
Rio de Janeiro uma grande loteria, porque tem hoje um faturamento
líquido em torno de R$20.000.000,00 a R$22.000.000,00 por ano.
Temos que 80% desses recursos são praticamente aplicados no
social. Desses recursos da LOTERJ, 80% vêm do faturamento dos
bingos que foram estadualizados durante a gestão do Dr. Daniel,
que falou há pouco para vocês. Hoje a raspadinha só existe em dois
Estados do Brasil e na Caixa Econômica: Minas, Rio e a Caixa,
vendendo a Raspadinha do Rio, na força da publicidade, o mesmo
valor financeiro que a Caixa Econômica Federal. A LOTERJ vende
hoje 7 milhões de raspadinhas por mês, que não é tão rentável
quanto a operação dos bingos e das máquinas de videoloteria
instaladas no interior dos bingos.
Farei uma passagem rápida: Santa Catarina já colocou bingo na
Internet, estadualizou os bingos, mas voltou atrás, tem casas de
videoloterias, está implantando “on-line”; o Paraná tem uma
operação de videoloteria, Pimba e Totobola, que também há em
Minas, no Rio e no Rio Grande do Sul; Ceará tem a primeira loteria
terceirizada do País; Minas tem a loteria tradicional, que ainda
funciona; o Rio Grande do Sul também tem a loteria tradicional e o
Totobola; o Tocantins está implantando videoloterias; Pernambuco
acabou de criar um projeto por meio de um órgão da Secretaria da
Fazenda que estadualiza os bingos; Alagoas está investindo e tem
vários projetos em andamento - a Dra. Fernanda deve falar daqui a
pouco sobre isso -; a Loteres estadualizou os bingos; e São Paulo,
um grande mercado - e ninguém entende porque São Paulo ainda não
tem uma loteria atuante -, tem só a loteria tradicional, a loteria
de bilhete, e está investindo agora na implantação - o edital já
está na rua - da Loteria da Cultura, que será em três etapas.
Pelas informações que temos no mercado, a primeira etapa deve ser
realizada próximo às eleições.
O próximo item de que falarei são as lotéricas. Elas, hoje em
dia, têm sérios problemas de segurança. Por quê? Porque elas foram
transformadas, da noite para o dia, em miniagências bancárias sem
a estrutura de segurança que os Bancos têm hoje. Portanto,
noticiamos diariamente assaltos a lojas lotéricas. Também não
sabemos para onde vão caminhar as lotéricas, principalmente em
vista dessa briga que está ocorrendo agora entre a CEF e a Gtech.
Muitos dizem que a briga é combinada, outros dizem que não. Mas é
uma briga que envolve uma quantia de R$ 1.000.000.000,00, e a
Gtech não quer largar esse contrato, que é extremamente rentável
para ela, algo em torno de 5,75% do que a Caixa arrecada.
Com relação aos bingos, não entrarei nessa área porque temos aqui
um especialista em Bingo, o Olavo, Presidente da Abrabin. Ele
poderá falar muito melhor que eu sobre essa atividade. Só quero
dizer que hoje existe um projeto que caminha na Câmara dos
Deputados e pelo qual o Olavo está brigando. Existem vários
Estados que estadualizaram os seus bingos. Citarei o exemplo do
Rio de Janeiro, onde isso é um sucesso e já vai para dois anos e
meio. O Rio tem 32 bingos estadualizados, que geram uma receita
fantástica para a loteria. Há também uma associação muito forte
que briga para que esse mercado não se deteriore.
Quando falo em videoloterias, refiro-me a máquinas no interior de
bingos ou em salas exclusivas. Elas hoje representam algo em torno
de 70% a 80% do faturamento das salas de bingos. As pessoas
preferem ir aos bingos e jogar nas máquinas a ficar sentadas
marcando cartela. Elas acham mais emocionante. Estive em Las
Vegas, há dois anos, e as nossas máquinas de videoloteria são
muito melhores do que as que vi por lá. Confesso isso para vocês.
Temos alguns Estados que possuem lojas com máquinas de
videoloteria instaladas: Santa Catarina, Tocantins, Paraná. Não
sei como está o caso de Minas. Não temos ainda uma legislação
específica para esse setor. Vários investidores estrangeiros
gostariam de investir nessa área de videoloterias e de fabricação
de máquinas, no Brasil, mas, pelo fato de não termos uma
legislação que diga para o empresário o seguinte: “Pode investir
aqui que garantiremos o seu investimento”, eles desistem de entrar
no mercado do Brasil. Assim, ficamos sempre vivendo esta questão:
uma hora está legalizado, outra hora vira contravenção. E as
pessoas e os empresários não sabem para onde ir.
Há mais um tópico sobre o qual gostaria de falar para vocês: o
jogo de bicho. Trarei uma curiosidade. Dizem que uma mentira
repetida muitas vezes vira uma verdade absoluta. Não foi o Barão
de Drumond que inventou o jogo do bicho. Digo isso com propriedade
porque trabalhei no jardim zoológico do Rio de Janeiro, e fizemos
uma pesquisa. Quem inventou o jogo do bicho foi um espanhol
chamado Manuel Ismael Zevada. Foi uma cópia do “number games” de
Chicago, mas ele fez uma adaptação colocando figuras de bicho. No
Brasil, o jogo pegou e só existe aqui. Esse jogo não existe em
nenhum outro lugar do mundo. Mas o jogo ia mal, e, numa jogada de
“marketing”, ele o apresentou ao Barão de Drumond, que era dono,
na época, do jardim zoológico no Rio de Janeiro, em Vila Isabel. A
partir daí, o jogo decolou. Para conhecimento das pessoas mais
novas, eles colocavam uma figura de um bicho dentro de uma caixa.
Pela manhã, ela era colocada no alto de um mastro e as pessoas
passavam o dia inteiro apostando. No final do dia, a caixa descia
e sabíamos qual era o bicho sorteado, o bicho do dia. Com relação
ao jogo do bicho, no Rio, ele tem problemas, porque, em uma
pesquisa feita pela LOTERJ na administração do Dr. Daniel,
descobriu-se que o apostador do jogo do bicho envelheceu e que os
operadores do jogo do bicho migraram para outra atividade, no
caso, hoje, os caça-níqueis, uma máquina na rua que está sendo
alvo de estudos, no Rio de Janeiro.
Tenho notícia também que está sendo fabricada em Manaus uma
máquina chamada zooloteria. Ela é eletrônica e reproduzirá o mesmo
conceito do jogo do bicho. Eles tentarão vender essas máquinas
para várias loterias estaduais.
O próximo item - andarei mais rápido - é o caça-níqueis. Quando
falo em caça-níqueis, é a máquina que está no bar, na rua. Essa
modalidade hoje preocupa porque não há uma legislação específica
para ela. Alagoas é o único Estado que está se preocupando com
esse tipo de atividade. Acho que as pessoas devem se preocupar com
o caça-níqueis, principalmente do ponto de vista de crianças
jogando nessas máquinas. Acho muito ruim colocar máquinas no
caminho das pessoas, das crianças, para que elas joguem. Deve
haver uma preocupação tanto nossa, dos jornalistas, quanto do
poder público para que a atividade seja legalizada. Diga-se de
passagem, sou favorável à legalização de absolutamente tudo, desde
que haja controle, fiscalização. São Paulo, atualmente, tem um
projeto de lei tramitando na Câmara dos Vereadores que pretende
legalizar os caça-níqueis na rua.
Com relação aos jockeys, atualmente, eles se encontram em crise.
Vários jockeys do País estão recorrendo à instalação de máquinas
de videoloterias para aumentar as suas receitas. A Loteria do
Espírito Santo - LOTERES - já regulamentou essa prática de máquina
em jockey clube.
Falando um pouquinho sobre cassinos, o que é inevitável, eles
foram proibidos no Brasil, em 1946, e, atualmente, existe um
projeto de lei que já passou pela Câmara e está atualmente no
Senado, guardado, esperando uma agenda favorável, para ser
colocado em votação, e que se tenha um Presidente favorável à
causa. Em 2000, Las Vegas teve um faturamento de
US$31.500.000.000,00, e, no ano passado, apesar da crise de 11 de
setembro, houve um crescimento para US$31.600.000.000,00. Acho que
não se pode desprezar esse dinheiro. Temos de ter uma atividade de
cassino cujo modelo ainda não definimos.
Nesse mesmo projeto de legalização dos cassinos foi inserida a
legalização do jogo do bicho. Se for aprovado, com certeza trará a
aprovação do jogo do bicho. Mas há alguns pontos polêmicos. Sendo
aprovado o projeto, enquanto não for criada a comissão nacional de
jogos, quem terá capacidade de autorizar serão as loterias
estaduais, que administrarão tanto o jogo do bicho quanto os
cassinos, chamados de temporários, pelo período de dois anos.
Caberá a essa comissão dar a diretriz da regulamentação, tanto do
jogo do bicho quanto do cassino. Qual é a vantagem do projeto?
Esse projeto segue o padrão internacional de regulamentação de
jogos e tem muita coisa parecida com o modelo americano. Caso seja
aprovado, temos de nos preocupar com o caráter temporário da lei,
que pode gerar transformação imediata dos bingos em cassino. Nesse
caso, haverá deterioração da poupança doméstica, ocasionando
problemas, com milhares de cassinos espalhados pelo País.
Existe também controvérsia entre dois modelos, o europeu, que são
os bingos adaptados em cassinos, e o americano, que é o modelo de
hotéis-cassinos. Esse é o modelo em que acredito, porque é
necessário construir o hotel, gerando novas profissões e empregos.
O projeto tramitou tão rápido que a questão tributária não foi
discutida. E isso terá de ser feito por medida provisória.
Existem mais algumas coisas. A legalização dos cassinos no Brasil
pode gerar pólos turísticos, empregos, arrecadar tributos,
diminuir a evasão de divisas e captar investimentos estrangeiros.
Os aspectos negativos são a prostituição, a lavagem de dinheiro,
o crime, a segurança e a deterioração da poupança familiar.
Hoje vejo dois problemas no mercado lotérico nacional. O primeiro
deles é que ninguém trata da questão dos jogadores compulsivos.
Apesar de pesquisas demonstrarem que o jogador patológico
representa apenas 2%, ele existe, e a indústria tem de tratar
desse problema, porque faz muita marola.
Precisamos também de associações mais fortes para brigar por esse
mercado.
Para finalizar, peço autorização ao Gildo, que escreveu um texto
belíssimo na última edição da revista “Games Magazine”, para ler
um trecho de sua matéria: “A matéria da “Veja” termina com dois
dados interessantes. A febre nacional atinge até os soldados...”.
Essa matéria da “Veja” tratou da questão do mercado dos cassinos
nos Estados Unidos, que é extremamente promissor. “... americanos
que servem no exterior. Eles torram US$1.000.000.000,00 por ano
nas 7 mil máquinas de caça-níqueis e de vídeo-pôquer instaladas em
94 bases militares americanas espalhadas pelo mundo. A atividade
gera um lucro os cofres do Pentágono. No País da jogatina, até o
Governo ataca de “crupiê”. E o Brasil continua brigando pelas
migalhas de uma CPMF que não gera empregos, não atrai turistas e,
o pior, onera a produção e o custo do Brasil. Obrigado.