DEPUTADA MARIA TEREZA LARA (PT), Presidente "ad hoc"
Discurso
Coordena os debates da reunião destinada à realização do Encontro dos
Povos Indígenas de Minas Gerais no Transcurso do 500º aniversário da
chegada dos portugueses ao Brasil.
Reunião
129ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 25/04/2000
Página 17, Coluna 2
Assunto CALENDÁRIO.
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 25/04/2000
Página 17, Coluna 2
Assunto CALENDÁRIO.
129ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 13/4/2000
Palavras da Deputada Maria Tereza Lara
A Sra. Presidente - A Presidência informa ao Plenário que os
participantes poderão formular perguntas aos componentes da Mesa.
Aqueles que desejarem formular perguntas devem se dirigir aos
microfones. Qualquer pessoa poderá se dirigir aos microfones
localizados nas galerias e no Plenário. Para que possamos agilizar
os debates, solicitamos aos participantes que desejam fazer uso do
microfone que sejam objetivos, breves, estando dispensada a
formalidade das saudações pessoais. No início, por favor,
identifiquem-se.
Debates
A Sra. Efigênia dos Santos Gomes - Sou do Movimento Negro
Cultural Restaurador Jair Afonso Inácio, de Ouro Preto. Gostaria
de abraçar todos os meus irmãos índios e dizer que este País é
nosso: do negro, do índio, do povo brasileiro. Fica, então, um
abraço para vocês.
Agora, vou cantar uma música - não sei se vão entender - que
Clara Nunes cantou com muita emoção, com muito amor ao índio da
Bahia e do resto do Brasil. (-Interpreta trecho da música “Canto
das Três Raças”.) (- Palmas.)
A Sra. Geralda Soares - Meu nome é Geralda Soares. Sou sócia do
Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva. Atualmente, moro no
Vale do Jequitinhonha, onde estão as aldeias dos Pankararu e dos
Aramã, que lutam para ser reconhecidos oficialmente pelo Estado e
ter seus direitos à terra e à educação, como os demais povos.
Mas não vim falar sobre nenhum deles. Vim trazer um pouco da
memória dessa história indígena de Minas. Há 20 anos, como estavam
os Maxakali? Estavam com suas terras invadidas por 13 fazendas de
gado. Onde estavam os Pataxó? Brigando por causa da Fazenda
Guarani, indo a Brasília, correndo atrás dos Deputados e da gente
da lei, para conquistar seus direitos. Onde estavam os Xakriabá?
Também brigando pela terra, tendo Rosalino Xakriabá assassinado.
Onde estavam os Krenak? Exilados na Fazenda Guarani, e suas
terras, no rio Doce, também invadidas por fazendas de gado e
outros.
Onde estavam os Atikum, os Xucuru, os Aramã? Estavam agregados às
fazendas, trabalhando, muitas vezes, como escravos. Onde estavam
os Kaxixó? Escondidos na beira do rio São Francisco, próximo à
represa de Três Marias. E, hoje, aqui estão, e esse é o fato mais
importante desses 500 anos em Minas Gerais. Povos desconhecidos,
tidos como extintos, perseguidos, espoliados, hoje se encontram e
fazem suas reivindicações. E esta Casa encontra-se aberta não por
concessão, não por bondade da sociedade brasileira. Aqui estão
porque conquistaram esse espaço durante 20 anos de luta.
Parabéns aos índios. Vocês abriram as portas desta Casa e espero
continuem abrindo muitas outras, inclusive em Brasília, onde hoje
se tenta modificar o estatuto das sociedades indígenas, fazendo
com que percam os direitos reconhecidos na Constituição de 1988.
Obrigada.
A Sra. Débora - Meu nome é Débora. Sou do Colégio Educar, de
Barão de Cocais. Que mudanças ocorreram em sua tribo, do passado
para o presente? Pergunto à tribo Pataxó.
O Cacique Bayara Pataxó - Fomos muito espoliados e massacrados no
passado e, hoje, aqui estamos, ainda vivos, estando de pé nossa
cultura, lutando por mais dignidade. Esperamos que vocês, alunos,
construam este País com dignidade, tendo os povos indígenas em
seus corações. Obrigado.
Um participante - Sou Presidente Estadual do PRP em Minas Gerais
e quero que esse exemplo da união das tribos possa se fazer sentir
entre os partidos políticos, promovendo a sua reunião.
A Sra. Shirlei Krenak - Sou estudante de Jornalismo na UNIVALE e
aqui estou para agradecer aos nossos parentes. Tenho uma música
que retrata nossa luta pela terra. Estamos à disposição dos demais
povos para o que precisarem, pois somos todos irmãos. Aqui estamos
não para comemorar os 500 anos, mas para mostrar que estamos vivos
e nossa cultura prevalecerá por muitos anos, muitas décadas.
Cantarei uma música cujo nome é “Terra”. (- Interpreta música de
sua autoria.)
E conseguimos. Vocês, que ainda não conseguiram, vão conseguir,
porque não é difícil. Muito obrigada.
A Sra. Camila - Meu nome é Camila e estudo no Colégio Educar.
Gostaria de saber da tribo Krenak se usam esse vestuário sempre ou
se estão usando apenas porque é um momento comemorativo.
O Sr. Waldemar Krenak - A pergunta é importante. Recentemente foi
dito que, quando os Maxakali entraram dentro de um ônibus sem
camisa, disseram que tinham que vestir, não podiam andar sem
camisa. Dentro da nossa área, andamos apenas de calção e pintados,
usamos sempre a pintura e ficamos o dia inteiro dentro da cultura.
É por isso que falamos que não temos o dia 19 de abril, porque
todos os dia são nossos, “todo dia é dia de índio”. Quando acordo
em casa, junto com meus filhos - e todos os parentes fazem do
mesmo jeito -, tocamos uma flauta e cantamos uma música Krenak
para fortalecer o espírito naquele dia. A cultura, realmente, está
dentro de nós. Quando nos deslocamos para Belo Horizonte ou
qualquer outra cidade, claro que temos que colocar uma roupa,
senão não viajamos. Implantaram isso, e temos que usar, senão
poderá haver problema. Gostaríamos de sair da nossa casa vestidos
e pintados como vivemos lá, mas, infelizmente, não podemos. Mas,
quem sabe, mais tarde, chegaremos a esse ponto, podendo mostrar
nossa cultura no Brasil inteiro.
O Sr. Walmores Pataxó - Sou Pataxó e professor da comunidade
Pataxó. Quero agradecer ao Prof. Murílio Hingel, que, para vocês,
da cidade, é o Secretário, mas, para nós, Pataxó, é nosso cacique
na Secretaria.
É uma pessoa que está lutando, junto com os povos indígenas de
Minas, em prol de uma educação melhor para as comunidades
indígenas. Nós, professores, lideranças e toda a comunidade
indígena, estamos trabalhando para o resgate de uma cultura mais
forte e segura. Não gostaríamos que as pessoas ficassem com pena
do povo indígena, mas reconhecessem e respeitassem as comunidades
indígenas como merecem. Gostaríamos que as pessoas lutassem pela
dignidade do povo indígena. Todas as escolas deveriam seguir
metodologia próxima da realidade dos alunos, como fazemos em
nossas escolas. Trabalhamos com a realidade de cada povo, ou seja,
com o que cada criança vive no seu dia-a-dia. Gostaríamos que a
comunidade se sentisse mais realizada e que os índios fossem
identificados de acordo com suas tribos, bastando olhar em seus
olhos. Gostaríamos que os índios tivessem orgulho do que são.
Estamos reivindicando, com toda a força possível, por esse espaço,
que é nosso.
Os nossos parentes estão sempre agradecendo por tudo. Não temos
de agradecer tanto, temos de ser, também, agradecidos pelo que já
fizemos e pelo que sofremos. Precisamos que as pessoas reconheçam
o nosso sofrimento e a nossa realidade e nos respeitem. Às
crianças dos colégios que estão aqui presentes, às autoridades,
aos Deputados e aos professores, agradecemos muito. A criança é o
futuro do País. Meus avós e meus pais não tiveram esta
oportunidade que estamos tendo hoje. Queremos que essas crianças
respeitem a cultura indígena. Que bonito! As crianças vieram
prestigiar este momento, que, como o nosso Secretário disse, é
único. Realmente, não é todo dia que podemos ver a reunião das
nove nações indígenas de Minas em uma só assembléia. Este momento
é de felicidade. Esses alunos estão vendo hoje o que apenas viam
em livros, ou seja, estão vendo o que está distante da realidade
do povo mineiro. Na televisão, nas rádios e nos jornais, vemos um
índio imaginário, lá da Amazônia. Gostaríamos que vissem o índio
daqui de Minas, diferente do índio da Amazônia. Estamos sofrendo
500 anos de massacre e conflito, enquanto, na Amazônia, os índios
estão começando a ter contato com a civilização. Gostaríamos que
isso ficasse claro, para que as pessoas respeitassem os nossos
sentimentos e os nossos direitos e para que nos tratassem com mais
dignidade. Muito obrigado a todos.
A estudante Karine - Meu nome é Karine, sou do Colégio da SEDIPA,
em Ipatinga, e estou na 7ª série. Tenho uma pergunta para fazer
para qualquer um de vocês, índios, que queira respondê-la. Qual
foi o desenvolvimento dos índios, nestes 500 anos de Brasil, com
relação à sociedade do homem branco?
O Sr. Waldemar Krenak - Houve um desenvolvimento, sim, tanto na
parte cultural quanto na parte religiosa, que nos garantiu, que
nos fez estar aqui, hoje, falando. E vamos continuar passando isso
para os nossos filhos, para que passem para os seus filhos.
A Sra. Presidente (Deputada Maria Tereza Lara) - Passo a palavra
a outra jovem das galerias.
A estudante Luísa - Quero fazer uma pergunta para a tribo Aramã:
Qual é a situação do índio brasileiro, hoje?
A Sra. Rosa Índia Aramã - Para a tribo Aramã, a situação está
difícil, porque não temos terra nem somos reconhecidos. Perdemos
tudo que tínhamos e não sabemos quanto tempo ainda vamos viver
nessa situação. Para os outros, que já estão reconhecidos, a
situação está melhor. (- Palmas.)
A Sra. Alenice - Gostaria de fazer uma observação com relação à
fala do Secretário, porque, na verdade, dos nove povos indígenas
que estão aqui, hoje, quatro são assistidos pelo Programa de
Educação Indígena. E, dos cinco restantes, apenas dois não são
reconhecidos oficialmente como índios. Os que são reconhecidos já
poderiam ser assistidos pelo programa. A luta de todos é em comum,
que é a luta pela terra. Apenas os níveis são diferenciados.
Aproveitando a oportunidade, gostaria de dizer que a programação
com relação à marcha indígena e à questão dos 500 anos não morre
aqui. Não é só em abril que se discute e se comemora o Dia do
Índio. Essa discussão é permanente. Precisamos de um fórum
permanente de discussão sobre as questões indígena, negra e de
resistência popular neste País. Nessa linha, no dia 5 de maio, o
CEDEFES, que é um dos apoiadores deste evento, está organizando um
seminário para discutir, em especial, a luta do povo Aramã e do
povo Kaxixó pelo reconhecimento étnico oficial. Contaremos nesse
evento com a participação do Ministério Público, dos
representantes Kaxixó, Aramã e dos demais companheiros indígenas.
Contamos com a presença de todos vocês. Muito obrigado.
A estudante Carla - Gostaria de perguntar à Diva se ela confunde
as línguas.
A Sra. Maria Diva Maxakali - Nasci falando a nossa língua, mas a
língua do branco ainda é um pouco atrapalhada.
A estudante Carla - Gostaria também de saber se guardam mágoas
pelo fato de os brancos terem esquecido de vocês.
O Sr. Jerry Adriani Kaxixó - O povo Pataxó não guarda mágoa do
povo branco. Guardamos mágoa dos portugueses, que chegaram aqui
dizimando nossos irmãos indígenas.
A maioria da população brasileira reconhece a população indígena,
e quem espolia os índios são os latifundiários, as empresas
madeireiras e garimpeiras. Eles é que massacram os povos
indígenas, e também os que estão no Congresso Nacional. Obrigado.
(- Palmas.)
Uma participante - Sr. Secretário, gostaria de saber a data
precisa em que se dará o reconhecimento das outras tribos.
O Secretário Murílio Hingel - Isso não podemos decidir pela
Secretaria da Educação.
Agradeço a informação que foi prestada sobre os grupos que estão
reconhecidos, aos quais já podemos começar a atender, embora não
exista ainda área específica e delimitada para eles.
Geralmente, nessa questão, trabalhamos com o Ministério Público,
que nos encaminha o reconhecimento e pede à Secretaria da Educação
que ofereça a esses povos o ensino bilíngüe, como falei
anteriormente.
Um participante - Agradeço a oportunidade de participar desta
aula interativa. Foi uma iniciativa maravilhosa e justa desta Casa
para com os verdadeiros brasileiros, os primeiros donos da terra
deste País, que foram espoliados durante 500 anos. Graças a Deus,
a Assembléia Legislativa está corrigindo essa parte da história,
e, mais uma vez, Minas Gerais está dando oportunidade aos índios,
estes companheiros fantásticos e resistentes. Falo isso com o
maior respeito, porque nasci no Dia do Índio.
Peço a esta Casa que tudo faça para que o índio não seja lembrado
apenas como uma alegoria no dia 19 de abril, mas seja aqui
representado por alguém que defenda seus direitos.
É meu sangue negro, é minha atividade sindicalista, é minha veia
indígena que falam mais alto. Estou muito feliz de ter participado
desta aula e parabenizo os mestres que trouxeram seus alunos para
ver, com os próprios olhos, o índio em carne e osso - pessoa
sociável e doce, e não, um preguiçoso ou um canibal, como nos
passa a história. Quando se quer dominar, fala-se mal.
No Sindicato, sempre tive confronto com a Secretaria da Educação,
mas, hoje, parabenizo o Secretário por estar conosco, participando
deste encontro.
A Sra. Presidente - Após a reunião, teremos um ritual de
pajelança em frente à Assembléia. Os jovens poderão ter contato
pessoal com as nove nações indígenas aqui presentes, não havendo,
portanto, motivo de tristeza se nem todos tiverem oportunidade de
formular suas perguntas.
A Sra. Ana Flávia - Meu nome é Ana Flávia, sou antropóloga da
Procuradoria da República e estou representando o Ministério
Público Federal.
Uso da oportunidade para esclarecer tanto ao Secretário de Estado
da Educação quanto aos estudantes presentes que, na lei, nada
existe que normatize o processo de reconhecimento étnico. Os
Kaxixó estão passando por esse processo, mas eles não constituem
um caso típico. Constituem um caso atípico, porque, num primeiro
momento, o Governo brasileiro recusou-se a reconhecê-los como
índios, com base num laudo antropológico que, posteriormente, foi
avaliado pela Procuradoria da República e que se demonstrou ser
equivocado.
Por isso, com base no relatório da Procuradoria, que continha um
estudo etnográfico sobre os Kaxixó, fizemos uma análise crítica
desse primeiro laudo feito para a FUNAI e a enviamos não só à
Secretaria da Educação, mas também à Fundação Nacional de Saúde e
à FUNAI, não para que reconhecessem os Kaxixó como índios, mas
para que, simplesmente, garantissem os direitos que possuem como
índios, por exemplo, os de serem incluídos no programa de educação
e atendidos pela Fundação Nacional de Saúde e terem a terra
identificada e regularizada pela FUNAI, como os demais povos
indígenas. (- Palmas.)
O Sr. Vanteir do Couto - Sou Vanteir do Couto, amigo da tribo
Maxakali, cujo representante conhece o meu trabalho, o meu esforço
imenso a fim de que tivessem suas terras de volta. Sou filho de
uma índia legítima da raça Tupi, grupo étnico extinto pela
ganância desenfreada dos homens, que estão presos a uma voracidade
incrível do ter, esquecendo-se de que o nosso planeta está
terrivelmente enfermo por culpa de seus moradores. Gostaria de
alertar a todos que, há 500 anos, esta era uma terra cheia de
delícias, lagos limpos, mares sem poluição, fontes de água
cristalina, peixes. Era o paraíso terrestre. Mas o que foi feito
nestes 500 anos? Destruição, miséria, promiscuidade e
prostituição. Não temos nada a comemorar. Nossos índios, herdeiros
naturais do paraíso, não podem ficar sujeitos a essa imundície
humana, em virtude da ganância desenfreada dos humanos brancos.
Muito obrigado. (- Palmas.)
O estudante Luís Henrique - Meu nome é Luís Henrique e curso a 7ª
série. Gostaria de perguntar ao índio Kaxixó que festa os índios
acham que deveria haver na comemoração destes 500 anos de Brasil?
O Sr. Jerry Adriani Kaxixó - Boa pergunta. Seria uma festa se
todas as terras de todos os povos indígenas fossem reconhecidas e
se hoje tivéssemos direito a uma educação digna. Estamos sempre
pedindo, implorando, porque, se não corrermos atrás, nada
conseguiremos. Então, os povos indígenas não têm o que comemorar.
A Sra. Beth - Meu nome é Beth, sou professora de História. Viemos
da cidade de João Pinheiro, situada a mais de 400km de Belo
Horizonte, com um grupo de alunos. Parabenizo a Assembléia e os
grupos indígenas do nosso Estado por esta iniciativa. Como
representante dessa história de 500 anos, creio que não temos
mesmo o que comemorar. Por isso estamos aqui. A nossa escola apóia
essa luta de vocês. Continuem lutando para que possa prevalecer a
sua cultura. Há poucos dias, tivemos a notícia de que pessoas das
próprias aldeias estão dando aulas para as crianças, com o
objetivo de resgatar os costumes, a língua original. Temos de
manter isso. Esperamos que os próximos 500 anos sejam não só de
luta, mas também de conquista. Parabéns a vocês por essa luta.
Obrigada.
A Sra. Dirlene - Meu nome é Dirlene. Sou do povo indígena Krenak.
Gostaria de fazer uma reflexão com os povos indígenas. Estamos
falando que não temos o que comemorar nos 500 anos, mas acho que
temos, sim. Por quê? Porque tentaram acabar conosco, tentaram
exterminar os povos indígenas da face da terra. Resistimos,
estamos aqui e, por isso, temos motivos para comemorar, sim. Quem
não os tem são aqueles que tentaram acabar conosco. E vai um
alerta para eles: agora, estamos com muito mais forças para lutar.
O Sr. Luciano Marcos Pereira da Silva - Gostaríamos de fazer um
convite a todas as pessoas presentes. Na parte externa da
Assembléia, vamos ter um momento, intitulado pajelança, em memória
destes 500 anos. É o momento mais celebrativo por parte dos povos
indígenas, para resgatar e lembrar toda essa trajetória vivida até
hoje e celebrar este grande abraço de solidariedade para os
próximos 500 anos, que serão construídos com todos os povos. Muito
obrigado.
O Sr. Pinheiro - Boa tarde. Meu nome é Pinheiro. Sou professor na
aldeia Água Boa. Trabalho de manhã. Ensino a nossa língua, dos
Maxakali. A nossa criança não pode perder a nossa língua, a nossa
cultura. A nossa criança tem de aprender a escrever e ler em
Maxakali. Muito obrigado.
O Sr. Rafael Maxakali - Meu nome é Rafael Maxakali, sou
professor. Queremos falar para o nosso povo, nestes 500 anos, que
não vamos perder a nossa cultura, nossos costumes. O povo branco
quer acabar com os costumes e a cultura indígena de Minas Gerais.
Mas não queremos que acabem. Queremos viver os nossos costumes,
ter a nossa terra para as nossas mulheres, os homens e as crianças
crescerem. A nossa terra é pequena, mas recebemos essa nossa
terra, e as nossas crianças já estão aprendendo a nossa cultura e
os rituais na escola. São muito importantes para nós, Maxakalis,
os nossos rituais. Sou professor, estou ensinando as crianças, mas
elas não sabem falar o português. Temos professores ensinando
cultura às crianças na escola. Queremos viver mais 500 anos. É o
que queria falar.
A Sra. Presidente - Creio que encerramos, com chave de ouro. A
Presidência agradece a todos os ilustres expositores, ao
Secretário da Educação Murílio Hingel, representante do nosso
Governador Itamar Franco, às demais autoridades, alunos,
participantes. Pensei que estavam aqui somente escolas de Belo
Horizonte, mas estão aqui também escolas de toda Minas Gerais. O
nosso abraço a todos os alunos de escolas que vieram de tão longe
para prestigiar nossos povos indígenas.