ARNALDO MOURTHÉ, Secretário de Relações Internacionais do Partido Democrático Trabalhista - PDT. Representante do Presidente Nacional do Partido Democrático Trabalhista - PDT, Carlos Luppi.
Discurso
Transcurso do 25º aniversário de fundação do Partido Democrático
Trabalhista - PDT.
Reunião
36ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 31/05/2005
Página 60, Coluna 2
Assunto REPRESENTAÇÃO POPULAR. CALENDÁRIO.
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 31/05/2005
Página 60, Coluna 2
Assunto REPRESENTAÇÃO POPULAR. CALENDÁRIO.
36ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 25/5/2005
Palavras do Sr. Arnaldo Mourthé
Exmo. Sr. Deputado Sebastião Helvécio, nosso companheiro,
representando o Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de
Minas Gerais; Exmo. Secretário Manoel Costa, também nosso
companheiro de longa data e agora exercendo a Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Regional e Política Urbana; caros amigos
Presidente do PPS de Minas, Paulo Eliziário, e nosso Deputado
Sargento Rodrigues, companheiro do PDT e autor do requerimento que
deu origem a esta solenidade; meus amigos aqui presentes, Sras.
Deputadas e Srs. Deputados, Sras. Prefeitas e Srs. Prefeitos,
companheiros do PDT.
Fiquei muito satisfeito quando recebi a incumbência da direção
nacional de representar o partido nesta solenidade, pela condição
de mineiro, o que me dá oportunidade de entrar em contato com os
meus conterrâneos. Fiquei mais satisfeito ainda quando recebi a
incumbência dos nossos companheiros aqui de Minas, representados
pela Sirlei, de que eu falasse sobre a história do PDT e sobre o
nosso futuro, aquilo que pretendemos que seja o nosso futuro.
Por falar em história, temos assistido a todo um discurso de
modernidade onde a história não existe. Tudo começa com o novo,
com o inesperado.
Nessa estória, sem “h” e com “e”, foram surrupiados os direitos
dos trabalhadores. É negada a soberania nacional e o nosso direito
a um desenvolvimento autônomo, voltado aos interesses do povo e da
Nação, o que precisamos contestar. Afirmaram que era o fim da
história, que não havia alternativa ao modelo que nos é imposto, o
denominado pensamento único, ou neoliberalismo; entretanto há
opções, e queremos definir quais são as nossas opções, não por uma
questão de vontade. Vamos fundamentar, e é isso o que o partido
está fazendo em âmbito nacional, ou seja, essa é a nossa vontade
no interesse do povo e na viabilidade que a história nos indica.
Quando o Presidente Antônio Carlos decidiu apoiar Getúlio Vargas
contra o candidato Júlio Prestes, candidato oficial de Washington
Luís, rompeu o acordo tácito entre São Paulo e Minas Gerais, não o
fazendo apenas pelo rompimento do acordo. Se analisarmos
atentamente a história, constataremos que ele fez o que fez para
defender os princípios republicanos, pois a República Velha nunca
foi totalmente república, e sim um arremedo de república.
As eleições eram fraudadas, o povo era um instrumento de
trabalho, e quem contava era uma pequena elite que se dava o
título de Barões do Café. A rebelião contra o baronato do café de
São Paulo foi o resgate dos princípios republicanos, que vinham
dos próprios princípios que os Inconfidentes defenderam,
inspirados na necessidade que o Brasil sentia de ter
desenvolvimento próprio e não ser espoliado contra aquele absurdo
que era a contribuição obrigatória do quinto do ouro e contra a
proibição da industrialização necessária ao Estado de Minas Gerais
até para cumprir com seu dever de produtora de ouro para a
Metrópole.
Precisávamos de ferramentas e de equipamentos porque o ouro
estava rareando, sendo necessário escavar a terra profundamente
para encontrá-lo. A mina de Morro Velho está aí para provar que
isso é verdade. Os Inconfidentes se inspiraram nos iluministas e
nas Revoluções Americana e Francesa, defendendo a liberdade, a
igualdade e a fraternidade. Defendiam um Estado que fosse
escolhido pela população, pelos cidadãos que habitavam o País.
Logo após as eleições fraudadas, Antônio Carlos decidiu dar mais
um passo, ou seja, apoiar a Revolução de 1930. E não o fez de
forma aventureira, pois se preparou para isso. O Estado de Minas
Gerais foi preparado para a Revolução de 30, tanto assim é, que,
em 1932, quando os paulistas se rebelaram contra o Governo
revolucionário, não passaram da fronteira, porque Minas Gerais
estava preparada para enfrentá-los. Ao assumir esse risco, ele
estava construindo a história do Brasil, junto com Getúlio Vargas
e os verdadeiros republicanos do País.
Getúlio assumiu, e a primeira coisa que fez, num rol de medidas
políticas, foi o decreto da anistia, porque entendia que, mesmo
tendo havido um confronto, era preciso que a Nação fosse
pacificada. E os beneficiados não foram somente os precursores da
Revolução de 30, os Tenentes e outros. Os próprios perdedores o
foram. Mas Getúlio não parou na pacificação. Ele precisava desse
sistema para implantar a agenda republicana, ou seja, precisava
realmente implantar os ideais da república. E começou criando
direitos para os trabalhadores, reconhecendo que são seres humanos
que têm direitos. Para que esses direitos fossem obedecidos,
tinham de ser colocados em leis. E começou a ser criada uma série
de leis que concederam ao trabalhador brasileiro os direitos de
hoje. Já houve outros, mas eles os perderam.
Getúlio criou a lei dos 2/3, lei da nacionalização do trabalho,
porque as empresas estrangeiras vinham para cá e traziam seus
funcionários. Então, tornou-se obrigatória a contratação de 2/3 de
trabalhadores brasileiros. Além disso, estendeu os benefícios das
caixas de aposentadoria e pensão a diversas categorias; criou a
lei dos sindicatos; estabeleceu o voto feminino em 1932, dando às
mulheres o direito de votar como os homens, o que a Velha
República não reconhecia; criou a justiça eleitoral e garantiu a
presença no parlamento das minorias, o que não havia antes. E
Getúlio foi mais além: em três anos, criou a legislação
trabalhista mais moderna do mundo. E não fez isso por acaso ou
porque era destemido, mas o fez baseado numa análise realista das
conjunturas nacional e internacional. Havia uma efervescência na
população brasileira que gerou a Revolução de 30. Ele tinha os
princípios, e havia uma crise econômica no âmbito mundial, que
abalou profundamente a economia americana em 1929 e repercutiu
seriamente no Brasil, sobretudo em São Paulo, onde se produzia
café, o principal produto de exportação brasileiro. Talvez os
barões quisessem tomar de Minas o direito de ter o novo Presidente
da República, porque já estavam desorientados com a crise. Mas foi
Getúlio quem lhes garantiu a continuidade na produção do café,
comprando os seus estoques. E foi ele quem, num momento crítico,
queimou parte desses estoques para impedir que o preço dessa
mercadoria continuasse caindo no mercado internacional,
recuperando aquela classe social e aquela atividade. Getúlio
avançou ainda mais, ao decretar que o dono do solo não era o dono
do subsolo, e com isso cassou inúmeras concessões de empresas
multinacionais que na época não eram chamadas assim. Empresas
inglesas e americanas que aqui estavam tinham interesse no nosso
petróleo e no nosso carvão.
Em seguida, Getúlio nacionalizou o petróleo. Em 1939, foi
descoberto o primeiro posto de petróleo no Brasil e começou-se um
trabalho para a criação da grande empresa PETROBRÁS. Veio a
guerra. Getúlio foi além. Os ingleses tinham concessões de
minério. Darcy Ribeiro descreve muito bem essa questão. Os nossos
minérios estavam nas mãos dos ingleses, que possuíam estradas de
ferro no mundo inteiro. Aproveitando aquela situação, Getúlio
soube negociar a dívida do Brasil com a Inglaterra e resolver os
problemas das concessões das minas de minério e ficou com tudo, ou
seja, com o minério e a ferrovia e criou a Companhia Vale do Rio
Doce, que, infelizmente, hoje se encontra nas mãos de empresas
privadas.
Com o término da querra, Getúlio foi praticamente deposto. A
influência americana fez uma pressão sobre Getúlio, por meio dos
nossos oficiais, que participaram com as tropas americanas da
Segunda Guerra Mundial, em nome da democracia. Getúlio saiu do
poder. Naquele momento, alguns adversários políticos, patriotas e
defensores da causa popular, como os comunistas liderados por
Prestes, levantaram a bandeira da Constituinte com Getúlio:
democracia e eleições sim, mas com Getúlio. Essa bandeira não
vingou; porém, em 1950, o povo deu a resposta e trouxe Getúlio
novamente para a Presidência da República. Getúlio ampliou a sua
obra, a sua afirmação da soberania da Nação brasileira e os
direitos do trabalhador, a fim de construir uma forte economia
para o País. Isso transformou o Brasil numa Nação moderna, que
hoje conhecemos.
Quando Getúlio pôs as mãos na questão crucial da energia, criou a
PETROBRÁS e a ELETROBRÁS, que se somaram à Vale do Rio Doce e à
Companhia Siderúrgica Nacional, criada em 1941. Em negociação com
o gverno americano, a participação do Brasil, com o apoio à
logística americana, permitiu aos aliados entrar na Europa através
da África. Aviões e navios passaram na nossa costa, que serviu de
base avançada para as tropas aliadas invadirem a Europa através do
Norte da África.
O Brasil, além de ser um País pujante, obteve no século XX, até
1973, o maior crescimento do PIB, perdendo apenas para o Japão no
PIB “per capita”. A nossa população crescia mais depressa que a do
Japão.
Neste País que se tornou moderno e bastante cobiçado, Getúlio
montou um sistema com base na intervenção do Estado, que o fez se
desenvolver ainda mais. Quando assumiu, não havia possibilidade de
grande ação na área econômica; então,ele a fez na área social.
Vivíamos a repercussão da crise de 1929. A sua ação na área social
gerou um mercado interno capaz de desenvolver a economia
brasileira. Isso é o que desejamos hoje.
Essa mentira que é o desenvolvimento para a exportação não nos
serve, porque todo dinheiro gerado pela exportação nós não vemos.
São colocados lá fora, para a transferência de juros e de lucros
das multinacionais e dos investidores num mercado especulativo das
finanças brasileiras. Para que serve, então, esse saldo da balança
comercial? Serve para rebaixar o salário dos trabalhadores,
diminuir seu poder de compra e exportar o que sobrar. Essa é a
política econômica que está aí, e ela nós não queremos.
Como disse muito bem o nosso companheiro do PPS, é contra isso
que queremos fazer nossa opção. Queremos uma alternativa para isso
que está aí, porque isso não serve para o povo brasileiro.
Todo projeto revolucionário de 1930 adotado pelo trabalhismo
brasileiro baseou-se em três coisas: desenvolvimento, justiça
social e soberania. A soberania está esgarçada, o desenvolvimento
é mentiroso, porque se transforma em transferência de dinheiro
para fora. Tudo que geramos de desenvolvimento vai para fora. As
diferenças sociais estão cada vez mais profundas. Vamos analisar a
distribuição da riqueza no Brasil. A população brasileira, nos
últimos 15 anos, perdeu cerca de 35% da sua massa salarial. Os
salários dos trabalhadores foram achatados, e as condições de
compra ficaram piores. Nossa capacidade de compra diminuiu. Num
mercado restrito, há a necessidade de redução de preços, e, com
isso, a indústria e o comércio perdem. Tudo aquilo que produzimos
e que desapareceu do salário do trabalhador e do lucro do
industrial, do comerciante e dos nossos fazendeiros foi para as
mãos dos banqueiros e daqueles investidores internacionais que
usam o sistema bancário. Não sei quais são os Bancos nacionais que
não têm dinheiro estrangeiro. Parece que são somente o Itaú e o
Bradesco. Quanto ao resto, ou é associado em 50% ou está nas mãos
do capital financeiro internacional. Isso não nos serve porque,
enquanto a indústria e o comércio conseguem uma taxa de lucro de
2%, 3%, 4%, no máximo 5% ao ano, os Bancos conseguem 20%, ou mais,
sobre seu capital líquido. Que situação é essa? De que vale
trabalhar?
Conversava com meu amigo Manoel Costa na hora do almoço, falando
da modernidade, porque o telefone celular dele não parava de
tocar. Eu disse: “Manoel, para que atender ao telefone celular,
trabalhar o tempo todo?”. O que faz o telefone celular, o
computador e outras modernidades? Aumentar o nosso ritmo de
trabalho. Trabalhamos mais, mas ganhamos mais? Não; ganhamos
menos. Para quem vai isso? O Brizola chamava isso de máquina de
moer carne. O Darcy dizia que existia uma máquina que moeu a nossa
população, sobretudo a população negra e a indígena, que é a
espoliação. São 500 anos de espoliação, mas essa de hoje talvez
seja a mais brutal de todas. Temos de ter alguma coisa a fazer.
Quando João Goulart assumiu a Presidência da República e tentou
aplicar a Agenda Vargas, fazendo as reformas de base e controlando
o capital estrangeiro, foi derrubado. Até hoje não havia sido
aberta a perspectiva de um Presidente popular, senão agora com a
eleição do Lula; entretanto, o Lula está fazendo a política que
está fazendo, que é a política da transferência sistemática do
nosso trabalho, sob a forma de mercadoria a ser exportada, por
meio do saldo da nossa balança comercial e dos juros - os maiores
do mundo - escorchantes praticados no Brasil.
O PDT está empenhado em um trabalho chamado Projeto Brasil
Trabalhista. Trata-se do resgate dos valores republicanos dos
Inconfidentes da Revolução de 30 e do trabalhismo. Iremos resgatar
primeiro o trabalho e depois a educação, que foi um dos primeiros
atos praticados pelo Presidente Getúlio Vargas, ao lado das
primeiras leis trabalhistas. Ele criou os Ministérios do Trabalho
e da Educação.
É preciso resgatar os valores que construíram a nossa
civilização, os quais estão sendo dilapidados por essa coisa
extraordinária e perversa chamada neoliberalismo. Não é possível
que aceitemos colocar lá em cima, de novo, um governo neoliberal.
Temos de criar uma alternativa, para isso, é necessário haver um
projeto. Dessa forma, mobilizamos a nossa militância e as mulheres
e os homens de boa vontade do País, para nos ajudarem a construir
esse projeto, que é, ao mesmo tempo, o projeto do futuro do Brasil
e o instrumento de conscientização e mobilização para enfrentar
essa grande mentira internacional que é a falta de alternativa.
Companheiros, já falei demais, mas não posso terminar sem antes
fazer uma saudação àquele que foi o fundador do nosso partido, o
companheiro Leonel Brizola. Não o mencionei, propositadamente, na
questão histórica. Brizola foi a síntese de tudo, ou seja, a
síntese dos socialistas utópicos, dos iluministas, dos
Inconfidentes, da Revolução de 30 e do trabalhismo de Getúlio
Vargas. Basta analisar as suas ações práticas, políticas ou
administrativas. Ele era o realizador daquelas medidas de inclusão
da população brasileira na sociedade e na apropriação da nossa
riqueza. Foi o homem que cumpriu as questões fundamentais do
getulismo: desenvolver com justiça social e com soberania. Essa é
a nossa bandeira, companheiros. Muito obrigado.