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Minas Gerais pela Ciência

Vale do Jequitinhonha busca modelo inclusivo de desenvolvimento

Primeiro encontro regional do Fórum pela Ciência, realizado em Diamantina, discute propostas de inovação que evitem reforçar desigualdade social.

23/08/2024 - 16:48
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A luta contra a desigualdade social que assola de forma especialmente intensa os Vales do Jequitinhonha e Mucuri, no Nordeste de Minas Gerais, tornou-se uma diretriz importante do primeiro encontro regional do Fórum Técnico Minas Gerais pela Ciência – Por um Desenvolvimento Inclusivo e Sustentável, organizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em parceria com quase 50 entidades, entre as quais universidades, secretarias de Estado e institutos e fundações ligados à pesquisa.

O encontro aconteceu nesta sexta-feira (23/8/24) no auditório da reitoria da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Diamantina, no Alto Jequitinhonha. A necessidade de que a ciência, tecnologia e inovação passem a contribuir para um modelo de desenvolvimento econômico que seja menos concentrador de renda e mais inclusivo foi uma prioridade apontada tanto por autoridades quanto professores que participaram da abertura do evento. 

“Estamos numa região com inúmeras potencialidades, mas que tem sido sempre vítima e alvo de caminhos únicos”, afirmou a deputada Beatriz Cerqueira, presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG e responsável pela abertura dos trabalhos do fórum.

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As duas apresentações que precederam o debate sobre as propostas regionais também enfatizaram a vocação do Vale do Jequitinhonha para contribuir para essa revisão do modelo econômico.

Doutora em Ciência Política, com pós-doutorado em Direitos Humanos, Teresa Cristina Cardoso Vale rememorou os diversos planos e projetos já elaborados para a região e que ficaram apenas no papel. No século XX, segundo ela, o algodão e o eucalipto aumentaram o PIB da região mas também a desigualdade.

Ela ressaltou a necessidade de se elaborar um plano menos centralizado tecnocraticamente e mais participativo. “Não podemos inovar se isso só trouxer benefícios para um grupo seleto da sociedade. Do contrário, ampliamos as desigualdades e aumentamos a concentração de renda, prestando um desserviço à região”, declarou. 

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UFVJM, Ana Cristina Lacerda, lembrou que o combate às desigualdades é um dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável apontados pelas Nações Unidas, uma importante referência na construção de um modelo alternativo.

Ela comentou diversas potencialidades econômicas da região e sua relação com áreas de pesquisa e inovação já trabalhadas pela Universidade. Citando o caso do lítio, mineral abundante na região e que é extraído para a produção de baterias de celulares e carros elétricos, ela afirmou que o melhor caminho é buscar uma articulação entre os interesses ecológicos, da sociedade e da mineração. 

Presidente da ALMG propõe mediação em busca do bem comum

A intenção da Assembleia de Minas de mediar o debate entre os diversos setores da sociedade foi ressaltado pelo presidente da ALMG, deputado Tadeu Leite (MDB), em mensagem enviada para a abertura do evento.

“Além de elaborar e aprovar novas leis, representar a vontade popular, formular políticas públicas e fiscalizar a sua execução, o Poder Legislativo também constitui um espaço de mediação entre diferentes instâncias da sociedade, tendo por horizonte a defesa do interesse público e a realização do bem comum”,  afirmou o presidente.

Outro ponto muito lembrado durante a abertura do evento foram as dificuldades de financiamento enfrentadas nos últimos tempos pelas universidades em instituições de pesquisa, tais como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

Cobranças com relação a isso foram feitas pelo reitor da UFVJM, Heron Bonadiman, pelo diretor geral do Instituto Federal do Norte de Minas -  Campus Diamantina, Júnio Jáber, e pelo promotor de Justiça Luís Gustavo Bortoncello: “Vivemos recentemente quatro anos em que se negou a ciência, se retrocedeu o desenvolvimento e se negou a inclusão social e o meio ambiente”, criticou o promotor.

Também participaram da abertura o prefeito de Diamantina, Juscelino Roque, o 1° vice-presidente da Câmara Municipal, vereador Edivaldo José Lopes, entre outras autoridades.

Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação será elaborado 

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Após a abertura no período da manhã,  grupos de trabalho se reuniram à tarde para debater contribuições regionais para o fórum técnico, que visa a elaboração do Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.

A discussão é organizada em torno de quatro eixos temáticos:

  • a estruturação do sistema de Ciência Tecnologia e Inovação em Minas Gerais
  • o desenvolvimento social com qualidade de vida
  • a interação entre natureza e sociedade
  • a concepção de cidades inteligentes, sustentáveis e criativas

Integrante do conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e representando as entidades parceiras da Assembleia na realização do evento, a professora Andréa Macedo, da UFMG, explicou o trabalho preliminar já realizado, que resultou em um caderno com quase 70 propostas, discutidas desde 2019. 

“Queremos um documento que represente o tamanho do nosso Estado e que tenha a cara de Minas Gerais”, afirmou ela, ao explicar a importância da etapa de encontros regionais.

A preocupação com a preservação do patrimônio natural da região e de toda Minas Gerais motivou diversas novas propostas apresentadas no encontro regional em Diamantina. Entre elas, a criação de programas, tecnologias e protocolos para a prevenção dos efeitos dos extremos climáticos e para remuneração dos créditos de carbono de áreas úmidas, como as turfeiras, veredas e outras. 

Outras propostas apresentadas abordaram questões de interesse social, tais como a criação de programa de pesquisa sobre inclusão digital e o incentivo a iniciativas para democratizar o acesso à internet pelas populações tradicionais, movimentos sociais e grupos culturais.

Outra proposta foi o estímulo à pesquisa sobre reaproveitamento de resíduos e de água em espaços urbanos e rurais, com o objetivo de fortalecer circuitos curtos de produção e consumo.

Fórum técnico Minas Gerais pela ciência - por um desenvolvimento inclusivo e sustentável
“O Vale do Jequitinhonha enfrentou a monocultura e agora a própria mudança do nome para Vale do Lítio, que infelizmente o Governo do Estado tem feito, como se a região fosse de caminho único. Esses caminhos únicos não trazem um desenvolvimento que considere toda a região, todas as suas necessidades, e acabam reproduzindo desigualdade.”
Beatriz Cerqueira
Deputada estadual
Fórum técnico Minas Gerais pela ciência - por um desenvolvimento inclusivo e sustentável

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