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Usuários reclamam de precariedade do transporte coletivo

Em visita à Estação São Gabriel, nesta quinta (2), deputada ouve reclamações de passageiros e propõe medidas para minimizar o problema.

02/05/2024 - 23:31 - Atualizado em 06/05/2024 - 12:30
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Ônibus em sua maioria velhos, alguns sem ar condicionado, com portas que não fecham direito e até com goteiras e bancos rasgados foi o cenário encontrado na visita da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) à Estação São Gabriel, de integração metrô-ônibus, na Capital. Além disso, nas horas de maior fluxo de pessoas, os veículos andam lotados, porque demoram a chegar. 

Realizada na hora do rush, após as 18 horas, a atividade enfocou especialmente a linha 815 (estação São Gabriel-Bairro Paulo VI), mas ouviu usuários de outras linhas. Operada pelo Consórcio BHLeste, a 815 foi escolhida por ser a segunda linha que mais recebe reclamações dos usuários (perde só para a 806 - São Gabriel-Vista do Sol).

A 815 também tem se destacado negativamente pelos acidentes que vêm ocorrendo com os ônibus. Apenas nos últimos 30 dias, foram três, deixando mais de dez feridos.

Diante da situação verificada, a deputada Bella Gonçalves (PSOL) disse que atuará junto à Defensoria Pública para que proponham uma ação judicial por dano coletivo da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) aos usuários, em virtude das péssimas condições do transporte.

Na visita à Estação São Gabriel, a deputada ainda ouviu passageiros de linhas diversas, que apresentaram suas queixas.

Maria Flor, liderança comunitária do Paulo VI, reclamou da demora dos ônibus da 815, levando à sua superlotação quando chegam. O aumento do tempo de trajeto, segundo ela, se deve em parte a  um desvio que o coletivo faz no início da BR-381, logo quando sai do Anel Rodoviário.

“Às vezes, ficamos 40 minutos no sol, dentro do ônibus superlotado só por causa desse desvio de trajeto, onde ninguém entra ou desce”, criticou. Maria Flor reivindicou da PBH a mudança do percurso, o que economizaria tempo para os usuários. Também relatou que, na última semana, um ônibus enguiçou e ficou mais de uma hora parado na rua principal do Paulo VI, onde há escola, creche e posto de saúde, impedindo o tráfego. Por fim, pediu mais atenção e respeito com a comunidade local.

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Prioridade

Com um bebê de 3 meses no colo, Ana Luiza Ramos, usuária da linha 707 (Jardim Guanabara), reclamou que estava esperando o ônibus há cerca de uma hora. “Meu filho Ravi está sem mamar, porque não foi respeitada a prioridade e eu fui obrigada a ficar em pé por todo esse tempo”, indignou-se.

Completou que ela e outras pessoas formavam uma primeira fila para entrar no ônibus, que acabou parando mais perto da segunda fila de passageiros, os quais não respeitaram a ordem e entraram na lotação. Disse que faltou fiscalização para garantir sua prioridade e a organização das filas.

Tentando intermediar uma solução para esse caso, Bella Gonçalves ouviu logo depois o superintendente Nordeste da BH-Trans, Bertoldo Costa. Ele garantiu que a reclamação de passageira seria apurada e que qualquer usuário com alguma dificuldade poderia entrar em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, através do telefone 156.

Para testar o atendimento, a deputada ligou para o número e tentou fazer a reclamação, mas teve grande dificuldade. Avaliou que o menu é confuso e não facilita a vida da pessoa que quer reclamar de algum serviço da PBH, além de a ligação ser cobrada. “Quando liguei, depois de passar por vários caminhos, me passaram um número de whatsapp, às 18h28, e só às 20 horas me responderam, mas com uma mensagem automática”, reportou. Na sua visão, o 156 promove a exclusão digital: “Se eu tive toda essa dificuldade, imaginem um idoso”.

Parlamentar e equipe vão de ônibus até ponto final no Paulo VI

Após o encontro na estação, Bella Gonçalves e toda a equipe da ALMG pegaram o ônibus, bastante cheio, da linha 815 rumo ao ponto final, no bairro Paulo VI. No trajeto, foram ouvindo depoimentos de passageiros insatisfeitos. Nicole Souza mostrou fotos que tirou com buracos no teto de um dos veículos.

A vereadora de Belo Horizonte Professora Nara, também moradora da região, reiterou as reclamações quanto à demora, superlotação e precariedade dos carros, o que estaria favorecendo a ocorrência de acidentes. O usuário Milton Aires destacou que, nos fins de semana, o tempo de espera, que já é grande de segunda a sexta-feira, aumenta ainda mais: “Agarra muito, porque a empresa deixa pouquíssimos ônibus na linha”, constatou.

Comboio

André Veloso, do Movimento Tarifa Zero, denunciou que muitas empresas de ônibus da Capital têm usado o chamado “comboio”, para burlar o sistema de cobrança em vigor, que remunera cada quilômetro rodado. Apesar de a proposta ter sido uma tentativa de tornar o pagamento mais justo, afirma ele, empresas têm colocado ônibus vazios para rodar e ganhar em cima dessa quilometragem. Enquanto isso, apenas poucos veículos carregam, de fato, passageiros, acarretando a superlotação relatada.  

Cacarecos

O ponto final do bairro Paulo VI mostra o descaso do poder público com a população. Não há guarita, nem cobertura, muito menos painel ou visor com quadro de horários. Acessibilidade para pessoas com deficiência também não é adotada. Já idoso, o morador Geraldo Souza, conseguiu definir com palavras simples o drama vivenciado por essa população periférica:  “Eles botam os ônibus cacarecos, porque somos pobres”.

A usuária Maria Flor ainda realçou um problema grave vivido pelos moradores do bairro vizinho Montes Claros. Sem a infraestrutura necessária de ruas asfaltadas para o tráfego de ônibus, essa população é obrigada a caminhar cerca de 1 km, em subida, para chegar ao ponto final da linha 815.

Considerando a situação encontrada “um verdadeiro caos”, a deputada Bella Gonçalves anunciou que enviaria o relato da visita às autoridades competentes. Entre as providências, ela propôs o envio à BHTrans de um pedido para criação de um sistema em que o usuário possa fazer sua reclamação na hora em que é lesado. Também vai solicitar à empresa um documento sobre como funciona a fiscalização de denúncias trazidas por passageiros. E, ainda, o pedido para alterar o trajeto da linha 815, reduzindo o tempo de trajeto.

Também participou da visita o defensor público Paulo César Azevedo, que atua na área de tutela coletiva, acompanhando os problemas do transporte público. 

Após visita à Estação São Gabriel, comissão da ALMG estuda a possibilidade de ajuizar uma ação judicial em parceria com a Defensoria Pública, por danos coletivos da Prefeitura de Belo Horizonte aos usuários TV Assembleia

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