Turmas querem manter aulas presenciais no Cesec de Contagem
Resolução da Secretaria de Educação pode transformar maioria das aulas em atividades a distância, em curso frequentado por mais de mil jovens e adultos.
29/11/2024 - 23:32Em visita realizada nesta sexta-feira (29/11/24), a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) manifestou apoio à demanda de alunos do Centro de Educação Continuada de Contagem (Cesec), na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), pela permanência das aulas presenciais.
A comissão foi representada por sua presidenta, a deputada Beatriz Cerqueira (PT). Ela lembrou que a visita foi resultado de um compromisso assumido em audiência pública realizada em abril, sobre a Resolução SEE 4.955. Publicada em fevereiro deste ano pela Secretaria de Estado de Educação, a medida determina que, a partir do próximo ano, 80% da carga horária do ensino para jovens e adultos seja cumprida por meio da educação a distância (EaD).
“A gente trouxe a Assembleia para a escola. Estou aqui para escutar vocês, porque esse é um direito de vocês”, disse Beatriz Cerqueira na chegada ao Cesec. Segundo ela, ao baixar a resolução, a Secretaria de Educação não considerou a realidade dos cerca de 100 Cesecs existentes no Estado. Em Contagem, por exemplo, mais de mil estudantes frequentam as aulas presenciais e sofrerão impactos negativos caso a modalidade de ensino seja alterada.
Alunos relatam experiências positivas com aulas presenciais
Para Tatiane dos Santos Silva, de 42 anos, mãe de três filhos, “aula on-line é uma coisa terrível”. Ela mencionou os conselhos para a tomada de decisões e outros benefícios do convívio com colegas. “Aqui, você desliga de rede social, de problema de fora e consegue focar. No refeitório, as pessoas desabafam, se ajudam”, contou.
Liliane Aparecida da Silva lembrou a experiência do ensino remoto durante a pandemia e da distração que enfrentava. “Foi gratificante sentar numa mesa e ficar frente a frente com o professor. Dá pra tirar dúvidas olhando nos olhos”, destacou.
De acordo com Rosimar Miranda Alves, as filhas percebem a diferença. “Elas dizem ‘a mamãe está crescendo’”, recordou. Ela afirmou que ampliou sua compreensão do que significa fazer parte de uma sociedade. Em sua vida, o Cesec representou a chance de recomeçar. “Ver vídeo não foi suficiente. O EaD é um retrocesso. Nada substitui o professor. Eu falo como aluna”, ressaltou.
Segundo o diretor Valterson Nunes de Oliveira, o laboratório de informática, com apenas 30 computadores e sem um professor específico, não teria condições de atender à demanda. Ele observou que poucas pessoas possuem equipamentos para assistir às aulas em casa.
O supervisor Yuri Maia acrescentou que as turmas também são compostas por vítimas de bullying no ensino regular e reabilitados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
É o caso do Sinval Helci Silva, que, devido a um descolamento na retina, perdeu parcialmente a visão esquerda. Em depoimento emocionado, explicou que precisa comprovar frequência presencial para continuar recebendo o benefício e, depois, ampliar a chance de recolocação profissional.
Ao elogiar o carinho de cada profissional do Cesec, Kelly Silva reconheceu que nem sempre consegue compreender o conteúdo da apostila. Nessas horas, conta com a ajuda de colegas e professores. “Não é só o aspecto profissional. A gente aprende a melhorar como pessoa”, afirmou.
“No Cesec, falam que eu tenho potencial. Quantos amigos eu fiz aqui?”, questionou Célio Soares. “Tô na correria com o trabalho e nem consigo cozinhar às vezes. Chego aqui e tem merenda, aconchego. Eu nem imaginava que tinha algo assim. Tirar isso da gente é covardia”, desabafou Jovelina Gonçalves.
Conforme a deputada Beatriz Cerqueira, os relatos evidenciam o quanto a escola é querida. Ela reforçou que se trata de uma questão de gênero, segurança alimentar, assistência social e senso de pertencimento.
O assunto será discutido novamente em audiência pública na próxima sexta-feira (6), na ALMG.