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Tratamento da obesidade precisaria focar no paciente, não na doença

Esse é o entendimento de especialistas em práticas integrativas complementares, centradas no cuidado do corpo e da mente.

15/05/2024 - 18:00
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As taxas crescentes de obesidade são um problema real de saúde pública. Na cruzada contra as doenças associadas ao sobrepeso, as abordagens terapêuticas tradicionais têm se beneficiado de práticas integrativas complementares, as chamadas PICs, debatidas em audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (15/5/24).

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Presentes há milhares de anos em diferentes culturas e regiões do mundo, as PICs são reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como tratamentos auxiliares à medicina tradicional, centrados no cuidado do corpo e da mente.

Homeopatia, meditação, reiki e yoga são algumas das PICs mais conhecidas. Segundo Andrea Lemos, assessora do núcleo de gestão da Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, do Ministério da Saúde, a medicina tradicional chinesa e a fitoterapia foram as mais procuradas em 2023 no atendimento à obesidade na atenção primária, pelo SUS, em Minas Gerais.

Quanto ao número de procedimentos, sessões de acupuntura e sua derivação aplicada na orelha, a auriculoterapia, foram as de maior prevalência. O Brasil é referência, por sinal, na integração das PICs no sistema de saúde pública.

Entre as principais contribuições desses tratamentos alternativos, Andrea citou os benefícios para a saúde mental, o manejo da dor e o combate, além da obesidade, a doenças cardiovasculares e metabólicas.

Ela apresentou dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2020, realizada pelo IBGE, os quais apontam que 60% da população adulta do País (96 milhões de pessoas) estavam com excesso de peso, enquanto 26% (41 milhões) eram obesos. Os índices são menores entre crianças e adolescentes, mas mesmo assim preocupantes. Transtornos mentais e doenças como diabetes e câncer estão associados à obesidade.

Se o governo federal implantou a política nacional de PICs em 2006, a política estadual de Minas Gerais entrou em vigor em 2009. Como explicou Daniela Souza Lima, diretora da Secretaria de Saúde (SES), o panorama da obesidade no Estado segue o do País.

Ela trouxe, no entanto, dados específicos de Minas: de 2008 a 2019, as regiões do Triângulo e Sul concentraram o maior percentual de pessoas com excesso de peso, condição mais recorrente também na população negra.

Os hábitos alimentares são um importante indicativo do aumento da obesidade. Entre a população atendida nas unidades básicas de saúde do Estado em 2022, 75% informaram ter consumido ao menos um alimento ultraprocessado nas últimas 24 horas – 57% ingeriram bebidas açucaradas e 36%, guloseimas.

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PICs atuam nas raízes da obesidade

Um conceito comum entre os adeptos das PICs é o de que é preciso analisar com maior profundidade a origem das doenças, com tratamentos que não se resumam aos sintomas ou a aspectos fisiológicos.

Stephane Viana, especialista em educação de Vespasiano (Região Metropolitana de Belo Horizonte), lembrou que o descontrole alimentar pode ter diversas causas emocionais, como traumas oriundos da escassez de alimentação na infância ou de abusos. “A alimentação passa a ser a capa de proteção contras suas inseguranças”, explicou.

Também para o médico Fernando Freitas, a obesidade vai muito além do acúmulo de tecido adiposo, geralmente ancorada em uma dor profunda. “Se o médico tirar a doença, mas o indivíduo ‘precisar’ dela, ele cria outra”, citou, em referência ao patrono da medicina, Hipócrates.

Um dos exemplos mais emblemáticos está relacionado à cirurgia para redução de estômago. Sem o acompanhamento devido, os pacientes muitas vezes acabam afundando no alcoolismo e na depressão, uma vez que as raízes da doença continuam presentes.

Nesse contexto, salientou Tânia Maria Silva, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, os efeitos terapêuticos das PICs abrangem a autoconsciência, uma maior percepção de si mesmo e uma reflexão mais profunda.

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Atendimento especializado

Ao final da audiência, o deputado Coronel Sandro (PL), que solicitou o debate, lamentou o tratamento dado pelo poder público em geral à obesidade. Em contrapartida, ele defendeu a criação de uma instituição específica para cuidar do problema, em um projeto que poderia começar por Belo Horizonte.

Também a pedido do parlamentar, o Parlamento mineiro promoveu um ciclo de debates sobre os desafios da obesidade em outubro do ano passado. “Precisamos aceitar que é uma doença grave com consequências sérias. É preciso enfrentá-la de frente, com coragem”, disse, na oportunidade.

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Tópicos: Saúde Pública
Comissão de Saúde - debate sobre os cuidados com a obesidade
Práticas integrativas reforçam o combate à obesidade TV Assembleia
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