Tratamento contra obesidade deve ser de longo prazo
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Paulo Miranda, estudos demostram que intervenções perdem eficácia com o passar do tempo.
03/10/2023 - 12:35O tratamento para a obesidade deve ser de longo prazo para ser efetivo. A afirmação foi feita pelo presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Paulo Augusto Miranda, na manhã desta terça-feira (3/10/23), no “Ciclo de Debates - Obesidade é doença: o desafio é de todos”, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A programação do evento, solicitado pelo deputado Coronel Sandro (PL), que conduziu os trabalhos, teve início nesta segunda (2) e prossegue ao longo desta terça (3), com especialistas de diversas áreas para debater os desafios relacionados à obesidade.
Pela manhã, foi apresentado painel sobre o tratamento da obesidade, quando o médico abordou evidências científicas nesse sentido.
Parte do tratamento, como salientou, deve ser voltado à perda de peso. Mas, segundo o endocrinologista, estudos demostram que intervenções relacionadas ao tratamento da obesidade perdem eficácia ao longo do tempo. Isso serve tanto para iniciativas de mudança de hábito quanto para o pós-cirurgia bariátrica.
Conforme contou, essas pesquisas também mostram que há um reganho de peso progressivo do segundo ao quinto ano após a intervenção feita. Por isso, defendeu uma continuidade no tratamento e um acompanhamento sistemático do paciente.
De acordo com ele, a obesidade está relacionada a uma maior taxa de mortalidade, além de propiciar o surgimento de doenças relacionadas. Por isso, precisa ser tratada, conforme defendeu. “O aumento da expectativa de vida e da qualidade de vida devem ser os maiores objetivos nesse processo”, disse.
Paulo Miranda, que também é coordenador do Serviço de Endocrinologia da Rede Mater Dei de Saúde e assistente efetivo da Clínica de Endocrinologia e Metabologia da Santa Casa de Belo Horizonte, salientou algumas terapias para tratar a obesidade.
Entre elas as mudanças de hábito de vida, práticas integrativas e complementares em saúde, tratamento farmacológico e tratamento cirúrgico. Com relação às mudanças de hábito, ele listou que há evidências importantes no tratamento com alimentação saudável, prática de exercícios e suporte psicológico.
Medicação e cirurgia
O médico contou que, no Brasil, há cinco medicamentos liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratar a obesidade. Ele também relatou que estudos mostram que o uso desses medicamentos também precisa ser contínuo para evitar o reganho de peso. Ocorre que, como contou, o Sistema Único de Saúde (SUS) não arca com nenhum deles.
Paulo Miranda abordou, por fim, que a cirurgia bariátrica é a intervenção que tem mais evidências de aumento da expectativa de vida do paciente com obesidade, ampliando para seis anos em média e, no caso de pacientes que também têm diabetes, o aumento é dez anos.
Linha de cuidados no SUS
Nutricionista e coordenadora de projetos junto ao Ministério da Saúde sobre a organização da linha de cuidado do sobrepeso e da obesidade nos estados brasileiros, Erika Cardoso dos Reis falou sobre a linha de cuidado para essas pessoas pelo SUS.
Ela, que também é professora e pesquisadora da Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), falou que é preciso um pacto para a corresponsabilização de agentes públicos no cuidado com o paciente. Quando isso ocorre, como disse, há a oferta de linha e de fluxo de cuidados.
Apesar disso, de acordo com ela, a realidade mostra uma extensa fragmentação de serviços, sobreposição de ações, repetição de tratamentos e falta de comunicação dos serviços e, ainda, uma incoerência entre o perfil do paciente e a oferta do que de fato precisa. Esse modelo, como contou, não tem tido sucesso.
Para reverter esse quadro, Erika Cardoso defendeu que seja feita uma avaliação do perfil nutricional da população em cada território, que seja criado um grupo de trabalho intersetorial na saúde, iniciada discussão sobre a linha de cuidados, que sejam feitas parcerias intersetoriais e avaliações da rede de atenção à saúde, bem como pactuados fluxos de atendimento.
Foco na pessoa e não na doença
Professora titular do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG e líder do Grupo de Pesquisa de Intervenções em Nutrição (GIN-UFMG), Aline Cristine Souza Lopes tratou do cuidado centrado na pessoa com obesidade.
Ela enfatizou que, como a doença é complexa e multifatorial, as ações precisam ser organizadas, qualificadas, além de centradas na pessoa e não na doença que ela carrega.
De acordo com a professora, é preciso considerar a prontidão da pessoa com a obesidade para o tratamento, uma vez que isso acontece em estágios diferentes e cada um tem seu tempo.
Aline Lopes destacou ainda a importância de ações ofertadas por equipe multiprofissional, visando manutenção de peso saudável e adoção de estilo de vida saudável.
Conforme contou, o modelo de cuidado atual perde muita oportunidade de prevenção e de tratamento precoce. “Uma pessoa com obesidade em grau 1 pode ter interrompida aquela trajetória com o fortalecimento da atenção primária”, disse.
A professora também colocou como parte desse cuidado integral com o paciente a articulação com outros saberes, serviços e instituições para fortalecer a rede de apoio na construção de ações compartilhadas que possibilitem criação de vínculos, corresponsabilidade e cogestão.
O deputado Coronel Sandro também defendeu o cuidado com o paciente com obesidade. Ele ainda disse que iniciativas de prevenção e promoção da saúde são relevantes e impedem que a doença se agrave.

