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Trabalho escravo, ameaças e redução do número de fiscais motivam audiência

Para os deputados, a redução do número de fiscais em Minas Gerais nos últimos 11 anos facilita a exploração do trabalho escravo.

02/07/2024 - 14:35 - Atualizado em 02/07/2024 - 17:21
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Ameaças aos auditores-fiscais do Trabalho e a redução do número de profissionais em Minas Gerais nos últimos 11 anos, prejudicando o combate ao trabalho escravo no Estado, serão debatidas  em audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, nesta quarta-feira (3/7/24). A reunião está marcada para as 10 horas, no Auditório da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

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Conforme o requerimento da reunião, solicitada pelos deputados Leleco Pimentel e Betão, do PT, o sul e o sudoeste de Minas têm sido palcos dos crimes caracterizados como trabalho escravo no Brasil. Nova Resende, Jacuí, Juruaia, Bom Jesus da Penha, Muzambinho, Conceição da Aparecida, Carmo do Rio Claro, entre outros municípios, aparecem como destaque nessa modalidade de crime, a maioria das denúncias envolvendo fazendas de café.

Dados do Sindicato Nacional de Auditores-Fiscais do Trabalho, citados pela assessoria do deputado Betão, mostram que a fiscalização é feita com menos de 3 auditores por município. Segundo os dados do sindicato, o Brasil conta com cerca de 1,9 mil auditores-fiscais do trabalho, sendo que Minas tem 225 trabalhadores, 83 a menos do que em 2013. Esse é o menor número das últimas três décadas. 

Em 11 anos, o Estado perdeu quase 90 auditores-fiscais do trabalho. Para Betão, essa perda faz com que Minas Gerais não tenha estrutura suficiente para o combate ao trabalho análogo à escravidão

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Privação de liberdade

Na reunião, pretende-se também buscar formas de encaminhar providências contra quem esteja cometendo esses crimes e ainda ameaçando fiscais do trabalho. “Os fiscais querem garantir o cumprimento das leis que preveem condições adequadas de trabalho e dignidade para os trabalhadores”, afirma o requerimento.

O documento de autoria dos dois deputados traz o conceito de trabalho escravo ou em condições análogas à escravidão: aquele em que o direito do trabalhador à liberdade é suprimido através do uso da violência. O cerceamento da liberdade pode se dar nas seguintes situações:

* impedimento da locomoção;

* criação de dependência financeira;

* trabalho forçado;

* situação de endividamento imposta pelo empregador;

* retenção de documentos e objetos pessoais pelo empregador, com a finalidade de impedir a saída do trabalhador;

* condições degradantes de trabalho e de moradias insalubres e sem condições de habitabilidade, sem proteção à saúde ou à vida e sem respeito a seus limites físicos;

* jornada exaustiva, sem período de descanso e além do tempo permitido pela legislação.

Colheita do café

O requerimento salienta ainda que, no momento, está ocorrendo a colheita do café em Minas, e trabalhadores de outras regiões do estado e do Brasil são aliciados para trabalhar nessa atividade. Chegando aqui, seriam muitas vezes colocados em condições análogas a escravidão, fato que ocorreria em diversas propriedades mineiras.

Além disso, afirma o texto, vários empregadores estariam coagindo e ameaçando os fiscais do Ministério do Trabalho e dirigentes sindicais. “É urgente a tomada de medidas por parte da Assembleia Legislativa, até mesmo a tomada de medidas judiciais por parte dos órgãos de segurança e justiça”, concluem os deputados.

Para a reunião desta quarta-feira (3), foram convidados representantes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Ministério Público do Trabalho, da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da UFMG e da Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG).

“O trabalho análogo à escravidão e o número de ameaças que esses trabalhadores vêm sofrendo aumentam a cada dia porque a falta de estrutura e recurso, infelizmente, se torna um facilitador para esses tipos de crime”
Betão
Dep. Betão

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