Trabalho em rede da comissão faz avançar causa das mulheres
Em reunião de balanço na terça-feira (10), deputada destaca reativação do conselho estadual, interiorização das Sempre Vivas, entre outras ações.
10/12/2024 - 19:25A reativação do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, a criação da Subsecretaria de Políticas para as Mulheres e da Diretoria Estadual de Gestão das Delegacias de Atendimento à Mulher e a interiorização do trabalho da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. Esses foram os principais avanços obtidos por essa comissão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no biênio 2023-2024, conforme destacado em reunião nesta terça-feira (10/12/24).
A presidenta da comissão, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), apresentou em audiência pública com dezenas de convidadas o balanço da atuação da comissão. Ela valorizou a parceria com entidades e órgãos públicos que lidam com a temática, o que possibilita o trabalho em rede, capaz de obter resultados mais eficazes.
“Conseguimos alcançar resultados interessantes graças a participação de vocês que estão aqui hoje; e uma coisa que me deixa feliz é que muitas ações da comissão estão sendo copiadas por várias câmaras e assembleias; e isso só acontece porque só se copia algo que é bom”, comemorou.
Sobre a interiorização, Ana Paula Siqueira detalhou que, pela primeira vez, o Sempre Vivas foi levado a quatro regiões do Estado. Com o tema “Viver é muito mais que sobreviver” em 2023, o evento abordou o combate à violência doméstica e outros temas de interesse. O Sempre Vivas é um evento realizado no Dia Internacional da Mulher, com atividades gratuitas para dar visibilidade à luta das mulheres por direitos.
Em 2024, o tema do Sempre vivas foi “É tempo de reconhecer o valor das mulheres”, com foco na necessidade de amior visibilidade delas. Foi realizado ciclo de debates sobre o tema, abordando aspectos como a sub-representação feminina nos parlamentos e outros espaços de poder, entre outros. Para 2025, adiantou a deputada, o assunto será “Mulheres e a Emergência Climática”. As reuniões preparatórias para este ano já estão acontecendo.
Por fim, a parlamentar apresentou o balanço da comissão: 80 reuniões, sendo 44 audiências públicas, cinco visitas, além de 37 projetos apreciados. Por fim, destacou a aprovação da primeira lei estadual criando uma política de enfrentamento à violência política contra a mulher - a Lei 24.466, de 2023, oriunda de projeto dessa deputada e de outras três da Casa.
Promotora elogiada
Todas as participantes elogiaram a atuação da comissão e o trabalho incansável de Ana Paula Siqueira. A promotora de justiça Patrícia Habkouk, coordenadora do Centro de Apoio das Promotorias de Combate à Violência Contra a Mulher (CAO-VD), exaltou a união das entidades e órgãos em prol da causa.
“Essa comissão tem sido um espaço de diálogo tão qualificado para as meninas e mulheres de Minas Gerais”, elogiou. Com uma atuação voltada apenas para a violência doméstica, a promotora enfatizou o trabalho da comissão em outras áreas de interesse do segmento, como saúde, educação e cultura.
Durante a reunião, Ana Paula Siqueira lamentou que Patrícia Habkouk deve sair da coordenação do CAO-VD e aprovou um requerimento ao Ministério Público para que mantenha a promotora à frente desse centro de apoio. Várias convidadas fizeram coro à parlamentar, solicitando a continuidade de Patrícia Habkouk no CAO-VD.
Diálogo com homens por educação igualitária
Elizabeth Fleury, pesquisadora da Fiocruz, valorizou a importância de incluir os homens no debate sobre a violência contra a mulher. Coordenadora de estudo com homens enquadrados pela Lei Maria da Penha, ela defendeu a necessidade de compreender o que se passa na mente deles.
Na avaliação de Fleury, somente através do “diálogo pela paz” é que será possível construir uma educação igualitária e respeitosa, em que os homens sejam preparados para a convivência com as mulheres com igualdade, e não por meio da subordinação.
Também defendeu a inclusão dos homens nessa discussão, Jessyka Lopes, coordenadora da Rede da Região Metropolitana de Belo Horizonte de Enfrentamento à Violência Contra Meninas e Mulheres. Outra medida de apoio as mulheres proposta por ela foi a ampliação das creches e das escolas em tempo integral, como forma de garantir maior autonomia às mulheres.
Isabel Rodrigues coordena a Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres de Minas Gerais da OAB-MG. Ela lamentou que teve que atender, ainda nesta terça (10), a uma ocorrência de feminicídio no bairro São Marcos, na Capital, em que o marido matou a esposa, deixando oito crianças órfãs. “Tragédias como essa nos fazem pensar na importância da nossa atuação, o quanto conseguimos atuar na proteção das mulheres e o quanto ainda temos que caminhar”, refletiu.
Prevenção na PM
Único homem entre os convidados, o 1º-tenente Marco Túlio Alves valorizou o Serviço de Prevenção à Violência Doméstica, no qual é desenvolvido o trabalho de capacitação dos militares, buscando-se o atendimento humanizado. Ele registrou que quando o serviço foi iniciado em 2019, 25 municípios participavam e hoje são mais de 150 municípios atendidos. “Só em 2024, foram mais de 14 mil vítimas atendidas e quase 90 mil visitas realizadas; contamos muito com o trabalho em rede, com órgãos, entidades e sociedade civil”, concluiu.
Edneia de Souza, coordenadora do Grupo Vidas com Artes - Geração de Renda e Enfrentamento à Violência Doméstica, também defendeu orçamento adequado para as políticas voltadas para essa área. Ela sugeriu a criação de um fundo para o setor, que possa ser utilizado inclusive para a construção de moradias para mulheres vítimas de violência. “Precisamos da medida de emergência, que é retirar a mulher do convívio com o agressor, mas ela precisa de moradia definitiva”, analisou.
Vânia Ferreira, diretora do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol), destacou entre os feitos da Casa a aprovação da Lei Rafaela Drummond. Com o nome em homenagem à escrivã da Polícia Civil que se suicidou devido a assédio moral e sexual no trabalho, a norma prevê medidas de combate ao assédio moral no serviço público.
A sindicalista lamentou o fato de a corporação, apesar de ter grande responsabilidade na investigação de crimes envolvendo a violência contra as mulheres, estar doente: “Precisamos de uma polícia preparada e forte e é uma falta de respeito do governo com as mulheres, pois o governador está retirando recursos das políticas sociais”.
Ativismo pelo fim da violência contra as mulheres
Luiza Santiago de Assis, coordenadora do Centro Risoleta Neves de Atenção às Mulheres, do governo do Estado, enfatizou as mobilizações realizadas durante a campanha "21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres". Segundo ela, foram feitas 18 capacitações para atuação no Protocolo Fale Agora, que forma funcionários de bares e afins e do setor de lazer para prevenir violências sexuais, acolher vítimas e orientar para atendimento adequado.
Foi realizada ainda capacitação dos Creas regionais, voltadas para profissionais de saúde, assistência social e educação. Ela agradeceu à deputada pelo papel desempenhado pela comissão e se propôs a fortalecer a parceria entre sua unidade e a ALMG.
Alaíde Morais, vice-presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, valorizou o trabalho em rede desenvolvido pelos órgãos e entidades. E convidou os presentes, e ainda os municípios, para participarem da Conferência Estadual de Direitos das Mulheres.
O deputado Leleco Pimentel (PT) elogiou o trabalho da colega e pediu que ela continue à frente da comissão. Ele considerou que o ambiente na Assembleia está muito hostil nas disputas de pauta e que Ana Paula Siqueira deve ser parabenizada por enfrentar com coragem as discussões.