Saúde da mulher requer políticas de gênero, raça e faixa etária
Audiência pública reuniu profissionais para debater câncer de mama, infarto, lipedema e outras doenças.
22/10/2024 - 19:40Para lembrar, além do Outubro Rosa, os dias da Saúde Mental (10/10), do Médico (18), da Menopausa (18) e da Saúde Bucal (25), profissionais e ativistas se reuniram no Plenarinho II da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta terça-feira (22/10/24). O grupo participou da audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, presidida pela deputada Ana Paula Siqueira (Rede).
Na abertura, a parlamentar reproduziu dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) segundo os quais as mulheres dedicam quase 22 horas semanais ao trabalho de cuidado com os outros, o dobro em relação aos homens. “Muitas vezes, o cuidado com as mulheres é negligenciado pelas próprias mulheres, pela sociedade e pelas políticas públicas. Isso se deve à sobrecarga de atividades, à estrutura patriarcal”, apontou Ana Paula Siqueira.
Presidente da Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (Asprecam), Mônica Reis observou que mais de 70% das pacientes com câncer de mama são abandonadas. Por isso, defendeu que homens também precisam ser orientados quanto ao cuidado e para a composição da rede de apoio.
Com um protótipo de mama, ela demonstrou como fazer o autoexame e informou características que sinalizam casos suspeitos. “A nossa cultura é curativa, e não preventiva. Nosso papel é fazer com que isso mude”, frisou.
Pesquisador da área da Saúde, Diversidade e Inclusão e homem trans, Arthur Bugre relatou casos de preconceito na busca por atendimento médico. Lamentou a falta de preparo de profissionais para acolher pessoas que diferem dos padrões estudados por cientistas.
De acordo com a mastologista Mariane Pinotti, todas as mulheres acima dos 40 anos, mesmo sem histórico familiar de câncer, devem realizar a mamografia anualmente. O exame pode detectar tumores com até cinco milímetros.
A psicóloga e co-fundadora da Saúde em Clima, Amanda Suarez, chamou a atenção para o aumento de arboviroses e doenças respiratórias entre as mulheres. Essas enfermidades são agravadas por enchentes, queimadas, secas e outros eventos climáticos.
A presidente do Conselho Estadual de Saúde, Lourdes Aparecida Machado, questionou sobre quem teria, de fato, condições de seguir as orientações de prevenção do câncer: “Quem consegue ter uma alimentação saudável, ter acesso a uma informação qualificada?”. Ao apontar a ausência de representantes do Governo do Estado em debates, indagou quais políticas públicas estão sendo implementadas para atenuar esses problemas.
Durante a audiência, a assessora técnica da Subsecretaria de Estado de Políticas dos Direitos das Mulheres, Roseane Lima de Souza, mencionou iniciativas governamentais para acolher vítimas de violência doméstica e promover o diagnóstico precoce. Explicou, no entanto, que apenas responsáveis pela área da saúde poderiam detalhar as ações.
Ambulatório público de reconstrução mamária é pioneiro no Brasil
Considerando o drama de quem perdeu a autoestima e o senso de feminilidade, a deputada Ana Paula Siqueira destinou R$ 380 mil, por meio de emenda parlamentar, para a inauguração do primeiro ambulatório público de reconstrução de aréolas e mamilos do Brasil. Ele começou a funcionar no início deste mês, em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), e deve atender a demanda de outras 12 cidades próximas.
Autora do Projeto Oncológico Ambulatório de Reconstrução de Aréolas do SUS, a enfermeira Laura Cristina Guimarães reconheceu que o avanço do câncer pode ser um processo violento, mutilador. Por isso, comemorou a possibilidade de minimizar esses impactos com a oferta também da micropigmentação paramédica.
Negras e idosas demandam atenção específica
Conforme a idealizadora da Associação Menopausa Feliz, Adriana Ferreira, é necessário olhar para as situações específicas da menopausa enfrentada por pretas e pardas e para a efetividade do implante hormonal. Segundo a endocrinologista Ana Priscila Soggia, os altos índices de doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes e hipertensão em mulheres negras costumam ser negligenciados, sendo que esse grupo corre riscos maiores e tem menos acesso ao tratamento.
Cardiologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marildes Luiza de Castro alertou que mulheres já atingiram o nível masculino nos casos de doenças cardiovasculares. Essas enfermidades podem apresentar sintomas nem sempre fáceis de detectar, mas com consequências graves.
“Elas matam mais que o dobro de todos os tipos de câncer”, informou. Segundo a médica, a fase da menopausa requer mais cuidado. E muitas vezes, as mulheres nessa etapa estão trabalhando. A falta de cuidados com a saúde feminina pode causar afastamentos laborais, além de comprometer a qualidade de vida das pessoas.
Representante da Associação Lipedema Uai, a fisioterapeuta Valquiria Angélica Santos explicou a diferença entre a obesidade e a síndrome gordurosa dolorosa, outro problema que afeta muitas mulheres. Apontou que faltam dados e que a doença não tem tratamento pelo SUS. “É uma gordura que dói porque é formada por nódulos. É uma disfunção hormonal e é alarmante o estrago que faz na vida da mulher”, salientou.