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Regularização fundiária é principal gargalo na política para povos tradicionais

Política estadual completa uma década com muitos desafios ainda a serem superados, conforme destacado em audiência da Comissão de Direitos Humanos.

06/06/2024 - 16:12
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Apesar de instituída há uma década, a política estadual para o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais ainda engatinha. Ao menos é esse o entendimento de autoridades e representantes dessas populações ouvidos, nesta quinta-feira (6/6/24), em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

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A Lei 21.147, de 2014, prevê uma série de ações para assegurar mais qualidade de vida aos povos tradicionais. Entre elas, destacam-se a permanência nos seus territórios e a sua posse, por meio da regularização fundiária, hoje o maior entrave, segundo os participantes da audiência.

Além disso, o Estado deve promover o acesso das comunidades às politicas, serviços e equipamentos públicos.

Inovadora no arcabouço jurídico nacional, a lei “ainda não saiu do papel”, conforme o coordenador do Conselho Regional de Segurança Alimentar e Nutricional, Edilson Costa. Também para a professora Felisa Anaya, coordenadora do comitê de povos tradicionais da Associação Brasileira de Antropologia, a política estadual passa por um momento de fragilização.

Ela ponderou que a regularização fundiária por meio de títulos coletivos, que reconhecem toda uma comunidade, é um avanço, mas trouxe números desanimadores sobre esse processo.

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Até 2018, teriam sido emitidos apenas 26 certificados de autorreconhecimento das comunidades tradicionais, pré-requisito para a regularização. De lá para cá, não haveria registro de novas certificações. Quanto à regularização propriamente dita, seriam 32 processos em 2023, nenhum deles concluído.

A antropóloga também criticou a atuação, ou, na verdade, a inércia da Comissão Estadual para o Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais, criada a partir da lei aprovada na Assembleia para operacionalizar as ações de proteção dos direitos sociais básicos e a preservação de cultura e território desses povos.

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Nesse sentido, o procurador da República Edmundo Antônio Júnior salientou que a presidência da comissão estadual é sempre ocupada por representantes do governo, em dissonância com o decreto que criou o conselho nacional, o qual estabelece que o presidente deveria ser eleito entre representantes das comunidades tradicionais.

O procurador citou diversos dispositivos da política estadual descumpridos, como a citada emissão de certidões de autoidentificação, a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e a implementação de um fundo de desenvolvimento regional.

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Parlamentares cobram orçamento

A deputada Andréia de Jesus (PT), que preside a Comissão de Direitos Humanos e solicitou a audiência, ressaltou a constante negação de direitos desses povos, como de acesso à água e à energia. De acordo com a deputada, mais de 400 comunidades quilombolas não contam com energia elétrica.

Andréia de Jesus ainda cobrou do governo ações de fomento à produção dos pequenos produtores, em vez do assistencialismo com a distribuição de cestas básicas e sementes.

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Os deputados Betão (PT) e Ricardo Campos (PT) demandaram orçamento, aporte de recursos na política para os povos tradicionais. Para a deputada Leninha (PT), há uma estratégia em curso para o esvaziamento das ações governamentais.

Governo reconhece dificuldade para lidar com direitos coletivos

Representando a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Pedro Ribeiro explicou que a pasta se encontra limitada, desde a última reforma administrativa, a trabalhar na regularização fundiária individual, não podendo atender, portanto, as demandas coletivas das comunidades.

Ele destacou, contudo, ações em benefício dos povos tradicionais, entre as quais programas voltados à agricultura familiar e as escolas rurais.

Superintendente da Subsecretaria de Direitos Humanos, Mariana Bicalho assegurou que o governo busca fortalecer e ampliar as políticas para esses povos. Por outro lado, a gestora admitiu a dificuldade do poder público para identificar e tratar adequadamente os casos de violação de direitos dessas comunidades. Para contornar esse problema, a subsecretaria está desenvolvendo uma metodologia de atendimento de casos coletivos, relatou.

Comissão de Direitos Humanos - debate sobre as políticas públicas para os povos e comunidades tradicionais

Povos tradicionais não conseguem alcançar direitos previstos em lei TV Assembleia
“Esta lei poderia figurar nas nossas prateleiras de ficção legislativa.”
Edmundo Antônio Júnior
Procurador da República
“Precisamos que o Estado reconheça o papel fundamental do nosso povo de tradição, das gerais, que tem uma riqueza gigante para oferecer, mas é negligenciado, principalmente, pelo racismo.”
Andréia de Jesus
Dep. Andréia de Jesus
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