Produtores de cana-de-açúcar relatam apagão de mão de obra no setor
Em audiência sobre importância do segmento para o Estado, participantes abordaram desafios para a produção.
13/11/2024 - 13:25A falta de mão de obra para atuar na cultura de cana-de-açúcar no Estado e no Brasil foi um dos principais desafios apontados por produtores em audiência pública da Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (13/11/24).
Na reunião que tratou da importância do segmento, o diretor-executivo da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), José Guilherme Ambrósio Nogueira, destacou que Minas é o segundo Estado do País em produção da cana-de-açúcar.
Como contou, trata-se de uma cultura versátil produzida no Estado todo, mas sobretudo no Triângulo mineiro, tendo Uberaba como a maior cidade produtora do Brasil.
Apesar disso, ele disse que o setor enfrenta um apagão com a falta de trabalhadores para atuar na cultura. Como contou, tem sido difícil encontrar tratorista e colhedor, além de trabalhadores para outras funções.
De acordo com José Guilherme, os produtores estão fazendo um trabalho para entender o que tem motivado a questão. Conforme disse, o salário não é baixo. Um tratorista, por exemplo, recebe entre R$ 4.300 e R$ 5 mil para jornada de 44 horas semanais. Outro problema, segundo o diretor-executivo, diz respeito à qualificação dessa mão de obra.
Ele ainda enfatizou outro desafio que seria a remuneração da cana para os produtores. Segundo José Guilherme, nem toda usina produtora de etanol repassa ao produtor o Crédito de Descarbonização (CBIO). “Nós não somos contra as usinas, mas quando o bolo está pronto precisamos do nosso pedaço”, defendeu.
Já tramita na Congresso Nacional projeto sobre a participação proporcional à biomassa entregue a essas usinas, conforme nota de eficiência energético-ambiental.
Setor promove sustentabilidade
Presidente da Comissão de Cana da Faemg e do Sindicato dos Produtores Rurais de Campo Florido, Carlos Márcio Guapo, enfatizou a sustentabilidade da cana-de-açúcar. “O etanol reduz em até 85% a emissão de gases do efeito estufa (quando comparado com a gasolina)”, relatou.
Embora a sustentabilidade seja a grande demanda da atualidade, ele disse que o Brasil ainda não sabe vender esse produto para o mundo.
De acordo com Carlos Guapo, o Legislativo e a população precisam apoiar políticas que incentivem práticas sustentáveis da cana-de açúcar em Minas.
Diretor da Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Campo Florido (Canacampo), Thiago Rocha, destacou que os produtores dependem do meio ambiente para produzirem e, por isso, devem contar com práticas sustentáveis e de cuidado com a natureza.
Indústria tem expectativa de mais crescimento
O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais, Mário Ferreira Campos Filho, salientou que o setor é pujante e moderno e tem entregado grande valor ao Estado.
“São quase 200 mil empregos diretos e indiretos em Minas”, afirmou, acrescentando que o setor poderia empregar ainda mais, pois praticamente todas as empresas do ramo têm vagas em aberto.
Para desenvolver o setor, Mário Campos apontou a crescente necessidade de mecanização, relevos planos, pluviometria e infraestrutura adequada. E, como parte considerável da produção é exportada, ele disse que é preciso ter apoio dos modais rodoviário e ferroviário.
Em relação às exportações, o açúcar é o destaque. Como Mário Campos disse, o produto já tem um mercado externo consolidado. De acordo com ele, a safra de 2023/2024 de Minas conta com quase 80 milhões de toneladas de cana. Dessa quantidade, 49% derivam no açúcar. E mais de 80% dessa produção de açúcar tem sido exportada.
Segundo Mário Campos, o setor sucroenergético tem potencial para crescer ainda mais. Apesar disso, manifestou preocupação que, com a reforma tributária, haja redução de benefícios fiscais para o setor e, assim, uma diminuição da competitividade. Nesse sentido, demandou políticas de incentivo ao etanol.
Agricultura é mola propulsora do Estado
O chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Rodrigo Carvalho Fernandes, afirmou que a agricultura é a mola propulsora da economia do Estado.
Ele salientou o Selo Verde, política pública da pasta para atestar a sustentabilidade de segmentos da agricultura, entre eles o da cana-de-açúcar que, como contou, tem 98% de conformidade com práticas sustentáveis. “Isso nos mostra que a agricultura é sustentável”, defendeu.
Deputados enfatizam importância do setor
O presidente da comissão, deputado Raul Belém (Cidadania), destacou a importância do segmento na geração de emprego e renda para o Estado e o País. Além disso, defendeu medidas que possam enfrentar o problema da falta de mão de obra.
Corroborou a fala anterior o deputado Antonio Carlos Arantes (PL), que solicitou a reunião. Na opinião dele, a cultura da cana-de-açúcar precisa ser enaltecida. “Ela tem muitas qualidades. Uma dessas características é que é altamente sustentável. Vem então somar para a melhoria socioambiental do Brasil”, falou.
O deputado Leleco Pimentel (PT) salientou que a importância da cana-de-açúcar ao longo da história do País. “No mundo capitalista, ela deixou de ser alimento apenas para o corpo e passou a ser alimento também para máquinas. Hoje já se fala em caminhões que vão rodar com etanol”, disse.