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População de Caxambu quer obras imediatas no Parque das Águas

Em audiência nesta quinta (7), Codemge diz apostar na concessão como forma de agilizar intervenções no local, que se encontra degradado. 

07/11/2024 - 21:53
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A não vinculação da concessão do Parque das Águas de Caxambu (Sul) às obras de restauração nesse equipamento turístico do Circuito das Águas e a necessidade de divulgação de um cronograma de intervenções foram as principais demandas apresentadas em audiência da Comissão de Administração Pública, na quinta-feira (7/11/24). A reunião contou com a presença de autoridades do município, da região e do Estado.

Requerida pela deputada Beatriz Cerqueira (PT), a audiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) tratou da necessidade premente da restauração do Parque das Águas. Com vários espaços, equipamentos e patrimônio arquitetônico degradados, o parque está em situação precária, o que já demandou outras reuniões da comissão sobre o assunto.

Todos os participantes concordaram quanto à urgência de intervenções no parque, tombado em níveis estadual e municipal, e conhecido por suas águas minerais terapêuticas. Mas o representante da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) apostou na concessão da gestão do local à iniciativa privada como meio de apressar ações. 

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Com área de 210 mil m², o atrativo é composto por gêiser, coreto, esculturas e outros elementos paisagísticos, além de 12 fontes de águas minerais, cada uma com propriedades diferentes.

O promotor Rodrigo Caldeira Brazil, coordenador das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente da Bacia do Rio Grande, resumiu os anseios da população caxambuense. Na sua avaliação, não há controvérsia quanto a necessidade de obras. “O que é preciso discutir agora é como implementar as ações; e não é adequado vincular as obras de restauro a uma eventual concessão do parque”, postulou.

Para ele, não se pode esperar mais um ou dois anos para as intervenções. Por isso, o promotor propôs a elaboração de um cronograma de gestão das obras, independentemente da concessão do parque.

Vídeo

Rodrigo Caldeira acrescentou que a Codemge procurou recentemente o Ministério Público para conversar sobre o assunto, e que houve avanços, como a exclusão no edital da restrição de acesso da população local ao parque. “Expliquei que o acesso gratuito ao local e suas águas faz parte da identidade da população e que não havia motivo para o edital restringir isso”, detalhou.

Restauração não é feita há tempos 

Para  Paulo Guerra, diretor-presidente da Fundação Cultural Vagão 98, desde 2017, quando a Codemge assumiu o parque, não houve investimento no restauro das fontes. Ele lembrou que em 2020 a estatal reinaugurou o balneário e contratou serviços de engenharia para obras, no valor de R$ 550 mil. Em julho de 2024, foi lançado edital para concessão do parque, mas não houve interessados. Agora, a Codemge pretende lançar em breve novo edital, modificado, para atrair empresas.

Ana Paula Souza, da entidade Nova Cambuquira, avaliou que, independentemente da concessão, a prioridade é a restauração. Ela completou que o parque sempre foi um local sagrado para os povos indígenas e isso prosseguiu após a colonização. Portanto, é fundamental a preservação do local, mantendo seu valor histórico, social e ambiental, afirmou. 

Áudio

Maximiano Ribeiro, do Grupo de Protetores do Parque, mostrou vídeo com relatos de pessoas curadas com as águas de Caxambu. “É importante que as pessoas percebam a importância desse patrimônio como um hospital sem paredes e sem plano de saúde”, defendeu.

Contrário à concessão, Ribeiro destacou que o balneário tem a maior concentração hidromineral do planeta, com 12 fontes num pequeno espaço. Ele informou sobre um abaixo-assinado com mais de 15 mil assinaturas contra a concessão do parque. Como opção à concessão, defendeu a gestão público-comunitária tripartite, com Estado, município e comunidade participando da administração, a exemplo do que funciona em Bocaina, distrito de Parati (RJ).

Daniel Tygel, presidente da Câmara Municipal de Caldas (Sul) considera que o modelo da Codemge privilegia grandes empresas em desfavor de pequenos empreendedores locais. “Que a empresa aplique os R$ 8 milhões para o parque e abra o diálogo para uma gestão que considere a identidade do povo de Caxambu”, propôs.

O vereador divulgou que, em Caldas, houve participação popular e o balneário local atende a toda a população da região, pelo SUS.

Maria Antônia Siqueira, da Sociedade Amigos do Parque das Águas, também destacou o valor ambiental, histórico, afetivo, cultural, terapêutico e social do balneário. E julgou impertinente a edição de novo edital para concessão depois do fracasso do anterior. Lembrou ainda que sua entidade e outras tentam, há anos, junto à Prefeitura e à Codemge buscar um modelo diferente para o parque. Mas, segundo ela, esses órgãos nunca se abriram efetivamente ao diálogo.

Concessão prevê investimentos de R$ 14 milhões

Helger Marra Lopes, diretor de Mercados e Ativos da Codemge, divulgou que a proposta de concessão prevê investimentos de R$ 14 milhões, com parte dos recursos da Codemge. “Nosso objetivo é aumentar o nível de serviços para a população; sabemos que há demandas reprimidas, mas com o edital, esperamos melhorar”, disse. 

Afirmando não ter orgulho da situação atual do parque, ele acrescentou que aposta no sucesso do edital como meio para agilizar as obras sonhadas. “Queremos o parque pujante, gerando emprego e renda, atraindo turistas”, disse.

Questionado pela deputada Beatriz Cerqueira quanto a um cronograma de obras, o gestor não soube informar, mas disse que, se o edital obtiver sucesso, as obras começariam em março.

Afirmou ainda que foi reduzido de 12 anos para 3 anos o prazo para conclusão das obras. E que está prevista a participação da população para opinar sobre os serviços oferecidos. “Se os usuários avaliarem mal, a remuneração do parceiro será reduzida”, registrou. 

Lembrou que nos últimos 14 anos foram gastos no parque R$ 30 milhões. Citou algumas intervenções realizadas: reforma do prédio do balneário, telhado do espaço de eventos, piscina, saunas e vestiários; recuperação do piso do geiser, restauração de três fontes, reforma do toboágua e dos jardins, cercamento do parque.

E completou que, atualmente, o foco são as obras de desassoreamento do lago, projetando gastos de R$ 8 milhões. “A obra não é simples; estamos contratando os estudos; e temos que ser cuidadosos, para não contaminar as águas do parque”, reforçou. E acrescentou que a causa do assoreamento está na parte externa do parque e prefeitura se comprometeu a sanar o problema. 

Providências 

Ao final da audiência, Beatriz Cerqueira informou que serão aprovados, na próxima reunião da comissão, requerimentos de providências, entre elas: vistoria do parque pelo Iepha e representante municipal do patrimônio; visitas técnicas da comissão ao parque e à Codemge. 

Acordeão

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Daniel Silva Queiroga, presidente em exercício do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), reconheceu que o sentimento do cidadão é de aflição. Por outro lado, refletiu que o tempo, em relação ao patrimônio, não é o tempo das pessoas: “Trata-se de um complexo de 21 hectares; não é fácil aprovar um projeto completo de restauração”. 

No entanto, destacou que 62 projetos executivos para o parque já foram aprovados no Iepha, incluindo os de 15 edificações. Ele colocou o instituto à disposição para auxiliar na formulação de um cronograma de obras, definindo as prioritárias. E concluiu que é necessário articular ações com o órgão tombador municipal.

Prefeitura

O vereador de Caxambu Fábio Couri colocou-se como representante da Prefeitura de Caxambu na reunião. De acordo com o parlamentar, o prefeito acredita no modelo de parceria público-privada ou outros de concessão, de modo a agilizar os investimentos no parque.

Sobre a intervenção na área próxima do lago, Couri disse que a prefeitura colocará caixas de contenção, preservando a vegetação, de modo a não causar mais assoreamento.

O presidente da Câmara Municipal de Caxambu, vereador João Francisco da Silva, reafirmou que a população quer a melhoria imediata do parque, e não necessariamente é contra a concessão. "Se as duas formas - gestão municipal e estadual - não deram certo, quem sabe a PPP não é um caminho?”, defendeu ele, mas impondo como pilar a preservação das águas e do patrimônio artístico.

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