Pesquisadores defendem política de inovação institucionalizada
Tema foi debatido nesta segunda-feira (16), em Uberlândia, durante encontro regional de fórum promovido pela Assembleia Legislativa.
16/09/2024 - 17:15A necessidade de se institucionalizar a política de apoio à inovação foi apontada, na segunda-feira (16/9/24), como fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do Estado. A defesa da medida foi feita pelos palestrantes do encontro regional do Triângulo mineiro e Alto Paranaíba do Fórum Técnico Minas Gerais pela Ciência – Por um desenvolvimento inclusivo e sustentável, realizado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
O evento, organizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em parceria com entidades da sociedade civil e do poder público, percorre as diversas regiões do Estado para colher propostas para a elaboração do Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Professora do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFU, Marisa Botelho enfatizou que a política de apoio à inovação passou por um desmonte no Brasil nos últimos dez anos.
“Houve desarticulação de programas, corte de recursos e isso afetou bastante a área. A gente pode destacar a queda do número de patentes solicitadas, a queda da taxa de inovação, dos gastos com atividades inovativas e do apoio do governo a essas atividades. E com isso a gente vive uma situação de bastante preocupação, dado que isso é comprometimento do futuro”, salientou a professora, durante entrevista.
Reflexos em Minas
A redução dos investimentos na área também repercutiu no Estado, como apontou. De acordo com Marisa Botelho, dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, de 2022, mostram Minas na quinta posição de gastos correntes em ciência e tecnologia entre os estados brasileiros.
Quando se considera o percentual de gastos em relação às receitas totais, Minas fica na 21ª posição entre os estados brasileiros. Na opinião dela, o resultado está muito aquém da capacidade de Minas.
Para fazer frente a essas situações, ela salientou a relevância de institucionalizar a política de inovação para que as iniciativas na área sejam de estado e não de governo.
Pensar a ciência de modo sistêmico
Para o professor titular da Faculdade de Educação da UFU e reitor recém-eleito da universidade, Carlos Henrique de Carvalho, é preciso pensar em ciência, tecnologia e inovação de forma coletiva, sistêmica e integrada. Ele defendeu que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) se consolide como uma grande indutora e catalisadora de todo esse processo.
Para tal, segundo ele, é necessário criar um fundo para que o recurso não gasto em um ano possa ser utilizado no exercício seguinte, como já acontece no estado de São Paulo. Mas, como afirmou o professor, esse não é o único gargalo.
Carlos Henrique acredita que um dos motivos para esse desestímulo tem relação com o fato de os editais serem de curto prazo, de 24 ou 36 meses.
Outro problema apontado por ele se refere ao fato de as universidades trabalharem de forma isolada. Para ele, apenas o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) prosperou. Em Uberlândia, um parque desses está sendo implantado somente agora.
“A universidade precisa de um parque tecnológico para que a ciência básica e a aplicada gerem inovação. Precisamos de apoio consistente. E isso não significa apenas recursos. Sem planejamento, eles não geram os frutos almejados. Nem todas as dificuldades são falta de dinheiro. Mas falta de uma política e de planejamento”, declarou.
Ele finalizou sua participação no encontro com o exemplo de uma boa prática na área de inovação na UFU. Está sendo implantado, na universidade, um laboratório termoquímico por meio de uma parceria com o governo estadual para condensar lixo sólido, transformando-o em gás e, depois, em energia elétrica a ser revertida para moradias populares.
Plano vai contribuir para institucionalização da política
A deputada Beatriz Cerqueira (PT), que preside a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia e conduziu a mesa de abertura do fórum, enfatizou a importância de se ocupar o Parlamento com agendas fundamentais como a discutida no evento.
Em entrevista, ela destacou que o Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação vai contribuir para que a referida política tenha continuidade.
O reitor da Universidade Federal de Uberlândia, Valder Steffen, defendeu que Minas Gerais tenha uma nova matriz de desenvolvimento, focada na ciência e tecnologia.
Para o superintendente de Inovação Tecnológica da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Pedro Emboava, ciência, tecnologia e inovação são importantes não só no cenário atual, para mitigar efeitos de mudanças climáticas, por exemplo, mas também para o futuro da economia mineira.
Grupos de trabalho
Durante o encontro regional, foram constituídos dois grupos de trabalho para discussão do documento com as propostas formuladas pela comissão organizadora do evento.
Foram apresentadas e priorizadas novas propostas no âmbito regional e estadual como:
- criação do Fundo de Inovação Tecnológica Regional para a solução de problemas regionais;
- uso de novas tecnologias para melhoria da segurança pública e fluidez no trânsito, desenvolvimento de modalidades alternativas de transporte e mitigação de eventos extremos causados por mudanças climáticas;
- política de absorção de pós-graduandos em formação e titulação, assegurando remuneração adequada e direitos trabalhistas, nos projetos que serão desenvolvidos no referido Plano Estadual de Ciência;
- promoção de ações de prevenção, monitoramento e combate contra queimadas e desmatamento ilegais.