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Sessenta anos após Massacre de Ipatinga, luta dos trabalhadores continua

Comissão do Trabalho da ALMG lembrou episódio envolvendo funcionários da Usiminas e destacou necessidade da organização dos trabalhadores.

06/10/2023 - 18:09
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A Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promoveu, na tarde desta sexta-feira (06/10/23), ato em memória do Massacre de Ipatinga na Câmara Municipal desta cidade do Vale do Aço.

Em 1963, o massacre, que teve oficialmente oito mortos e mais de oitenta feridos, foi o ápice de uma situação tensa que persistia entre a diretoria e os funcionários da Usiminas, revoltados com as más condições de trabalho e a humilhação que sofriam ao serem revistados pela Polícia Militar antes de entrar e sair da empresa para sua jornada de trabalho.

Depois de dias de negociação e tensão, 19 policiais, no alto de um caminhão, abriram fogo contra cerca de seis mil operários reunidos na porta da fábrica.

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga e Região (Sindipa), Geraldo Magela Duarte destacou que, por décadas, quem mencionasse o evento era demitido e punido, com famílias tendo dificuldade de conseguir emprego e até pessoas que precisaram sair da cidade.

“Esse acontecimento triste foi silenciado por muitos anos. No 7 de outubro só tínhamos uma missa, provocada pela Pastoral Operária. Não podia falar de Massacre da Usiminas. Hoje temos um projeto de lei nesta casa para que o dia 7 se torne o Dia de Luta Operária em Ipatinga”, lembrou. O sindicalista criticou a privatização da Usiminas em 1991 que, segundo ele, trouxe muitos prejuízos e retirada de direitos dos trabalhadores.

Professor de História, Sávio Castro Pereira da Silva destacou que, logo após o golpe militar, Ipatinga sofreu um planejamento urbanístico cujo objetivo era controlar os movimentos trabalhistas na cidade, sendo que, no próprio local onde o massacre ocorreu, hoje está construído um shopping.

“Os bairros foram reconstruídos de forma a dividir, silenciar e modernizar de forma conservadora a cidade. Antes, os movimentos sindicais pautavam a cidade. Hoje, temos mais motoristas de aplicativos que trabalhadores da metalurgia”, lamentou.

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Mobilização ainda é necessária

Presidente da comissão e um dos autores do requerimento para a realização da reunião, o deputado Betão (PT) ressaltou que o massacre ocorrido em 1963 em Ipatinga faz eco com 2023 na medida em que as péssimas condições de trabalho que eram combatidas naquela época permanecem sendo foco de mobilização

“A luta nunca acaba. Os 60 anos do Massacre de Ipatinga nos lembram que a nossa luta de décadas continua. A Usiminas na década de 1970 promoveu grande crescimento econômico na região e foi privatizada na década de 1990, com consequências desastrosas para os trabalhadores”, pontuou.

O parlamentar frisou que os deputados que representam a classe trabalhadora estão se mobilizando na ALMG para impedir a privatização da Cemig, Copasa e Codemig e criticou o governador do Estado, classificado por ele como “entreguista”.

Da mesma forma, o outro autor do requerimento, deputado Celinho Sintrocel (PCdoB), ressaltou que o governo do Estado não teria compromisso com os trabalhadores, tendo em vista o aumento no número de acidentes e mortalidade no trabalho formal.

“Em 2022, tivemos 713 mil acidentes de trabalho em Minas, com 2.500 mortes de trabalhadores e o aumento da mortalidade no trabalho formal, com 7 a cada 100 mil. Precisamos continuar a enfrentar as privatizações e a melhor forma de homenagearmos a memória dos trabalhadores massacrados é mantermos acesa a chama da indignação e da luta operária”.

Também participaram do evento os deputados Leleco Pimentel, Andréia de Jesus e Beatriz Cerqueira (todos do PT).

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Sindicalistas criticam ameaça de privatizações

Secretário de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Município de Timóteo e Coronel Fabriciano (Metasita), Cleber William de Souza destacou que, em 60 anos, três reivindicações trabalhistas permanecem as mesmas: melhores salários, redução de jornada e melhores condições de trabalho

“O trabalhador terceirizado tem muito menos direitos e informações. Muitos não entendem que estão sofrendo assédio. Sofrem com o adoecimento mental, em todas as categorias o assédio moral combinado com o sexual é muito forte”, relatou. 

Presidente do Sindicato Metabase de Itabira, André Viana Madeira também criticou a reforma trabalhista promovida pelo governo Temer. Segundo ele, o aumento da terceirização “abriu a porteira” para políticas escravagistas

“A Vale paga vale-alimentação de R$ 1.000 ao seus funcionários de carteira assinada e R$ 80 para os terceirizados, ambos estando dentro das minas. Estamos retroagindo drasticamente, com práticas anteriores à Revolução Francesa. O mundo todo discutindo a diminuição de carga horária e nós aqui aumentando”, disse.

Copasa e Cemig são do povo

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais (Sindágua), Eduardo Pereira de Oliveira afirmou que a Copasa e a Cemig são do povo e que é direito do povo escolher sobre o futuro destas empresas, ao contrário do que o governador quer. 

“A Copasa coloca R$ 18 milhões no caixa do Estado por semana. Que ineficiência é essa tão lucrativa? Essa proposta de emenda à Constituição que tira o direito ao plebiscito (para privatização) é um desrespeito a todos nós”, frisou.

Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Jairo Nogueira Filho também criticou a intenção do governador de retirar da Constituição Mineira a necessidade do referendo popular para realizar privatizações.

“Isso é um retrocesso democrático muito grande. Não é difícil encontrar estados onde as privatizações resultaram em piora dos serviços e aumento das tarifas. As privatizações só interessam aos bancos e, infelizmente, muitos políticos se rendem aos interesses deles”, destacou.

Da mesma forma, o coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais, Emerson Andrada Leite, destacou que a Cemig deu quase R$ 4 bilhões de lucro no ano passado. 

“Apagar o que aconteceu aqui foi fundamental para que a Ditadura construísse a sua narrativa. A História não pode ser esquecida, precisa ser sempre recontada. O massacre continua e se repete a cada dia”, concluiu.

Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social - debate sobre terceirização e reforma trabalhista
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