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Limpeza de rodovias, mais equipamentos e chuva artificial podem atenuar queimadas

Sugestões foram apresentadas em audiência sobre onda de incêndios no País; produtor rural seria mais uma vítima do fogo.

11/09/2024 - 19:40
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Ainda sem a perspectiva da volta de chuvas constantes, algumas medidas podem minimizar e prevenir, para os próximos anos, o impacto da onda de queimadas que anualmente toma conta de Minas Gerais e impactam, em especial, o setor sucroenergético, o segundo maior do País.

São medidas que vão da simples melhoria na gestão das faixas de domínio das rodovias, onde muitos focos se iniciam, até intervenções altamente tecnológicas e onerosas como a geração artificial de chuvas, já utilizadas em alguns países europeus e do Oriente Médio.

Todas elas foram apresentadas na quarta-feira (11/9/24) pelos participantes de audiência pública da Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para debater os impactos dos incêndios rurais no agronegócio do Estado.

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O debate atendeu a requerimento do presidente da comissão, deputado Raul Belém (Cidadania). Ele reforçou a necessidade de esclarecer que o setor produtivo não tem culpa pelos incêndios e, na prática, é mais uma vítima do fogo. “Vivemos algo inédito em termos climáticos. Nunca passamos por tamanha estiagem e tantos danos provocados por incêndios, daí a necessidade de reavaliar, permanentemente, a capacidade do Estado fazer frente a eles”, afirmou o parlamentar.

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De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil registrou quase 70 mil focos de queimadas em agosto. A fumaça se espalhou pelo céu do País e o fogo consumiu animais e lavouras. Nesse cenário, Raul Belém defendeu alternativas como ajustes no Plano Safra e uma carência maior para os afetados poderem honram seus compromissos financeiros.

O deputado Antonio Carlos Arantes (PL) salientou a necessidade de o poder público investir na organização de brigadas de incêndio em todos os municípios atingidos. Em sua avaliação, esse investimento não é tão grande e já mostrou que vale muito a pena. 

O parlamentar também negou que os produtores agrícolas tenham contribuído para os incêndios. “No passado era normal colocar fogo em pastagem. Isso acabou, não existe mais. A evolução tecnológica mostrou o contrário. O incêndio não é culpa do produtor, a não ser por acidente. Intencionalmente, não é normal o produtor fazer isso hoje”, argumentou.

“Já são cinco meses sem chuva. O Corpo de Bombeiros não dá conta de tantas ocorrências e, no meio rural, é a solidariedade de vizinhos que tem evitado tragédias maiores”, lembrou Dr. Maurício (Novo).

Cemig também pode contribuir com prevenção

As sugestões apresentadas na reunião foram sintetizadas na apresentação feita pelo presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais, Mário Ferreira Campos Filho.

Além da limpeza mais eficiente das faixas de domínio das rodovias, pois muitas delas cortam áreas com plantações, matas ou algum tipo de vegetação seca, ele alertou a necessidade de uma ação mais eficaz da Cemig na manutenção visando à prevenção de incêndios, com a substituição de estruturas antigas, como postes de madeira.

Ele também defendeu a reestruturação do programa Previncêndio com medidas como a disponibilização exclusiva de aeronaves de combate a incêndio nas regiões mais vulneráveis no período mais crítico, de 15 de julho a 15 de setembro. Esse programa é uma força-tarefa do poder público para dar uma resposta mais rápida e coordenada na fiscalização, prevenção e combate a incêndios nas unidades de conservação do Estado.

Mário Campos também cobrou mais investimentos na infraestrutura e pessoal do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar Ambiental, ao lembrar a infraestrutura de combate a incêndios que as empresas do setor sucroenergético dispõem atualmente. São brigadas com equipamentos, veículos e até aeronaves, que passam por treinamento constante e executam ações de monitoramento e de educação ambiental. 

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Focos só aumentam e nova tecnologia pode ser a salvação

O secretário-adjunto de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, reforçou a gravidade da situação no Estado e lembrou que somente neste ano o Executivo já investiu em torno de R$ 10 milhões no setor de combate a incêndios.

Segundo ele, o panorama das queimadas tem sido monitorado permanentemente com a ajuda dos técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater). Mas a quantidade e localização dos focos de fogo muda a todo momento, o que dificulta as ações.

“Em 2021, ano em que o problema das queimadas também foi preocupante, foram registrados 24.200 pontos de incêndio em todo o ano. Em 2024, somente até o final de agosto, foram 21.000 pontos. É um momento aflitivo com 150 dias sem precipitação e perda de umidade por evaporação também intensa”, afirmou.

Os dados foram analisados na reunião pelo gerente do Departamento Técnico da Emater, Milton Flávio Nunes. Em sua apresentação, ele apontou, por exemplo, uma concentração maior de focos nas regiões Central e Triângulo Mineiro, atingindo sobretudo pastagens (34,1% dos focos), mata nativa (29,3%) e canaviais (27,9%).

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Segundo ele, um levantamento atualizado para balizar as ações do poder público deve ficar pronto até o final da semana que vem. “Mas, infelizmente, nossa expectativa é por um número ainda maior de focos em setembro”, lamentou.

Enquanto a chuva não vem, a solução pode estar na tecnologia, conforme explicou o cientista búlgaro Hristo Krusharski. Auxiliado por um tradutor, ele explicou, em russo, que é possível gerar chuvas artificiais que podem ao menos amenizar os efeitos da estiagem e amenizar a onda de queimadas. Ele trabalha com esse tipo de intervenção (Stroyproject) há 25 anos e há sete vem estudando os efeitos da seca no País, em especial em Minas Gerais, e a aplicabilidade desse tipo de tecnologia por aqui.

Segundo ele, a chuva artificial já foi utilizada com sucesso em países como Grécia, Emirados Árabes Unidos e as ex-repúblicas que antigamente integravam a União Soviética. Atualmente, com os efeitos das mudanças climáticas cada vez mais evidentes, a França também está tentando utilizá-la.

O cientista explicou aos participantes da audiência que, embora bastante cara para territórios da dimensão de Minas Gerais e outras áreas secas do Brasil, é possível obter um aumento de 15% nas precipitações e redução de 50% das queimadas já no primeiro ano de uso. Uma alternativa viável, mas a longo prazo, segundo ele, seria o repasse da tecnologia e o treinamento de pessoal diretamente no Brasil.

Comissão de Agropecuária e Agroindústria - debate sobre os impactos dos incêndios rurais no agronegócio do Estado
Agricultores estimam prejuízos de R$ 180 milhões com incêndios em Minas TV Assembleia
“Temos incêndios criminosos sim, mas o produtor, em sua maioria, não pode ser confundido com criminoso. Afinal, muitos hectares são destruídos pelo fogo, a produção é comprometida, um prejuízo que leva tempo e dinheiro para recuperar, com efeitos que vão continuar no próximo ano, com escassez de produtos e preços mais altos.”
Raul Belém
Deputado estadual
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