Iniciativas selecionadas em prêmio da ALMG impulsionam agroflorestas
Propostas aliam produção de alimentos com preservação do meio ambiente, ação fundamental em contexto de mudanças climáticas.
20/12/2024 - 12:41Vincular a produção agrícola à proteção do meio ambiente. A diretriz, que antigamente parecia contraditória, tem se tornado uma prática hoje em dia. Com as agroflorestas, árvores e culturas dividem a mesma área, garantindo alimentos e contribuindo com a sustentabilidade.
Conforme especialistas, a iniciativa se faz ainda mais relevante no cenário de mudanças climáticas. Atualmente, Minas Gerais e o Brasil têm o desafio de recuperar florestas e outras áreas para responder aos compromissos climáticos estabelecidos e fazer a transição para uma economia de baixo carbono.
Para incentivar práticas que possam prevenir ou mitigar causas e consequências das mudanças climáticas no Estado, a Assembleia Legislativa de Minas Geais (ALMG) entregou o Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação - Crise Climática neste mês.
Dez propostas de soluções inovadoras nesse sentido foram selecionadas, em parceria com o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC). Entre elas, duas atuam na implantação de sistemas agroflorestais.
Cada iniciativa premiada vai receber R$ 60 mil e também poderá participar de um programa de aceleração do BH-TEC para viabilizar que as propostas se ampliem ainda mais no mercado.
Produção agrícola e manutenção da vegetação ao mesmo tempo
De acordo com o engenheiro florestal e consultor da Gerência de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG, Júlio Bedê, as agroflorestas são uma maneira de conseguir manter cobertura florestal, estocar carbono e, ao mesmo tempo, gerar o que hoje são chamados de sistemas de fartura.
Como explicou o engenheiro, as agroflorestas podem produzir diversos alimentos ou produtos vegetais e também podem contar com animais na mesma área. Pode haver, num mesmo espaço, plantio de soja, por exemplo, aliado ao de verduras e frutas, além de madeira. Também pode ser gerada ali alimentação para gado e peixes.
Conheça abaixo a trajetória e o trabalho desenvolvido por dois dos classificados, com atuação em sistemas de agroflorestas.
BH-TEC inicia programa de aceleração
De acordo com a head de sustentabilidade do BH-TEC, Camila Viana, o programa de aceleração voltado às soluções inovadoras terá início em janeiro com um diagnóstico para conhecer melhor as startups, seguido de um plano de ações.
Esse plano, como explicou, vai trazer as ideias para que as empresas executem a prova de conceito, ou seja, o teste de viabilidade das propostas no Estado. Ao mesmo tempo, vai servir de insumo para que o BH-TEC acompanhe o desenvolvimento das atividades.
A execução do programa vai durar seis meses e contar com atividades presenciais e virtuais. Fazem parte das ações três encontros em Belo Horizonte e visitas a cada uma das startups. Ainda segundo Camila Viana, capacitações, mentorias e rodadas de negócios também permeiam o programa.
“A ideia central desse suporte é fomentar o avanço no desenvolvimento dessas soluções para que cheguem mais perto da sociedade e do mercado. Então, a expectativa é que, ao final, haja concretude e essas soluções possam ser entregues de fato”, afirmou.
Conteúdos especiais
Esta matéria especial foi a última publicada nesta semana de uma série de três com a trajetória e o trabalho proposto por classificados do Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação - Crise Climática.
A TV Assembleia também veicula em sua programação, nos próximos dias, dez vídeos com a história de cada uma das propostas classificadas.
Projeto institucional
O Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação - Crise Climática é uma das ações do projeto institucional Crise Climática em Minas: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema, iniciado em março pela ALMG.
Terceiro colocado no prêmio, o Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Inaes), de Belo Horizonte, braço de inovação e pesquisa do Sistema Faemg Senar, apresentou como proposta o projeto Agro+Verde.
De acordo com o presidente do Inaes, Renato Laguardia, a solução visa incentivar a cacauicultura no Norte de Minas por meio de sistemas agroflorestais com assistência técnica continuada. A iniciativa já vem sendo desenvolvida com cerca de 200 produtores rurais no Norte de Minas, compreendendo municípios como Montes Claros, Bocaiúva, Buritizeiros e Janaúba.
Conforme explicou, esses produtores contemplados trabalham com a bananicultura e passam por dificuldades com o baixo preço do produto, além da alta demanda dessa cultura por água em uma região que não tem muitos recursos hídricos.
“Em parceria com a empresa Cargill, incentivamos esses produtores a plantarem cacau. Hoje há uma demanda muito grande pela amêndoa, que é a fruta do cacau. Nós vimos a iniciativa como uma solução muito boa, porque o cacau pode ser exportado, tem um preço mais alto e, assim, esse produtor tem um ganho maior. Então a gente faz esse trabalho de inclusão social também”, detalhou.
Além disso, como ressaltou, a iniciativa também traz ganhos ambientais, uma vez que o cacau é uma cultura que demanda menos água, sendo portanto mais adequada para a região.
Renato Laguardia relatou que o cacaueiro começa a produzir em três anos. “Então, nesse período, as bananeiras continuam produzindo e o produtor continua tendo esse ganho. O projeto começa com uma lavoura integrada e, depois, retira as bananas e fica só o cacau”, contou.
A Associação Florestalense de Agroecologia (Aflora), nona colocada no prêmio, atua em Florestal (Central) na implementação de sistemas agroflorestais com assistência técnica continuada a partir de uma espécie de fundo rotativo.
Segundo o cientista ambiental e integrante da Aflora, Guilherme Mamede, a associação nasceu de uma rede de produtores locais em busca de estratégias para comercializar a produção de alimentos e fomentar a agroecologia no território e o movimento foi crescendo.
Ele ainda enfatizou que a Aflora acredita na importância de vincular a produção de alimentos à floresta para enfrentar a crise climática.
Como contou, atualmente, o agricultor familiar que solicita o apoio da Aflora tem um empréstimo vinculado ao processo de assistência técnica continuada para a implantação desses sistemas agroflorestais.
“Parte da produção desse módulo retorna para a Aflora como meio de pagamento do empréstimo, abrindo possibilidade para que outras famílias possam também acessar esse Fundo Rotativo Solidário Agroflorestal. Sempre com assistência técnica”, destacou.
Além disso, como explicou, a associação também aposta na troca de conhecimento entre os agricultores, valorizando o saber de cada um, de cada família.