Inclusão de alunos com autismo na escola ainda é desafio
Participantes de debate público defendem ações para beneficiar pessoas com TEA na educação e no mercado de trabalho.
31/03/2025 - 19:07Apesar dos avanços recentes, a inclusão de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) na escola e no mercado de trabalho ainda precisa superar inúmeros obstáculos. A avaliação foi feita pelos participantes do Debate Público Autismo, Saúde e Educação – Desafios e perspectivas, realizado pela Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (31/3/25).
A presidente da comissão, deputada Maria Clara Marra (PSDB), citou números que dão a dimensão desse problema. Segundo ela, o índice de analfabetismo das pessoas com deficiência é de 19,5%, enquanto a taxa do restante da população é de 4%. Ainda de acordo com a parlamentar, apenas 25,6% das pessoas com deficiência concluem o ensino médio e 7% completam o ensino superior.
Para a advogada Carla Patrícia Rodrigues, que recebeu um diagnóstico tardio de autismo, as escolas não estão preparadas para oferecer educação inclusiva. Segundo ela, faltam salas de recursos e professores de apoio para garantir a inclusão de alunos com TEA.
O secretário municipal de Educação de Três Marias (Região Central do Estado), José Augusto de Mesquita, admitiu que a educação especial é um desafio muito grande para os gestores públicos. Para garantir o atendimento das crianças com autismo, a prefeitura de Três Marias conta com uma equipe multidisciplinar, com profissionais de medicina, psicologia, nutrição, fonoaudiologia e terapia ocupacional.
Outro desafio é garantir emprego para as pessoas com autismo que terminam a faculdade, conforme lembrou o professor William Zenon Nogueira Conrado, da Faculdade Anhanguera. “Depois que essas pessoas se formam no ensino superior, como vão para o mercado de trabalho?”, questionou.
Este é o caso do filho da advogada Cynthia de Lima Prata Abi-Habib. Ela contou que seu filho, formado em medicina, foi aprovado na residência do Hospital da Polícia Militar, mas teria sido rejeitado pelo programa. Ele teria sido afastado dos plantões e os preceptores teriam estimulado a sua desistência, alegando que o autismo seria incompatível com o exercício da clínica médica.
Exemplos de inclusão no mercado de trabalho
Apesar das dificuldades enfrentadas na escola, há bons exemplos de inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho.
Em Juiz de Fora (Zona da Mata), o Instituto Médico de Psicopedagogia (Imepp) desenvolve o projeto União Solidária, que promove ações de capacitação de pessoas com deficiência e estimula a sua contratação por empresas parceiras. Segundo o presidente da entidade, Luiz Fernando Freesz, já estão sob análise dos Supermercados BH 30 currículos de pessoas encaminhadas pelo projeto.
Em Belo Horizonte, a Organização Verdemar desenvolve o projeto Inclusão como Valor, que viabiliza a contratação de pessoas com deficiência, com transtornos mentais e da terceira idade. Conforme explicou o superintendente de recursos humanos da empresa, Leandro Souza de Pinho, os funcionários são treinados para acolher os colegas com deficiência, que por sua vez também são capacitados por uma equipe multidisciplinar.
O projeto ainda contempla a realização de uma semana da inclusão. A iniciativa, desenvolvida em parceria com o Ministério do Trabalho e o Sistema S, já possibilitou a inclusão de 230 pessoas na organização. Desse total, 12 pessoas são autistas e 87 têm transtornos mentais.
Conselho defende criação de fundo
O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Roberto Carlos Pinto, defendeu a criação de um fundo estadual para financiar ações e políticas públicas voltadas para a inclusão social. O Projeto de Lei (PL) 352/19, que trata desse fundo, aguarda parecer de 1º turno da Comissão da Pessoa com Deficiência. A proposição é de autoria do deputado Gustavo Valadares (PMN).
A proposta de criação do fundo recebeu o apoio da subsecretária de Estado de Direitos Humanos, Jânia Costa Pereira da Silveira. Ela destacou a importância das parcerias entre o poder público e a iniciativa privada para dar conta das demandas das pessoas com deficiência.
Por sua vez, a analista da Secretaria de Estado de Educação, Márcia Josiane Resende Lima, explicou que a pasta investe na formação continuada de professores e em ações de adequação das escolas para receber estudantes com deficiência.
Segundo ela, a educação inclusiva se dá principalmente por meio das salas de recursos, que contam com jogos e pranchas de comunicação assistida para os alunos autistas. Para promover a capacitação dos professores, existem 47 centros de referência de educação inclusiva.
“Sabemos que temos muito o que avançar. Mas trabalhamos de forma séria e comprometida para que novos estudantes sejam incluídos de fato na sala de aula”, finalizou.


Semana de Conscientização
Em Minas Gerais, a "Semana Estadual de Conscientização sobre os Transtornos do Espectro do Autismo" é realizada anualmente na semana em que recai o dia 2 de abril. Ela foi instituída pela Lei 22.419, de 2016, aprovada pela ALMG.