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Impactos da Stock Car não se restringem aos dias de prova, segundo UFMG

Após o final da primeira edição da corrida em Belo Horizonte, reitora reforça prejuízos às atividades de ensino, pesquisa e extensão da universidade.

19/08/2024 - 16:44
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A Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia foi pela terceira vez à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para tratar da corrida da Stock Car no entorno do Mineirão. O intuito da visita desta segunda-feira (19/8/24) foi averiguar os impactos do evento, realizado de 15 a 18 de agosto, nas atividades desenvolvidas pela universidade no campus Pampulha, a algumas dezenas de metros do circuito montado.

Representaram a comissão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) as deputadas Beatriz Cerqueira (PT), sua presidenta, e Bella Gonçalves (Psol), que sempre se posicionaram contra o empreendimento no local por prejuízos que vão da poluição sonora e do bloqueio de vias à interrupção de pesquisas científicas.

O contrato firmado entre a Prefeitura de Belo Horizonte e os organizadores prevê a realização de provas por cinco anos. Por sua proximidade, algumas das estruturas mais afetadas são o Biotério Central, que abriga roedores padronizados para pesquisas, o Hospital Veterinário, a Faculdade de Odontologia, o Centro Esportivo Universitário (CEU) e o Centro de Treinamento Esportivo (CTE).

Beatriz Cerqueira se disse espantada com a ausência de diálogo com a UFMG durante todo o processo de organização da prova e apontou a ilegalidade do evento. Por sua complexidade, precisaria de licenciamento prévio, de acordo com a própria legislação municipal, salientou.

A deputada também frisou que os efeitos na universidade ainda serão sentidos e estudados nos próximos meses, não podendo ser totalmente medidos de uma hora para outra. Pesquisas importantes podem ter sido prejudicadas, inclusive o monitoramento de possíveis novas doenças e epidemias.

“A confluência de interesses muito poderosos permitiu a realização da Stock Car”, destacou Bella Gonçalves. Ela cobrou o ressarcimento à UFMG dos valores gastos com medidas para a mitigação dos efeitos da corrida.

Reitora explica impactos

Para Sandra Regina Goulart, reitora da UFMG, os quatro dias do evento comprovaram a sua inadequação, alertada com antecedência. Os efeitos no dia a dia da universidade começaram há seis meses, com as obras para montagem da pista e alterações no trânsito, e ainda serão sentidos no futuro. “O impacto foi enorme, imensurável. O desrespeito foi chocante”, afirmou.

Ainda de acordo com a reitora, a universidade não recebeu nenhum plano de mitigação das consequências, trabalho que coube integralmente à UFMG, ao custo de aproximadamente R$ 1 milhão.

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Os atendimentos no Hospital Veterinário foram reduzidos cerca de 3 semanas antes da corrida, até que ele foi completamente fechado na quarta (14) à noite. Foram transferidos 26 animais para uma fazenda da UFMG e outras universidades. Nem todos aqueles abrigados puderam ser transferidos, no entanto, como cabras em processo de gestação que ficaram muito agitadas com o barulho.

O hospital realiza aproximadamente cem atendimentos por dia de animais de pequeno porte e 15 atendimentos mensais voltados àqueles de grande porte. Até a manhã desta segunda (19), seu acesso principal ainda não havia sido liberado. Um cão veio a óbito durante a visita das parlamentares por parada cardiorrespiratória. Sua tutora se queixou da dificuldade para chegar ao Hospital Veterinário, fator que pode ter sido determinante para a morte do animal.

A universidade também investiu na redução de ruídos no biotério e em laboratórios. Não foi possível evitar, contudo, a morte de peixes usados em pesquisas de todo o País e a possível inutilização de ratos para o mesmo fim, devido ao estresse a que foram submetidos.

O CEU e o CTE também foram fechados e os atendimentos gratuitos na clínica odontológica, suspensos, já que era impossível circular pelas vias de acesso.

Além disso, milhares de amostras submetidas ao laboratório de controle de qualidade do leite, vinculado ao Ministério da Agricultura, referência no Estado, ficaram prejudicadas. Equipamentos muito sensíveis exigiram recalibrações constantes devido às vibrações das obras e do ronco dos motores dos carros.

Monitoramento identificou ruídos superiores a 100 decibéis

Durante a corrida da Stock Car, quatro equipes da UFMG fizeram o monitoramento acústico em pontos estratégicos. Resultados preliminares indicam médias de 70 a 80 decibéis dentro dos prédios e de 80 a 90 decibéis na área externa ao lado da pista. Em frente ao CEU, foram registrados até 120 decibéis.

Como lembrou a reitora Sandra Goulart, o limite em ambientes hospitalares, incluindo os veterinários, é de 55 decibéis. Em áreas residenciais, o limite é de 70 decibéis.

Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia - visita à UFMG
Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia - visita à UFMG

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