Gastronomia social tem impacto transformador
Inclusão, empoderamento, sustentabilidade, segurança alimentar e fortalecimento da identidade cultural são resultados da gastronomia social citados em audiência pública.
05/12/2024 - 19:51Mais que um instrumento para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade, a gastronomia social é uma ferramenta de transformação de pessoas, comunidades e ambientes. Experiências que comprovam essa tese foram relatadas, na quinta-feira (5/12/24), por instituições que participaram de audiência conjunta das Comissões Extraordinária de Turismo e Gastronomia e do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Representantes de duas instituições apontadas como fonte de inspiração para todo o País abriram a reunião. Selene Penaforte destacou o trabalho de formação e pesquisas populares na Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, de Fortaleza (CE), voltada para o resgate e o fortalecimento de culturas e saberes tradicionais. “Gastronomia social e cultura alimentar são nossos pilares”, destacou.
Por lá, as diretrizes incluem o combate ao desperdício, o cultivo de horta agroecológica e o uso das chamadas pancs, as plantas alimentícias não convencionais. De acordo com Selene, o trabalho com alunos, famílias e professores tem resultados surpreendentes, inclusive na criação de produtos. “Essa não é apenas uma política emergencial, de combate à fome, mas uma política estruturante”, apontou.
A outra instituição, a Gastromotiva, do Rio de Janeiro (RJ), se dedica há anos ao sonho da gastronomia social como um negócio sustentável que transforma a sociedade. “Ela tem impacto no ecossistema pela via do alimento”, afirmou o chef David Hertz, co-fundador da entidade. Por trás do trabalho, estão pilares como equidade, inclusão, justiça ambiental e direitos humanos.
Hoje, a Gastromotiva tem 54 cursos, muitos deles voltados ao combate do desperdício. Seu restaurante oferece comida de qualidade a preço justo, a partir de doações. “Os restaurantes populares deveriam investir em educação”, opinou David. Para ele, a gastronomia social precisa ser sistematizada pelo Poder Público.
Instituições buscam difundir a prática em Minas Gerais
Experiências mineiras também foram apresentadas, como o Circuito Gastronômico de Favelas. A idealizadora do projeto, Danusa Carvalho, destacou a importância da capacitação de cozinheiros periféricos. “São os mesmos que estão nas nossas cozinhas, que trazem uma bagagem da vida e dos antepassados”, pontuou. Além da capacitação, o projeto foca a geração de renda. Por isso sempre promove uma grande feira ao final dos treinamentos.
O Mercado de Origem e seu trabalho de aproximar os agricultores familiares e produtores do público comprador foi representado pelo diretor Bernard Martins. “Não existe mineiridade sem comida”, destacou.
Da mesma forma, a experiência do Instituto ITI, em Itabira (Central), prova que a gastronomia é também um caminho de diversificação da economia. “Itabira vive o fantasma do fim da mineração”, salientou o presidente Rodrigo Mendonça.
Além de cursos rápidos do tipo “faça e venda”, o ITI oferece treinamento em gestão de negócios e mantém turmas de gastronomia social específicas para adolescentes. Durante a pandemia, várias dessas instituições migraram para a distribuição de alimentos e para cursos on-line, como forma de manter o atendimento.
Instituições do chamado “Sistema S” apresentaram ações que se enquadram na gastronomia social. No caso do Senac, a busca por parcerias e o treinamento para a geração de renda são focos do trabalho. “Também buscamos adequar a educação ao sonho das pessoas”, complementou Edson Puiati, coordenador da Frente da Gastronomia Mineira e diretor de Hospitalidade e Gastronomia do Senac em Minas.
Puiati, assim como outros participantes, citou que sete dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pelas Nações Unidas têm relação com a gastronomia social. “Essa prática fortalece a identidade cultural e gera impactos positivos nas comunidades, como as quilombolas”, enfatizou.
Já Luciana Vacari, gerente de Ação Social do Sesc Mesa Brasil em Minas Gerais, destacou que o programa vai além do combate à forma e da busca pela segurança alimentar através da distribuição de alimentos. “Ele cria pontes para evitar o desperdício por meio de parcerias, e faz a formação e o empoderamento de pessoas em situação de vulnerabilidade, com fortalecimento também dos territórios”, aponta.
O sistema Federação da Agricultura e Pecuária e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faemg/Senar) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater) explicaram ações desenvolvidas para a capacitação de produtores rurais, com impactos no volume e na qualidade da produção, gestão de negócios e geração de renda.
Governo destaca ações que alinham turismo e gastronomia
As ações do governo para dar visibilidade à gastronomia mineira foram destacadas pelo superintendente de Políticas do Turismo e Gastronomia da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), Petterson Tonini. Segundo ele, as possibilidades nessa área são infinitas e também fortalecem as identidades locais e regionais. O setor alimentício, segundo ele, é o que mais gera emprego e renda na cadeia do turismo.
Tonini também citou o plano diretor recém-lançado pelo Poder Executivo, chamado Turismo Verde. Suas diretrizes, de acordo com o superintendente, se alinham à gastronomia social e incluem sustentabilidade e conservação, turismo comunitário e de inclusivo, educação e sensibilização e integração regional.
O presidente da Comissão de Turismo e Gastronomia e autor do requerimento de audiência, deputado Mauro Tramonte (Republicanos), afirmou que todas as experiências relatadas na audiência são subsídio para as ações da comissão. “Precisamos enxergar nossa gastronomia como fonte de transformação social para a promoção das pessoas e dos ambientes em que vivemos”, frisou.
Ele citou ainda o reconhecimento dos modos de fazer o queijo mineiro como patrimônio cultural imaterial da Humanidade, anunciado nesta quarta (5) pela Unesco. “Tive a certeza de que o papel da nossa gastronomia é de transformação em todos os aspectos”, pontuou.