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Falta empenho do poder público para resolver impasse na Ocupação Fábio Alves

Constatação surgiu na audiência da Comissão de Direitos Humanos, na qual ficou clara disposição do dono do terreno para negociar.

12/04/2023 - 19:29
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Apesar de o proprietário do terreno onde fica a Ocupação Fábio Alves ter feito propostas no sentido de manter as cerca de 650 famílias no local, recebendo a compensação, falta a participação efetiva do poder público em todas as suas esferas. Essa é a constatação que se depreende da audiência pública que a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou sobre o tema, nesta quarta-feira (12/4/23). 

Após ouvir os convidados, a proponente da reunião, deputada Bella Gonçalves (Psol), avaliou que será necessário reunir representantes dos governos federal, estadual e de Belo Horizonte para definir qual a participação de cada um na busca de uma solução justa e pacífica para o caso. Nesse sentido, a parlamentar propôs que se verifique a disponibilidade de terras dos governos federal e estadual passíveis de troca com o dono do imóvel.

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Por outro lado, sugeriu que a empresa Morizono, dona do terreno, não aja com “olho grande” e se abra para um diálogo e negociação mais amplos.

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Também disse acreditar que a Ocupação Fábio Alves, situada na região do Barreiro, na Capital, não será despejada, baseando-se no texto da medida do Supremo Tribunal Federal que suspendeu os despejos durante a pandemia e os retomou depois. Segundo ela, o dispositivo prevê que, antes de fazer a reintegração de posse, tem-se que esgotar as possibilidades de negociação.

Ocupação consolidada

Ariane Lopes, diretora de Promoção e Educação em Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, declarou que a Fábio Alves é reconhecida como uma ocupação consolidada, abrigando aproximadamente 4 mil pessoas. Ela fez um histórico do aglomerado, que começou em 2018, quando a Justiça decidiu em favor da reintegração de posse, mas os moradores conseguiram a suspensão do mandado, por meio da Defensoria Pública. 

Em outubro de 2020, a Justiça mineira suspendeu o processo de reintegração de posse, atendendo determinação do STF, que considerou que o despejo das famílias em plena pandemia da Covid-19 agravaria sua vulnerabilidade. Em agosto de 2022, a decisão foi prorrogada até outubro e, após esse mês, permitiram-se novamente os despejos, mesmo sob críticas do movimento social. 

Coordenadora da Mesa de Diálogo e Negociação de Conflitos Fundiários de Minas Gerais, Ariane informou que, depois da negociação nesta instância, o conflito passou à esfera do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania, do Tribunal de Justiça do Estado. Ela reforçou que a Mesa de Diálogo tentou obter um acordo entre todos os envolvidos, mas não obteve sucesso.

Iniciativas dos entes municipal e federal

Aderbal de Freitas, diretor de Habitação da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), destacou que o município não tem a solução completa para o problema, mas está disposto a participar dela junto com os outros atores.

Também disse que a prefeitura reconhece a legitimidade da ocupação como meio de a população obter moradia digna. Ele aventou ainda a possibilidade de o proprietário criar um projeto de financiamento subsidiado para as famílias.

Jorge Martins, assessor da Secretária de Diálogos e Articulação de Políticas da Secretaria Geral da Presidência da República, representou o governo federal.

Ele adiantou que sua área, já municiada com informações sobre a ocupação, entra agora na articulação para buscar soluções. Na opinião dele, os relatos mostram que a solução mais viável seria a regularização fundiária da área.

Violação de direitos básicos é marcante na ocupação

A promotora Cláudia Xavier, da Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos, lembrou que o Ministério Público fez visita recente à Fábio Alves e confirmou a ausência de direitos básicos no território.

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Conforme Cláudia, há aproximadamente 1,2 mil pessoas no local, sendo 300 crianças e 100 idosos, inclusive acamados. Ela acrescentou que há um grupo no MP voltado para a busca de solução negociada de conflitos. Na sua avaliação, com a disponibilidade do proprietário, fica faltando uma posição mais veemente do poder público em todas as suas esferas.

Moradores

Representantes dos moradores da Fábio Alves se pronunciaram. Lacerda Amorim lembrou que a área ocupada há cerca de quatro anos estava sem utilização e que, por isso, as famílias entraram. Divulgou que, em 27/4, haverá audiência de conciliação no Cejusc e espera avanços.

Simeia Rodrigues relatou que todos lutaram muito pra construir suas casas na Fábio Alves. “Hoje, na nossa ocupação é uma paz e você anda tranquilo”, garantiu. Assim como o outro morador, ela defendeu que os governos estadual e municipal se unam para transferir outro terreno ao proprietário.

Função social

Frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra, informou que já fez 20 vídeos da ocupação e que, nos primeiros, havia imagens de lixo e esgoto, demonstrando que a propriedade não cumpria sua função social. Nesse sentido, defendeu que a empresa não receba indenização alguma.

O deputado Leleco Pimentel (PT) colocou seu mandato à disposição da causa. Ele se animou com a entrada do governo federal na negociação e considerou que se a PBH também se empenhar mais, o Governo do Estado será obrigado a também atuar.

“O terreno estava abandonado e a empresa não pode agora querer ganhar milhões em cima dessa causa.”
Bella Gonçalves
Dep. Bella Gonçalves
“Ficamos impressionados com o vínculo das pessoas com suas casas, mas percebemos que a carência de direitos no território é de toda ordem: falta acesso a água, luz, trabalho e até alimentos.”
Cláudia Xavier
Integrante da Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos

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