Evasão é realidade em escola estadual de Contagem
Instituição é mais uma que implementou a Modalidade de Tempo Integral e perdeu alunos que precisam trabalhar para ajudar os pais.
28/11/2022 - 12:46Uma evasão de cerca de 20% já pode ser constatada no ensino médio da Escola Estadual Dr. José Roberto de Aguiar, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A informação foi divulgada durante visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) à instituição nesta segunda-feira (28/11/22).
A escola tem 359 alunos ao todo, com 167 estudantes do ensino médio. Desses, segundo a direção da escola, 130 estão frequentando com regularidade as aulas. Segundo professores e alunos da instituição, o principal motivo está relacionado à adoção da Modalidade de Tempo Integral (MIT), que atende às diretrizes federais do Novo Ensino Médio.
Por causa disso, muitos estudantes estão deixando a escola para poderem trabalhar e, assim, ajudar as suas famílias. Outros têm deixado a escola para poderem se dedicar a algum curso profissionalizante que lhes garanta, futuramente, uma profissão.
Alguns alunos que permaneceram na instituição pensam em deixá-la no próximo ano. É o caso do aluno Saymon Henrique Silva Marques, de 16 anos, que cursa o 2º período. “Para ficar aqui de 7h20 às 15h20, tem que ter matérias que agreguem pra gente, por exemplo, para fazermos o Enem - o Exame Nacional do Ensino Médio”, falou.
Em sua opinião, o que poderia ser bom para os alunos se tornou algo ruim. “Estamos ocupando o tempo a toa aqui”, afirmou. Ele contou que, assim que sai da escola, entra no trabalho, onde fica até 21 horas, não dispondo de muito tempo livre. Por isso, as horas na escola deveriam ser bem aproveitadas.
Keven Eduardo, de 17 anos, é colega de Saymon. No próximo ano, também deve sair da escola. Ele relatou que deve ir morar com o pai na região do Barreiro e deve se transferir para uma escola próxima de lá que oferte o ensino médio regular. Isso, como disse, vai possibilitar que consiga conciliar o estudo com o trabalho.
A sala de Saymon e Keven é uma das turmas que mais perdeu alunos. Contava com 35 alunos e agora são apenas 20. A evasão foi de quase 43%
Professores estão preocupados com situação
O professor de Geografia Lauro Lima Correa lamentou que a implantação do ensino médio integral tenha sido feita de modo atropelado e sem consulta à comunidade escolar. O resultado, conforme conta, tem sido um ensino inadequado.
A professora de Língua Portuguesa, Mailza Gomes, corroborou a fala de Lauro Lima. “Os alunos têm saído daqui não porque não gostam da escola ou porque o ensino é ruim. Eles saem porque já estão focados no trabalho e o horário do integral não permite conciliar”, disse.
Ela contou que há escolas com ensino médio regular próximas da instituição e que, por isso, estão sendo mais atrativas para os estudantes.
Os professores apontaram como algumas possíveis soluções para minimizar o problema a oferta do ensino integral de modo concomitante com o regular, a oferta de cursos profissionalizantes como parte do ensino integral e/ou de uma espécie de bolsa para que os alunos se mantenham no integral.
Atividade integra série de visitas a escolas
A visita desta segunda (28) foi solicitada pela presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT). Como destacou, ela tem feito vários desse encontros porque tem recebido questionamentos sobre a implantação do ensino médio integral nas escolas estaduais.
A última visita desse tipo foi à Escola Estadual Vinícius de Moraes, em Betim, também na RMBH, onde o problema da evasão escolar também foi destacado.
"A forma como o ensino médio integral tem sido disponibilizado precisa ser reavaliada. Hoje ele tem sido promotor da evasão escolar”, disse, acrescentando que dessa forma acaba por aumentar as desigualdades em relação ao ensino ofertado em escolas particulares.
A parlamentar também salientou que as visitas mostram que o processo foi implementado sem escuta da comunidade escolar.