Estudantes de Ibirité defendem manutenção de aulas presenciais
Comissão de Educação ouviu demandas comunitárias durante visita técnica ao Cesec.
14/11/2024 - 23:04“O afeto faz parte da educação”, salientou a professora de Geografia, Lizandra Braga. Essa afirmação foi recorrente entre as pessoas que participaram da visita técnica realizada pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia no Centro Estadual de Educação Continuada (Cesec) de Ibirité (RMBH) nesta quinta-feira (14/11/24).
No local, a presidenta do colegiado, deputada Beatriz Cerqueira (PT) propôs uma escuta para entender qual é a opinião da comunidade sobre a Resolução SEE 4.955. O documento publicado pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) dispõe sobre o funcionamento dos Cesecs. Entre as mudanças, está a definição de que 80% das aulas sejam por educação a distância (EaD) a partir de 2025.
Segundo a parlamentar, a demanda pela escuta foi identificada durante audiência realizada no primeiro semestre na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Diante da manifestação de discordância em relação às alterações da dinâmica curricular, Beatriz apresentou dois encaminhamentos: envio de perguntas à SEE e visitas aos Cesecs para escutar a comunidade.
Ela anunciou que ainda, neste mês, pretende ir aos centros que funcionam em Betim e Contagem, ambos na RMBH. “Embora eu seja professora e conheça a realidade, quero entender melhor as especificidades de cada Cesec”, justificou.
A coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE) Subsede Ibirité, Mônica dos Santos, observou que a maioria dos estudantes é de baixa renda e não possui equipamento adequado. A internet também oscila muito em alguns bairros.
Como se trata de uma educação voltada para jovens e adultos que estão concluindo etapas da Educação Básica, lembrou, muitos não sabem lidar com tecnologia.
Além disso, há casos de pessoas que integram o programa de reabilitação profissional do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e precisam comprovar frequência mínima nas disciplinas. Com a maior flexibilidade do formato implementado pelo Cesec, tais estudantes conseguem cumprir esse requisito.
Outro aspecto é a falta de orientação de como executar essa proposta de EaD. “Não adianta ter laboratório equipado, se não tem instrutor”, disse Mônica dos Santos. A falta de diálogo com a equipe responsável pela gestão é o principal problema. “O que fazer para barrar esse desgoverno?”, questionou.
“Temos uma comunidade com características muito específicas e precisamos atender a essas demandas”, observou a professora Lizandra. Segundo ela, nem sempre estudantes contam com um ambiente seguro ou confortável para estudar em casa. Há casos, inclusive, de violência doméstica.
Conforme a docente, há pessoas que chegam ao Cesec precisando de uma nova alfabetização para retornar a uma rotina estudantil e recebem atendimento. “Esse é um espaço de acessibilidade pra quem ficou distante dos estudos por muito tempo. Essas pessoas não abandonaram o estudo à toa”, explicou.
“Tenho sonhos, quero terminar meus estudos”, salientou Luciana
Para estudantes como Benedita Matilde, o Cesec é um importante espaço de socialização. “Cheguei há pouco tempo e sinto uma emoção muito grande. Aqui, a gente sorri, conversa, faz refeição”, descreveu. Na opinião, o ensino deve continuar sendo presencial.
“Já tenho quase 50 anos e a gente não teve acesso direto à informática. Eu mal sei ligar um computador. Tenho limitações, mas aqui os professores me ajudam”, explicou o estudante Messias José Rodrigues da Silva.
Luciana Costa Coelho morava com a tia e parou de frequentar a escola para trabalhar. Hoje, ela tem 37 anos e é mãe de duas crianças. Começou a frequentar o Cesec em julho deste ano para terminar o Ensino Médio.
Sem dinheiro para comprar um computador, contou que será prejudicada se tiver que estudar online. “Eu tô aprendendo muita coisa. Tenho sonhos, quero terminar meus estudos. Aqui, estou recebendo ajuda pra isso”, expôs.
Aldamir Geraldo Cunha tem 51 anos e pensou ter concluído o Ensino Médio há 20 anos. Quando precisou apresentar um certificado escolar, descobriu que havia sido enganado. “Eu me senti como um analfabeto, sem perspectiva”, desabafou.
Ao passar a frequentar as aulas no Cesec, viu-se incluído em um ambiente amistoso. “Os professores são muito bons e me acolheram com humanidade, com um carinho especial”, reconheceu. Mas, para ele, a experiência de ensino remoto durante a pandemia não funcionou.
Comissão agendou audiência para dezembro
Para a diretora Ronilda da Silva Pinto, a estrutura física da escola é boa e o trabalho da equipe está sendo bem feito. “Estamos no caminho, só precisamos melhorar o diálogo com o governo”, reforçou.
“Por que mudar o que está funcionando? Eu não sei explicar”, questionou a deputada Beatriz. Ela convidou o público para participar da audiência que vai ser realizada no dia 6 de dezembro na ALMG. O encontro deve contar com a presença de representantes do governo para responder questionamentos. “O Estado tem obrigação de escutar quem está sofrendo com essa mudança”, argumentou.