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Ensino em tempo integral preocupa alunos e professores de escola em BH

Comunidade escolar foi surpreendida com decisão de criação de cursos técnicos em instituição que não conta com estrutura adequada.

14/09/2023 - 19:56
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A possibilidade de implantação do ensino médio em tempo integral preocupa alunos e professores da Escola Estadual Augusto de Lima, em Belo Horizonte. Em visita à instituição realizada nesta quinta-feira (14/9/23), deputadas da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ouviram críticas da comunidade escolar à proposta do governo para o próximo ano letivo.

Fundada em 1946, a Escola Augusto de Lima tem cerca de 600 alunos, distribuídos em classes do ensino médio e dos últimos anos do ensino fundamental. Na semana passada, a Secretaria de Estado de Educação apresentou o plano de atendimento da instituição para o ano letivo de 2024, que prevê a oferta de ensino médio em tempo integral com formação técnica em química, informática e logística.

O problema é que as instalações da escola não comportariam essa mudança curricular, na avaliação de estudantes e professores. A instituição tem apenas dois banheiros para alunos, uma quadra pequena, biblioteca e laboratórios de química e de informática. 

O professor de química Fernando Henriques contou que o laboratório, reformado no ano passado, atende às necessidades do ensino fundamental, com a realização de experimentos simples, utilizando produtos como água, açúcar e óleo. 

Para o funcionamento de um curso técnico, seria necessário adquirir reagentes, substituir a pia de metal e adquirir vidrarias e equipamentos como a capela, para exaustão de gases dos experimentos. “A escola não tem infraestrutura para montar um curso técnico neste momento”, afirmou.

Incompatibilidade

O temor dos estudantes é quanto à impossibilidade de compatibilizar o ensino médio em tempo integral com outras atividades fora das aulas. Muitos deles trabalham ou atuam como atletas nos clubes desportivos da região.

“Muitos alunos precisam ter uma renda extra para ajudar seus pais. Tem colega que já trabalha e teria que deixar a escola”, afirmou Iohana Gonçalves, que está no 3º ano do ensino fundamental.

Ela reclamou que a decisão de implantar o ensino médio em tempo integral não foi discutida com a comunidade escolar. “Para nós, isso é desesperador”, disse.

A socióloga Mariana Gonçalves Moreira, mãe de um aluno que vai iniciar o ensino médio no próximo ano, também está preocupada com as aulas em tempo integral. “As famílias não foram consultadas sobre essa mudança e a escola não teve tempo hábil para se preparar para isso”, afirmou. 

Ela ainda lembrou que a insegurança quanto ao futuro da escola pode prejudicar a formação dos alunos e o seu desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Nada vai apagar o sofrimento que esses meninos estão tendo”, lamentou.

Para o diretor em exercício da escola, Álvaro Faria, a obrigatoriedade de permanecer na escola durante todo o dia, como propõe a Secretaria de Estado de Educação, vai levar à evasão escolar. “Se isso for aprovado, a escola vai ficar com menos de 100 alunos”, avaliou.

Segundo o diretor em exercício, para a implantação do novo ensino médio, será necessário encerrar as turmas de ensino fundamental, que funcionam em tempo integral. O prazo para alterar o plano de atendimento da Escola Augusto de Lima em 2024 termina nesta sexta-feira (15). Ele espera que a Secretaria de Educação reveja sua decisão, de modo a evitar o fechamento dessas turmas.

Deputadas defendem diálogo com a comunidade escolar

A presidenta da Comissão de Educação, deputada Beatriz Cerqueira (PT), que solicitou a realização da visita, destacou que a Escola Augusto de Lima não tem condições de implantar as turmas de ensino médio profissionalizante em tempo integral e criticou a decisão do Governo do Estado. “É um completo desconhecimento da realidade”, afirmou.

Citação

A deputada defendeu que sejam feitos investimentos para melhorar a infraestrutura da unidade e disse que, se o governo insistir com a proposta de alteração no ensino médio, vai realizar uma audiência pública, para demonstrar aos gestores estaduais que a proposta seria inviável.

A deputada Lohanna (PV) também criticou a decisão do Governo do Estado. “Não faz sentido impor para a escola um modelo que não funciona na realidade”, afirmou. Ela propôs que o relatório da visita seja encaminhado ao Ministério da Educação, que discute alterações para corrigir problemas na reforma do ensino médio.

A deputada Macaé Evaristo (PT) lembrou que os jovens têm outros interesses além do ensino médio em tempo integral e defendeu que a comunidade escolar precisa ser envolvida no debate sobre o futuro da escola. 

Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia realiza - visita técnica à Escola Estadual  Augusto de Lima
“O governo poderia sentar aqui e conversar com a comunidade escolar. Todo mundo fala, mas ninguém escuta a escola. Não pode ser assim. O objetivo do Estado é servir a população, então ele não pode fazer as coisas contra a sua vontade.”
Beatriz Cerqueira
Dep. Beatriz Cerqueira

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