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Empresários cobram urgência na correção de falhas na nova vistoria veicular

Representantes das empresas credenciadas relatam problemas no novo sistema. Executivo reconhece entraves, mas garante que eles serão superados rapidamente.

07/02/2024 - 19:00
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Distribuição desigual, demora na transferência integral do serviço do Estado para as empresas credenciadas, problemas no agendamento pela internet e falta de previsão para a liberação das vistorias móveis. Esses foram os principais problemas apontados pelos responsáveis pelas empresas credenciadas de vistoria (ECVs) após o início da transição para o novo serviço, ainda no final do ano passado.

Eles se reuniram na tarde desta quarta-feira (7/2/23), em audiência da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), atendendo a requerimento assinado por sete parlamentares, entre eles o presidente do colegiado, João Magalhães (MDB), que comandou o debate.

Os problemas foram reconhecidos pelo representante do Executivo, que lembrou a complexidade e a dimensão da mudança, que impacta todo o setor automotivo nos 853 municípios mineiros. 

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Coube à presidente do Sindicato das Empresas de Vistoria de Identificação Veicular e Motores de Minas Gerais (Sindev-MG), Natália Cazarini, resumir, em sua apresentação na audiência, todos as irregularidades já constatadas nas últimas semanas.

Ainda em outubro, a edição pelo governador do Decreto 48.703 e da Portaria 1.290, esta última pela Coordenadoria Estadual de Gestão de Trânsito (CET) - vinculada à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) e que assumiu as funções do antigo Detran -, deu início à transferência do serviço das Circunscrições Regionais de Trânsito (Ciretrans) para a iniciativa privada. 

A regulamentação se tornou possível após a aprovação no ano passado, pela ALMG, da Lei 24.470, que estabeleceu a possibilidade de a CET credenciar pessoa jurídica de direito público ou privado para a prestação do serviço de vistoria de identificação veicular, que constitui ato preparatório para o exercício regular do chamado poder de polícia. Segundo a norma, nesse caso, a remuneração do serviço de vistoria veicular será feita à empresa credenciada mediante pagamento de preço público.

Ajustes são urgentes

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Segundo Natália, os ajustes são urgentes. Até a véspera da reunião, de acordo com ela, Belo Horizonte reunia 58 empresas habilitadas, totalizando 410 boxes de vistoria ativos para prestar o serviço, frente a uma demanda de 1,8 mil vistorias diárias.

A demora na transferência integral do serviço resultou numa média, até o momento, de apenas 4,5 vistorias por dia por vistoriador, insuficiente para garantir a viabilidade da atividade.

A sindicalista também denunciou que a distribuição equitativa do serviço pelo sistema informatizado (Agenda Minas) não está acontecendo, pois, segundo apuração do sindicato, duas empresas com oito boxes cada uma realizaram, respectivamente, 1.010 e 193 vistorias ao longo de janeiro, uma diferença de aproximadamente 570%.

“O resultado é que a espera chega a seis horas em algumas empresas, o que não aconteceria se houvesse, de fato, a distribuição equitativa, que é essencial”, defendeu.

Ela também cobrou ajustes para tornar o agendamento das vistorias semelhante ao de clínicas para exames médicos de habilitação, na qual o interessado liga para a empresa selecionada randomicamente e agenda o melhor horário. Natália alega que um maior controle dessa agenda pelas ECVs tornaria o serviço mais eficiente, já que pela sistemática atual apenas um e-mail é enviado já com o horário do serviço.

Por fim, ela pediu a liberação da vistoria móvel o mais rápido possível, fundamental, por exemplo, para atender o setor de venda de veículos zero quilômetro, de veículos importados de alto luxo, o que envolve uma questão de segurança, e por permitir, ainda, uma maior integração com o trabalho desempenhado pelos despachantes. “Já temos tecnologia, equipamentos e pessoal treinado para isso”, garantiu Natália.

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Credenciamento ainda em andamento

O diretor da CET, Lucas Pacheco, lembrou que o novo modelo funciona há somente cerca de 50 dias e pediu paciência aos responsáveis das ECVs. Segundo ele, os ajustes ocorrem em tempo real, inclusive para aumentar a oferta de prestadores habilitados do serviço.

Conforme informou, 886 empresas credenciadas atuam em 268 municípios. Nas próximas semanas, pela projeção da CET, 370 municípios serão contemplados. A estimativa é de que existam cerca de 1,5 mil ECVs no Estado, boa parte delas ainda na fila para a habilitação. Como esse processo é gradual, isso pode explicar, segundo ele, eventuais desbalanceamentos na distribuição das vistorias conforme o momento de ativação de cada ECV, o que promete corrigir em breve.

De acordo com o gestor, a meta sempre foi repassar 100% das vistorias para as ECVs. “Essa é uma iniciativa que visa também reforçar a segurança pública, liberando pessoal da Polícia Civil para o trabalho de investigação. Mas é preciso tempo para terminar sua implantação com sucesso. Firmamos dois compromissos aqui: o de diálogo com todos os envolvidos e o de evolução constante com transparência”, afirmou.

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Lucas Pacheco também informou que até o final do mês começará a ser divulgado aos responsáveis das ECVs todos os números relativos à distribuição das vistorias para possibilitar sua auditoria, procedimento que vai se tornar uma rotina mensal. Ele ainda garantiu que a liberação das vistorias móveis está em fase final e defendeu a metodologia atual de agendamento, por garantir transparência, agilidade e permitir às próprias ECVs o gerenciamento eficaz da disponibilidade de dias e horários.

Problemas persistem após ameaça de monopólio

Apesar das explicações, a atuação da CET foi alvo de críticas da maioria dos deputados que participaram da reunião. Luizinho (PT) lembrou que, se dependesse da proposta original do Executivo, nem a distribuição randômica nem o limite de boxes por empresa teriam sido adotados, o que resultaria em um monopólio no setor. “Coube à Assembleia lutar pelo direito dessas 1,5 mil ECVs, cada uma representando uma família de trabalhadores, empreenderem em Minas Gerais”, apontou.

Na mesma linha, Professor Cleiton (PV) disse ter faltado planejamento do Executivo e prometeu acionar o Ministério Público e o Tribunal de Contas para apurar os problemas relatados. Já Beatriz Cerqueira (PT) destacou que é obrigação de todos os deputados fiscalizar os atos do Executivo. Pelos relatos na reunião, o modelo adotado pode não ser o ideal, acredita.

“O Executivo ainda precisa atestar, por meio de dados, a distribuição equitativa de vistorias”, pontuou a parlamentar. Por sua vez, Leleco Pimentel (PT) elogiou a mobilização de pequenos empresários para fazer frente a supostos desmandos do Executivo.

Por fim, Leonídio Bouças defendeu que eventuais soluções dos problemas relatados serão alcançadas por meio do diálogo, não pelo acirramento, daí a importância da audiência realizada pela Comissão de Administração Pública.

“Os entraves precisam ser resolvidos com urgência porque vários empresários já perderam muito dinheiro com essa espera. Fizeram investimentos, contrataram pessoas, alguns pagaram mais de um ano de aluguel, acreditando que o governo colocaria o sistema em funcionamento de forma mais rápida”, relatou.

Comissão de Administração Pública - debate sobre os problemas enfrentados pelas empresas de vistorias

Governo promete resolver problemas na vistoria veicular em Minas TV Assembleia
“Já superamos inúmeras barreiras, com relação aos gastos necessários e a aspectos legais e operacionais. O volume de trabalho é imenso e isso não é simples, porque envolve diversos sistemas tecnológicos. Mas nosso empenho tem sido total até conseguir que o novo modelo funcione adequadamente. Os resultados já estão aparecendo.”
Lucas Pacheco
Diretor da CET
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