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Empatia, acolhimento e escuta são essenciais na prevenção ao suicídio

Participantes de audiência sobre a campanha Setembro Amarelo destacam que o sofrimento mental precisa ser desestigmatizado.

27/09/2023 - 15:35
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A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou audiência pública, nesta quarta-feira (27/9/23), para debater a importância da campanha Setembro Amarelo, de prevenção à automutilação, à depressão e ao suicídio.

De forma unânime, os convidados apontaram a necessidade de uma abordagem humanizada e transversal como o melhor caminho para a prevenção do autoextermínio, tema ainda tabu na sociedade.

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Psicóloga da ALMG, Daniela Piroli fez uma reflexão sobre a compreensão da saúde mental, intangível, de forma que o diagnóstico necessariamente deve passar pela empatia, escuta ativa e o acolhimento.

Ela ressaltou a necessidade de se tratar do tema abertamente, para se retirar o estigma das pessoas em sofrimento psíquico, muitas vezes vistas como fracas, covardes ou até mesmo “distantes de Deus”.

Esse viés ainda presente na abordagem do suicídio traz outros reflexos, segundo Daniela Piroli, como menos investimentos em políticas públicas e a subnotificação de casos, que dificultam estratégias de atenção, apesar da sua grande representatividade: dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam o autoextermínio como a segunda maior causa de morte entre os jovens.

Ainda de acordo com a psicóloga, as desigualdades, sejam elas sociais, raciais ou de gênero, são um forte componente nos casos de suicídio: 79% das ocorrências são em países de baixa renda, o índice de casos é três vezes maior na população indígena, o risco de jovens negros se matarem é 45% maior e a incidência entre as pessoas transgênero chega a ser 40 vezes mais alta.

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Fuga do sofrimento

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Alberto Júnior, coordenador do projeto Help, que busca ajudar jovens em situação de sofrimento mental, informou que os casos de suicídio cresceram 35% no País entre 2011 e 2020, chegando à estatística de uma morte autoprovocada a cada 45 minutos.

Rodrigo Barreto, diretor da Associação Mineira de Psiquiatria, confirmou que transtornos como ansiedade e depressão são cada vez mais frequentes, o que faz com que indivíduos tomem a decisão de se matar em momentos de juízo crítico prejudicado.

“É uma solução definitiva para problemas passageiros. Essas pessoas veem a morte não como solução, mas como fuga do sofrimento”, afirmou, ao comentar já ter atendido diversos sobreviventes que, passado o período de maior abalo psicológico, se arrependeram das tentativas de autoextermínio.

O Corpo de Bombeiros também desenvolve um trabalho para dissuadir essas pessoas da ideia de suicídio, classificadas como tentativas abortadas. Com uma comunicação empática, dispostos também a ouvir, buscam tranquilizar o indivíduo e levá-lo a compreender o que está fazendo, oferecendo ainda atendimento médico e orientações para a busca de profissionais especializados em saúde mental, explicou o capitão Richelmy Pinto.

Quando não é possível convencer o potencial suicida, resta a contenção física, também técnica – neste caso, o índice de reincidência é maior, pois as pessoas tendem a não aceitar ajuda. A corporação conta hoje com quase 200 profissionais treinados para abordar as pessoas dispostas a se matar.

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Ambiente escolar

A juventude é conhecida como um período de maior dificuldade de lidar com as emoções, e por isso a população em idade escolar e suas relações com a família e nas unidades de ensino merecem especial atenção.

A psicóloga Sara Cristina Costa, especializada no atendimento dessa parcela da população, relatou os problemas que mais interferem no bem-estar mental dos jovens: baixa autoestima, insegurança, violências no âmbito familiar, bullying e fatores socioculturais como pobreza e preconceito, além de transtornos biológicos.

Para oferecer auxílio a crianças e adolescentes, ela acredita no fortalecimento da comunidade escolar, formando redes de apoio.

Nesse sentido, a representante da Secretaria de Estado de Educação, Fabiana Santos, relatou que o governo vem desenvolvendo parcerias para preparar os professores a identificar problemas de saúde mental e emocional nos alunos.

Além disso, Núcleos de Acolhimento Educacional (NAEs), compostos por psicólogos e assistentes sociais, oferecem apoio na identificação dos casos e no desenvolvimento de estratégias coletivas.

Na área da saúde, a rede de atenção psicossocial foi instituída em 2011. Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) disponibilizam serviços especializados em urgência e emergência em saúde mental em 414 unidades espalhadas pelo Estado, explicou Taynara de Paula, servidora da Secretaria de Saúde.

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Acolhimento

O deputado Charles Santos (Republicanos), que solicitou a audiência, contou ter passado por um quadro depressivo na infância, contornado com o imprescindível apoio familiar. “Em tudo que se relaciona à saude mental, parece que estamos enfrentando um inimigo invisível, com muitos tentáculos. Espero que essa audiência leve uma mensagem de alento a quem estiver precisando”, salientou o parlamentar, autor de projetos em tramitação ou já transformados em lei pela valorização da vida e contra a violência autoprovocada, envolvendo a família, a escola e o Estado. 

Comissão de Saúde - homenagem à campanha Setembro Amarelo
“Dinâmicas de violência empurram certas populações para fora da existência.”
Daniela Piroli
Psicóloga da ALMG
Comissão de Saúde - homenagem à campanha Setembro Amarelo
A campanha Setembro Amarelo, que busca ações de prevenção à automutilação, depressão e suicídio foi, discutida em audiência da Comissão de Saúde TV Assembleia
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