Educação em tempos de tecnologia requer convivência e relacionamento
Na abertura dos Encontros com a Procuradoria da Mulher, especialista defende também a união entre mulheres para enfrentar disparidades.
08/08/2023 - 19:55Investir na convivência e nas relações para garantir educação de qualidade em tempos de avanços da tecnologia. Apostar no real conceito de sororidade (união, empatia) e nas ações afirmativas para ampliar a presença de mulheres nos espaços de poder. Essas foram as principais mensagens das expositoras que abriram, nesta terça-feira (8/8/23), os Encontros com a Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Os debates foram conduzidos pela deputada Ione Pinheiro (União), procuradora-geral, que lembrou os 17 anos da Lei Maria da Penha, comemorados nesta semana. “Apesar das conquistas, precisamos de políticas públicas para avançar, para a transformação social”, apontou. A agenda desses encontros, destinados a debater políticas públicas voltadas para a equidade de gênero e para o enfrentamento das violências contra as mulheres, prossegue até o final de setembro.
Fernanda Sobreira, pedagoga com formação em relações humanas e metodologias facilitadoras e presidente da Associação Pró-Educação Infantil de Minas Gerais, tratou do tema “A mulher e os novos tempos na educação”. A partir da abordagem ampla de educação – que vai além do letramento e não se limita à escola –, e da análise das transformações atuais, sobretudo com o crescimento das redes sociais, ela propõe o equilíbrio.
Para a especialista, as redes sociais potencializam o “eu” e desqualificam o “nós”. Por isso, segundo ela, pais e outros adultos responsáveis pela educação de crianças e adolescentes devem “se policiar” nesse processo educativo/social, já que esse público infantil tende a copiar os adultos. “A vida é espaço para educar”, justificou.
Fernanda também abordou os impactos da pandemia de Covid-19 sobre a educação e afirmou que o retrocesso cognitivo e emocional de crianças e adolescentes, privados da socialização, não tem precedentes na história. Ela trouxe dados sobre o uso de celular que apontam, por exemplo, que 50% dos adolescentes admitem vício no uso do aparelho.
Por outro lado, segundo a pedagoga, com a ampliação da expectativa de vida, a educação passa a ser um processo de longo prazo, que muda responsabilidades e conceitos. “Educar hoje é ampliar a capacidade de quem estamos educando para fazer escolhas, com consequência, responsabilidade e liberdade. Se estamos errando, dá tempo de mudar”, destacou.
Pensamento crítico é desafio
Diante do cenário de transformações, Fernanda lista como competências emergentes para o Brasil, entre outros pontos, pensamento crítico; inteligência emocional e relacional; raciocínio, resolução de problemas e ideação; liderança e influência social; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; e inteligência financeira. “Todas as escolas têm que trabalhar nisso”, apontou.
No âmbito familiar, competências semelhantes são desejáveis, como comunicação, criatividade e colaboração. A pedagoga enfatizou o papel das mulheres nesse processo, já que elas são 80% das 2,2 milhões de docentes da educação básica no Brasil. Curiosamente, segundo ela, esse percentual vai caindo nos níveis seguintes. Da mesma forma, as mulheres são maioria na direção das escolas, mas ao longo de toda a história, houve apenas uma ministra da Educação.
Essa disparidade entre homens e mulheres deu o tom também à fala de Luciana Nepomuceno, presidente da Comissão Especial de Estudos da Reforma Política da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) e professora da PUC Minas. O recorte do mundo jurídico, segundo ela, mostra a mesma realidade. “Somente há 23 anos temos mulheres nos tribunais superiores. E elas são 18 vezes mais aparteadas que os homens”, apontou.
Ao abordar “Os desafios da mulher no universo jurídico”, ela afirmou que, apesar da previsão constitucional de igualdade, as mulheres, mesmo sendo maioria do eleitorado, da população, nas escolas e na advocacia, seguem silenciadas, invisibilizadas e assassinadas. “Eu luto diariamente para ser o que eu quero ser”, afirmou, citando o extenso currículo do mundo do direito.
Cotas na OAB
Luciana citou uma conquista, alcançada durante um de seus mandatos como conselheira federal da OAB, entre 2019 e 2021, por meio de uma ação afirmativa baseada em cotas. O número de conselheiras mulheres, que era 18, passou para 39 e, na sequência, com a paridade, para 81. “Não foi fácil porque quem está no poder não quer perder espaço”, aponta, defendendo as cotas também no judiciário e nos partidos políticos. Por outro lado, segundo ela, a OAB, criada em 1930, teve, até hoje, apenas uma mulher na presidência.
Para Luciana, o machismo e o racismo estão na origem social do problema. “As meninas são desencorajadas a ir para o espaço público. Quando vão, as mulheres brancas buscam independência, e as negras, sobrevivência”, enfatiza.
A deputada Nayara Rocha (PP) também pregou a união para o alcance das demandas femininas. Já Beatriz Cerqueira (PT) destacou a importância da educação para o enfrentamento das violências contra as mulheres
Antes das exposições, houve uma solenidade de abertura dos encontros, com a presença de representantes de órgãos públicos e das polícias, além de prefeitos e vereadores.
Nessa fase, a deputada Delegada Sheila (PL), procuradora adjunta da ALMG, destacou a importância da educação para mudar o sentimento de posse que homens têm em relação às mulheres. Ela ainda leu mensagem do presidente, deputado Tadeu Martins Leite (PV), na qual ele reafirma a tarefa permanente do Legislativo de estimular a presença feminina nos espaços de decisão e o longo caminho a percorrer até a paridade de gênero.
Andréia de Jesus (PT) salientou que a Procuradoria da Mulher é importante, até mesmo, para a reflexão sobre coisas simbólicas como a não existência de denominações femininas para oficiais das Polícias. Ela também fez o recorte de cor, ao enfatizar que as mulheres negras ainda são as maiores vítimas de feminicídio.
Já o deputado Adriano Alvarenga (PP) destacou a conquista de mais espaços pelas mulheres. Também participaram da reunião as deputadas Chiara Biondini (PP) e Lud Falcão (Pode).