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Dia e Semana Estadual do Hip Hop recebem apoio em audiência

Comissão de Cultura ouve artistas e membros de entidades, que abordam importância social e cultural do movimento.

14/04/2025 - 19:52
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A proposta de criação da Semana e do Dia Estadual do Hip Hop, objeto do Projeto de Lei (PL) 3.124/21, recebeu amplo apoio de atores que militam nesse movimento cultural. Eles participaram de audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que debateu o tema, na segunda-feira (14/4/25).

Autora da proposta e do requerimento pela reunião, a deputada Andreia de Jesus (PT), destacou a importância de ouvir a sociedade, para que esta se posicione sobre o tema. “Com a futura lei, o hip hop passa a ser um patrimônio extremamente relevante, garantindo um espaço na agenda cultural no Estado”, valorizou. 

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A deputada reforçou que a criação da Semana do Hip Hop pode garantir a aplicação de recursos orçamentários do Governo do Estado em eventos nessas datas comemorativas. Também considerou que o reconhecimento por meio de lei ajuda a reduzir o "estigma de vadiagem erroneamente atrelado ao hip hop". “O samba já foi muito perseguido pelo mesmo motivo, mas conseguiu superar e agora é a hora do hip hop fazer o mesmo”, frisou. 

Andreia de Jesus também julgou importante a discussão do PL por ajudar a divulgar o movimento, de modo a sensibilizar prefeituras a ampliar os espaços de expressão e formação. “Que se abra caminho para os MCs, DJs, Bboys, grafiteiros poderem exercer seu trabalho, inclusive nas escolas”, defendeu. 

Por fim, a parlamentar julgou importante a mobilização para ajudar na construção de políticas públicas participativas para o setor, que seriam lideradas pelo Fórum Estadual do Hip Hop e outras entidades envolvidas com a temática. O protagonismo ao hip hop seria “uma forma de reparação à perseguição aos negros e pobres”. 

O artista e gestor cultura Frederico Maciel, o Negro F, agradeceu Andreia de Jesus por ter aberto a Assembleia para divulgação da causa do hip hop. Ele elogiou o projeto de lei, mas ressalvou que a Semana Estadual do Hip Hop tem que contar com investimentos públicos: “Não pode ser algo privatizado; queremos investimentos do Estado, como forma de reparação”, reforçou.

Ele reivindicou a liberação de espaços e equipamentos públicos, como os das escolas, para a realização dos eventos do hip hop. Também se queixou das dificuldades impostas pela Polícia Militar para liberar atividades voltadas para esse movimento.

Nessa mesma linha, o mobilizador e produtor cultural Marcos Pereira, o Salve MC, membro do Fórum do Hip Hop de BH, elogiou o projeto, mas também criticou a enorme burocracia. “A gente ocupar certos espaços parece que incomoda o poder público”, sentenciou.

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O historiador Marco Túlio Barbosa registrou que uma das primeiras ações em prol do hip hop na Capital foi a criação do Centro Cultural no bairro Alto Vera Cruz, em 1992, no governo de Patrus Ananias, quando também se criou o Arco das Artes no Viaduto Santa Tereza.

Por parte do Estado, Barbosa destacou a criação do prêmio Canela Fina (nome de um rapper que morreu precocemente de infarto), no governo de Fernando Pimentel. Foram disponibilizados R$ 300 mil para as categorias de MC, DJ, dança e graffiti em 28 prêmios no valor de R$ 10 mil cada. “Foi aprimeira vez que fizemos disputa de Djs debaixo do viaduto”, relembrou.

Acordeão

Poder público reconhece a importância do hip hop

A secretária de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras, considerou o reconhecimento ao hip hop como algo importante para facilitar o acesso a recursos públicos e para a valorização dessa manifestação cultural. 

O diretor de Proteção e Memória do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), Adriano Maximiano da Silva, lembrou a importância do cadastramento dos artistas e grupos de hip-hop na lista de bens culturais. Explicou que esse cadastro é importante para o cálculo do ICMS Cultural, que beneficia os municípios com repasses de recursos estaduais.

Já o superintendente de Fomento, Capacitação e Municipalização da Secretaria de Estado de Cultura, Pablo Soares Pires, falou sobre a importância de facilitar o acesso dos artistas de hip-hop aos editais do Fundo Estadual de Cultura e da Lei de Incentivo à Cultura. Defendeu a importância dessa manifestação cultural para os moradores da periferia. “Eu entendo o hip-hop como uma tecnologia de sobrevivência ao racismo e à perseguição”, afirmou.

Minuto de silêncio em memória de rapper 

Emocionada, a produtora cultural e MC Jessica Jordânia , afirmou que vinha do velório de um amigo, o rapper de Belo Horizonte MC Bertioli. “Era um jovem talentoso que trabalhou comigo por um tempo e que, quando ficou perto do rap, ficou longe do crime. Em memória do rapper, Andreia de jesus solicitou um minuto de silêncio.

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Para Sandro Patrocínio, educador e coordenador da Casa Hip Hop, esse espaço em Belo Horizonte é um case de sucesso quando se fala em ocupação desse movimento cultural.

Inaugurada em 2016 no bairro Taquaril, a ONG Casa do Hip Hop oferece atividades culturais, esportivas e educativas. De acordo com o dirigente, a entidade conseguiu, em 2020, na pandemia, atender a mais de mil famílias, com cestas básicas e ações culturais e esportivas. “Precisamos replicar esse modelo da Casa do Hip Hop em todas as comunidades da Capital”, defendeu.

Sobre o projeto de lei, Sandro considerou-o importante, mas avalia que só a proposta não basta. “Tem que colocar dinheiro, dotação orçamentária para a coisa acontecer, como a Virada Cultural de Belo Horizonte, por exemplo”, refletiu. Ele ainda criticou a violência praticada por policiais militares nos eventos voltados para o hip hop.

O educador e produtor cultural Wilson Brandão, o W2, é também rapper do projeto Vozes da Periferia BH e coordenador do Fórum do Hip Hop de BH. Afirmando-se como oriundo de uma “quebrada”, onde imperava a violência, testemunhou que só conseguiu sair da marginalidade por ter ingressado no rap. “As ações do hip hop previnem a violência e a criminalidade e propiciam o combate ao racismo; é uma cultura transformadora”, exaltou.

Diversidade

Isac Vieira, produtor cultural, o MC Azizi, declarou que trazia a representatividade LGBT ao hip hop. “Me senti muito acolhido nessa cultura, enquanto homem negro, gay e periférico, trazendo minha liberdade de expressão; nós, LGBT, estamos presentes nessa cultura; e as políticas para o hip hop são também voltadas para a inclusão e a diversidade”, elogiou. Também Rudá Rocha, dançarino de break da região do Barreiro e pesquisador, valorizou o fato de ter sido bicampeão nacional trans de break no Brasil.

A produtora cultural Michele Oliveira, a b-girl Chelsie Tapaió, destacou que também faz parte do coletivo Maia, formado por mães indígenas e pretas. Também dançarina de break, dança que se tornou modalidade esportiva nas Olimpíadas de Paris, cobrou do governo espaço para treinamento.

Em resposta, a deputada Andreia de Jesus anunciou que vai apresentar requerimentos à Subsecretaria de Estado de Esportes e ao Ministério dos Esportes perguntando quais são os investimentos dessas pastas no break ou dança de rua (street dance).

Descentralização

Clara da Costa, do coletivo Babylon By Black, de Ipatinga (Vale do Aço), propôs “a descentralização dos recursos e dos discursos. Na sua avaliação, deve-se considerar as várias realidades do Estado ao se propor um projeto de lei. Atuante também em Viçosa (Mata), ela reivindicou mais espaços para as atividades do hip hop no interior, considerando suas especificidades.

Jesus Aparecido Pereira, grafiteiro do Kativeiro Hip Hop, o Zuza, de Lavras (Sul), destacou que há uma lei municipal na cidade que estabelece o Mês da Cultura Hip Hop. Apesar da lei criada, ele avalia que está faltando apoio da prefeitura local.

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