Declaração de Lula sobre ação de Israel em Gaza gera polêmica
Na reunião de Plenário desta terça (20), parlamentares da oposição elogiaram presidente enquanto os da base o criticaram com veemência.
20/02/2024 - 19:35A declaração do presidente Luís Inácio Lula da Silva em que comparou a morte de palestinos por Israel ao genocídio de judeus pelo regime nazista de Adolph Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, provocou grande repercussão na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
De um lado, parlamentares de oposição ao governo do Estado consideraram acertada a fala de Lula ,que considerou genocídio a morte de quase 30 mil palestinos, na maioria civis, mulheres e crianças, provocada por bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Na outra ponta, deputados da base governista avaliaram como vergonhosa a declaração do petista, a qual levou o governo de Israel, que tem à frente o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a declarar o presidente brasileiro persona non-grata.
Lula deu a declaração no último domingo (18), após anunciar doações para a UNRWA, agência de refugiados palestinos da ONU, depois da reunião de Cúpula da União Africana. Ele disse as seguintes palavras: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler decidiu matar os judeus.”
O deputado Leleco Pimentel (PT) disse que Lula teve coragem de dizer a verdade. “O mundo condena o genocídio provocado por Benjamim Netanyahu, hoje um criminoso de guerra. O Papa Francisco também corroborou a fala de Lula. Qual país do mundo apoiou o primeiro-ministro de Israel?”, questionou. O parlamentar lembrou que já morreram cerca de 12 mil crianças, sendo que muitas ainda estão sob os escombros de construções palestinas. “Lula não errou e teve muito mais coragem que todos os chefes de estado que até agora permaneciam em silêncio; e agora tem o apoio até dos Estados Unidos, que está pedindo o cessar-fogo em Gaza”.
Por sua vez, o deputado Cristiano Silveira (PT) lembrou que quando Israel foi invadido por terroristas, o governo brasileiro condenou a ação do grupo extremista Hamas. Mas que neste momento, ao acompanhar o uso desproporcional da força por Israel, bombardeando escolas, hospitais e centros de abastecimento, o Brasil se posicionou acertadamente ao considerar essa ação um genocídio. “Quando só um lado tem armas, não é guerra, é dizimação de pessoas”, avaliou. “Nenhum país ficou do lado de Netanyahu, pois Gaza se tornou um matadouro de palestinos; o mundo deve dar um basta nesta situação”, conclamou.
Em aparte, o deputado Betão (PT) opinou ser “urgente colocar um fim ao genocídio que ocorre em Gaza”. Segundo ele, todos os países da União Europeia, com exceção da Hungria, “governada por um fascista como o ex-presidente do Brasil”, estão alinhados com a proposta de cessar-fogo.
Por fim, a deputada Bella Gonçalves (Psol) declarou que atualmente a proposta majoritária para a região em conflito é a criação de dois estados, de Israel e da Palestina. “Mas o que está em curso é o genocídio”, lamentou ela, completando que muitas das mortes estão sendo provocadas pelo bloqueio por Israel da entrada de água e comida em Gaza. “O percentual de 1,68% da população de Gaza representa 237 vezes mais mortes de crianças do que as ocorridas no Holocausto; a banalidade do mal está disseminada”, afirmou.
Deputados bolsonaristas condenam fala do presidente
O deputado Coronel Sandro (PL) disse sentir-se envergonhado com a declaração de Lula: “Depois dele comparar uma resposta de Israel a terroristas com o genocídio de judeus por Hitler, só posso sentir vergonha; deixo registrado meu repúdio”. Na visão desse parlamentar, a fala de Lula é indefensável.
Coronel Sandro considerou que, ao contrário do que se tem dito dos bolsonaristas, acusados de reação desproporcional à declaração presidencial, a desproporção existe é na comparação da morte de 6 milhões de pessoas no holocausto com as cerca de 30 mil na Palestina. “O território israelense foi atacado por terroristas, que mataram crianças e mulheres e mantém ainda mais de 200 reféns judeus; Israel foi atrás dos terroristas, mas respeitando as convenções de guerra”, analisou.
“Nunca antes na história deste País, um presidente foi considerado persona non grata em outro”, ironizou o deputado Caporezzo (PL), lembrando ainda que, por outro lado, Lula foi elogiado por dirigentes do Hamas. O parlamentar relembrou que Israel, quando se rompeu a barragem em Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte), enviou soldados para ajudar a encontrar vítimas na lama. Também rebateu a fala de que mulheres e crianças estariam sendo mortas por Israel. “O Hamas é quem coloca essas pessoas em bunkers debaixo de hospitais e escolas; a primeira vítima do Hamas é o povo palestino”, concluiu.
Também o deputado Bruno Engler (PL) considerou vergonhosa a “cara-de-pau” de pessoas que defendem Lula. “Não há comparação entre a ação do estado de Israel e a Alemanha nazista”, comparou. O deputado registrou trecho de entrevista antiga de Lula à revista Playboy, em que o presidente afirmava: “Mesmo errado, Hitler tinha algo que eu admirava num homem – o fogo para fazer alguma coisa”.
Parlamentares abordam temas regionais
O deputado Oscar Teixeira (PP) abordou os problemas em rodovias no extremo norte mineiro. Ele falou da MG-122, com asfalto bastante danificado, e que agora terá trecho de mais de 100 km recapeado, após gestões que fez junto ao Governo de Minas. Ele comemorou o início do recapeamento da via marcado para esta quarta (21), depois da conclusão da licitação do primeiro trecho dessa via para recapeamento, de Nova Porteirinha, passando por Janaúba, até a BR-251. Já o segundo trecho, de Nova Porteirinha até a divisa com a Bahia, deve contar com obras de manutenção, no valor de R$ 15 milhões.
Em aparte, a deputada Leninha (PT) valorizou a ação governo do Estado, ressaltando ainda a atuação do colega parlamentar, de prefeitos e vereadores da região, além do Legislativo mineiro.
Já o deputado João Júnior (PMN) conclamou os cidadãos de Uberlândia (Triângulo) a participarem do processo de escolha da chapa de vereadores do seu partido que se candidatarão a vagas na Câmara Municipal. “Você, cidadão uberlandense, vamos juntos construir um novo momento na cidade”, convidou.
Por último, o deputado Marcos Tramonte (Republicanos) agradeceu os colegas por terem apoiado deliberação da Mesa para criação da Frente Parlamentar em Defesa do Carnaval Mineiro. “Destaco o grande carnaval que tivemos em Belo Horizonte e defendo que ele seja extendido e administrado pelas ligas e associações dos blocos e escolas”, propôs. Ele informou que foi arrecadado R$ 1 bilhão na Capital com a festa e que ela não pode ficar restrita apenas a Belo Horizonte. Sugeriu ainda que o governo de Minas crie um espaço para os desfiles, nos moldes do sambódromo do Rio.
Durante a reunião, foi feito um minuto de silêncio em memória: do historiador Rui Mourão, da Academia Mineira de Letras, falecido no último domingo; e do cônego Agostinho Coimbra de Oliveira, que morreu com mais de 100 anos, o mais longevo da Diocese de Mariana.