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Crianças e adolescentes precisam ser acompanhados ao acessar a internet

Especialistas chamaram a atenção para a necessidade de trabalho preventivo para combater crimes contra público infanto-juvenil.

04/12/2023 - 14:25 - Atualizado em 04/12/2023 - 18:17
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Especialistas alertaram pais e responsáveis para a necessidade de acompanharem cuidadosamente o uso da internet por crianças e adolescentes. Essa temática norteou, na manhã desta segunda-feira (4/12/23), debate público realizado pela Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A iniciativa aborda, ao longo de todo o dia, desafios, perspectivas e soluções para enfrentar ameaças como drogas sexuais, estupros virtuais e redes de violação contra crianças e adolescentes.

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Promotor de Justiça especializado em Direito Penal e coordenador do movimento nacional Todos contra a Pedofilia, Carlos José e Silva Fortes, foi um dos que defendeu a importância de os pais se envolverem na educação dos filhos para o uso da internet.

Durante sua palestra sobre “Prevenção ao abuso e exploração sexual e uso de drogas”, ele enfatizou que chega a ele grande quantidade de casos diários de abuso sexual contra crianças, praticados de maneira virtual ou presencial. A negligência dos responsáveis aumenta a probabilidade de ocorrerem.

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Ele também alertou as pessoas para que jamais passem adiante qualquer tipo de material pelo Whatsapp, ainda que seja com o objetivo de localizar suspeitos. “Denúncias de crimes não são feitas em correntes de WhatsApp, mas nas Delegacias de Polícia. Também é crime repassar os vídeos, mesmo que com o objetivo de punir o criminoso. E isso não ajuda ninguém, só prejudica ainda mais a imagem daquela criança e fere a sua honra”, frisou.

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Supervisão e atenção 

Por sua vez, o delegado titular da Delegacia Especializada de Apuração de Ato Infracional, Ângelo Ramalho Álvares, recomendou a participantes do debate público prestarem atenção a filhos em idade escolar.

Participando da mesa que abordou os perigos e as consequências reais do mundo virtual, ele disse que grande parte deles acessa a plataforma Discord, que oferece chat de voz, texto e vídeo para relacionamentos com amigos.

Porém, têm sido relatados casos de pedofilia e exploração sexual nessa plataforma. As principais vítimas, como contou, são adolescentes que não se relacionam tão bem no mundo físico e se sentem de certa forma protegidos na internet.

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Delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Vespasiano (Região Metropolitana de Belo Horizonte), Nicole Perim acrescentou que é preciso observar os sinais visíveis e invisíveis que a criança ou adolescente manifestam, porque dificilmente alguém revela estar sendo abusado.

Ela alertou para mudanças de comportamento, como ficar mais triste ou nervoso e alterar a forma de se vestir.

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A cada três páginas sobre pedofilia no mundo, duas têm origem no Brasil

Dois terços das páginas da internet sobre pedofilia no mundo têm origem brasileira. Foi o que ressaltou o delegado de Polícia Civil titular da Delegacia Regional de Manhuaçu (Zona da Mata), Felipe de Ornelas, durante o debate.

Ele rememorou que a sociedade se alterou profundamente nas últimas décadas. De acordo com o delegado, inúmeros fatores contribuíram para isso, mas o principal são as tecnologias de informação e comunicação.

Conforme disse, com a internet, surgiram novas formas de se comunicar e de se relacionar, de comprar e vender produtos. Nesse mesmo sentido, apareceram novas formas de cometimento de crimes.

De acordo com ele, a legislação e a punição a esse tipo de crime não têm conseguido dar a devida resposta a esses casos. “O direito penal deve acompanhar essa mudança na sociedade em que o virtual e o real se entrelaçam”, defendeu.

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Desafios 

Para a delegada de Polícia e chefe da Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente, Renata Fagundes, os crimes têm avançado no meio cibernético de maneira assustadora, problema que não pode mais ser ignorado pelos entes públicos. “O debate é necessário, para que os criminosos sejam responsabilizados”, afirmou.

Esse aspecto, inclusive, foi apontado por ela como um desafio. “Muitas vezes, é difícil enquadrar as condutas desses criminosos em fatos típicos para responsabilizá-los. Nesses casos, precisamos fazer uma manobra jurídica para responsabilizar o autor do crime”.

A deputada Delegada Sheila (PL), que preside a comissão e solicitou a iniciativa, também abordou o assunto.

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Ela também disse que a investigação de crimes cibernéticos fica bastante centralizada na Capital mineira e que buscar a descentralização dessas atividades pode contribuir para uma resposta mais adequada aos fatos.

Na mesa de abertura do debate, o subsecretário de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Duílio Campos, ressaltou a importância da realização de campanhas direcionadas aos responsáveis e à conscientização de crianças e adolescentes.

“A maior parte dos crimes hoje acontece em ambiente virtual. Precisamos construir caminhos para tirar nossa juventude desses riscos e espero que hoje possamos debater formas de avançar na articulação do trabalho em rede e na responsabilização dos pais, quando necessário”, enfatizou.

Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas - debate sobre o papel do consumo de álcool e drogas na violência contra crianças e adolescentes
“As crianças precisam usar a internet, com educação e vigilância. Você não pode só entregar o aparelho na mão da criança e deixar pra lá. Ela pode ser vítima de contatos maliciosos, de chantagem, tudo com o objetivo de obterem pornografia infantil. Como evitar isso? Educando e acompanhando. Melhor que você ensine seu filho a acessar a internet com cuidado, que ele acesse junto com você.”
Carlos José e Silva Fortes
Promotor de Justiça e coordenador do Movimento Nacional Todos contra a Pedofilia
Brasil é um dos países líderes no ranking de ocorrências de crimes virtuais envolvendo crianças e adolescentes TV Assembleia
“A internet sem supervisão traz mais riscos do que ficar brincando na rua hoje em dia, por exemplo. Na internet, tudo toma uma proporção enorme, tudo se potencializa, porque o autor da agressão consegue comparsas. Precisamos combater esse mal.”
Ângelo Ramalho Álvares
Delegado titular da Delegacia Especializada de Apuração de Ato Infracional
“Precisamos construir legislações sólidas que impeçam esses tipos de crimes e garantir a aplicação da justiça de forma eficaz e resolutiva quando acontecerem.”
Delegada Sheila
Dep. Delegada Sheila
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