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Corrida de Stock Car vai comprometer funcionamento de Hospital Veterinário da UFMG

Em visita da Comissão de Educação à Escola de Veterinária, diretores disseram que unidade ficará fechada durante 19 dias que envolvem o evento, em agosto, na Capital. 

24/05/2024 - 16:27
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O funcionamento do Hospital Veterinário (HV) da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o maior entre os hospitais de instituições federais do País, vai ficar comprometido durante a realização da corrida de Stock Car na Capital mineira.  

É o que afirmaram diretores e professores da Escola de Veterinária, nesta sexta-feira (24/5/24), durante visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ao local.

Para o diretor da Escola de Veterinária, Afonso de Liguori, como a pista fica a cerca de 50 metros do HV e o acesso ao hospital vai ficar fechado no decorrer da iniciativa, não resta outra alternativa a não ser fechá-lo durante os 19 dias que envolvem o evento, em agosto. 

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A vice-diretora da escola, Eliane Gonçalves de Melo, prevê que, nesse período, deixem de ser atendidos 3 mil cães e gatos e cerca de 20 equinos. Além disso, segundo ela, os animais residentes no local, entre eles, cães, bois, cavalos e cabras precisarão ser deslocados para outro espaço.

O Hospital Veterinário é composto pelos setores de clínica médica nas diversas especialidades, clínica cirúrgica, patologia, reprodução e divisão de enfermagem. O estabelecimento realiza 35 mil atendimentos por ano e os procedimentos abrangem consultas, cirurgias, exames de imagem e laboratoriais. Todas as espécies de animais domésticos são atendidas e também algumas espécies de animais silvestres.

Comunidade já sente impactos da obra 

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As obras para o evento começaram em março e a comunidade acadêmica tem sentido impactos na rotina, como poeira e barulho excessivo. Com as intervenções, há relatos sobre o  o acesso à unidade já ter sido modificado.

A expectativa dos diretores é que o barulho se intensifique nos dias de treinos e nos da corrida propriamente dita, com a velocidade dos carros. Esse barulho excessivo pode gerar estresse nos animais. 

Além disso, a interrupção do acesso ao HV e mudanças no trânsito na região vão dificultar que pessoas levem seus animais até o local, bem como tornar mais complicada a continuidade no tratamento. 

“Não tem como a gente atender de forma segura durante esse tempo”, disse Afonso de Liguori, lamentando pela desassistência aos animais.

Na opinião da professora da área de equinos da Escola de Veterinária, Renata Maranhão, não há precedentes para saber os efeitos reais nos animais. Mas ela acredita que o som alto vai prejudicá-los, sobretudo os de grande porte, que ficam em espaços abertos.

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Equipamentos são sensíveis a trepidação

O diretor e a vice-diretora da Escola de Veterinária falaram ainda que a trepidação gerada pelas obras, e posteriormente pela corrida, também colocam em risco os equipamentos da Escola de Veterinária. 

O custo estimado desses aparelhos é de R$ 40 milhões. Eles são bastante sensíveis e precisam estar calibrados corretamente para desempenhar bem sua função.

Um deles fica no Laboratório de Análise da Qualidade do Leite, que integra a estrutura da escola e que também foi visitado nesta sexta (24), e tem o valor de R$ 9 milhões.

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Ela ainda contou que o laboratório é credenciado pelo Ministério da Agricultura para fazer a análise do leite do Sudeste e Nordeste do Brasil. Ele é o único que faz isso em Minas Gerais. 

Outro ponto visitado pela comissão foi o Laboratório de Aquacultura, que conta com 27 mil peixes. Nesse caso, os professores também se preocupam com o barulho, em como a água pode potencializar o som.

A coordenadora do curso de Aquacultura da Escola de Veterinária, Cintia Nakayama, explicou que entre os peixes há o tambaqui, nativo da região amazônica, o qual é objeto de uma linha de pesquisa. Como contou, sua manutenção tem custo elevado.

"Não sabemos, por exemplo, se o barulho pode impactar e gerar estresse, comprometendo a reprodução do animal, que ocorre num período muito curto. Se isso ocorrer, compromete toda a pesquisa, que não vai ter o desempenho esperado. Então, o aluno de mestrado ou doutorado não consegue publicar seu estudo, por exemplo”, disse.

Falta de diálogo

O diretor e a vice-diretora da escola relataram falta de diálogo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em relação à corrida de Stock Car. De acordo com eles, em momento algum houve explicação sobre o que ocorreria e análise dos possíveis impactos.

Eles também se preocupam com a possibilidade de o local ser palco de outros eventos além da corrida, cujo contrato é de cinco anos, permitindo outras edições.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT), presidenta da comissão e que solicitou a visita em conjunto com a deputada Bella Gonçalves (Psol), disse que vai remeter o relatório da visita desta sexta (24) à PBH e aos organizadores e patrocinadores da corrida de Stock Car.

De acordo com ela, novamente haverá a recomendação de mudança de local para a realização do evento. 

A parlamentar disse que ficou impressionada com a proximidade entre o local onde será a pista e o Hospital Veterinário. 

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A visita integra uma série de ações da comissão para avaliar os impactos da corrida na UFMG. Já foram realizadas uma audiência sobre o assunto e uma visita ao Biotério Central da universidade.

Lista
Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia - visita à Escola de Veterinária da UFMG pra verificar impactos da corrida de Stock Car no Hospital Veterinário

Escola de Veterinária da UFMG recebeu visita da Comissão de Educação da Assembleia. Relatório com impactos da Stock Car será encaminhado à Prefeitura de BH TV Assembleia
Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia - visita à Escola de Veterinária da UFMG pra verificar impactos da corrida de Stock Car no Hospital Veterinário
“Com os estudantes também manipulamos esses animais que, submetidos ao barulho, podem se assustar e ter alguma reação abrupta, gerando risco para todos.”
Renata Maranhão
Professora da área de equinos da Escola de Veterinária
Levamos uma vida para conseguir esse equipamento. Ele é muito caro e sensível. Não sabemos qual poderia ser o impacto exato, que pode ir de uma descalibragem até uma avaria grave.”
Eliane Gonçalves de Melo
Vice-diretora da Escola de Veterinária
“Nós aceitaríamos uma corrida de carros ao lado do Hospital João XXIII? Ao lado do Hospital das Clínicas? Não. Então não faz o menor sentido a prefeitura e os organizadores ignorarem o complexo veterinário e o risco de morte que o empreendimento pode gerar.”
Beatriz Cerqueira
Dep. Beatriz Cerqueira

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